· capítulo único ·

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Minho acordou com um sobressalto, sem saber onde estava. O que, levando em consideração os últimos dias, poderia significar que estava em algum laboratório, ou morto.

Fez um movimento brusco para erguer-se e encostar na parede atrás de si, o que gerou uma corrente de dor em todo o seu corpo. Pelo menos isso o ajudou a se situar. O Deserto, a cidade devastada e infestada de cranks, Jorge e suas ameaças, o tunel, Thomas desaparecido... coisas demais para digerir.

E, é claro, sentia-se terrivelmente confuso. Nada em sua vida fazia sentido; duvidava se algum dia havia feito.

Encontrava-se em um pequeno depósito daquilo que Jorge dissera se tratar uma antiga loja de roupas. Mas como os cranks não deviam levar jeito para comércio, o lugar estava esquecido. Ainda assim, bloquearam todas as entradas, saídas e até as janelas que conseguiram, empilhando móveis, usando tábuas e barras de ferro que encontraram. Seria um aborrecimento quando fossem sair no dia seguinte, mas por hora era a única forma de obter alguma segurança, mesmo que precária. Precisariam parar em algum lugar de qualquer forma.

A loja tinha espaço suficiente para poderem dormir afastados um do outro, e o grupo já estava tristemente reduzido à essa altura.
Estava exausto e dolorido graças às queimaduras causadas pelo maldito raio. Pensou que não fossem incomodar, mas estava errado. Era uma sensação horrível, a roupa roçando na pele ferida, e fazia suas forças se esgotarem bem mais rápido do que deveriam, embora ele se esforçasse ao máximo para que ninguém percebesse. Assim que terminaram de fechar o lugar, entrou no depósito para poder descansar em paz.

Entrou sozinho, e deixou bem claro que não queria ser incomodado. Mas agora, havia uma outra pilha de roupas velhas no chão, muito próxima da que ele estivera dormindo.

Aquilo o irritou. Quem quer que fosse o engraçadinho iria levar uma bela repreensão. Não estava com humor para aturar ninguém por perto.

Minutos se passaram, e ouviu passos se aproximando devagar. Fechou a cara, já pronto para vociferar com quem entrasse.

Só não esperava que seria ele.

- O que está fazendo aqui? Eu disse que queria ficar sozinho - disse Minho, muito menos áspero do que pretendia.

- Que bom que acordou - respondeu Newt calmamente. Uma calma que surpreendeu Minho. Não achava que tal sentimento tivesse espaço (ou fosse sensato) no mundo em que viviam.

A rigidez e a ardência no corpo não lhe permitiam relaxar, e o estômago reclamava por comida.

Newt trazia duas latas apoiadas na barriga, um recipiente com água e toalhas nos ombros. Sentou-se à frente de Minho, um movimento tão casual que não pôde evitar rir.

- É como se fôssemos fazer um piquenique. Como se o mundo não fosse um grande hospício infernal.

- Essas pilhas de roupas são tão desconfortáveis quanto o chão da Clareira, mas é o melhor que temos em dias.

- Já encaramos coisas muito piores.

- Pois é - Newt encerrou o assunto.

Seguiram-se instantes longos demais de silêncio desconfortável. Minho queria falar alguma coisa, mas não sabia o que. Isso costumava acontecer quando ele e Newt ficavam sozinhos. Geralmente quebrava o silêncio com alguma piadinha ou comentário zombeteiro, e por mais que o outro sempre risse, Minho sempre se questionava se não soava idiota demais, ou se Newt o achava infantil demais.

Ainda em silêncio, Minho olhou para Newt, e se surpreendeu ao flagrá-lo já olhando, e imediatamente abaixando os olhos, as bochechas assumindo um tom rosado.

☁ won't leave you ☁ [ minewt ]Onde histórias criam vida. Descubra agora