A última carta

Capítulo 5

Véspera do Encontro.

Depois de tomar o café, fiquei pensando no que ia conversar com um menino que não conheço. Tenho péssimas experiências com encontros.
A última vez que sai, fui obrigada a ler as traduções das músicas da Adele, de tão sem assunto que eu sou. Mas ok.

-Lina, você acha que a mamãe nos deixou mesmo, ou acha que aconteceu alguma coisa?

Minha irmã perguntou do nada.

- Que tipo de coisa? Ela ter achado
alguma outra oportunidade de viver melhor? Famílias ficam juntas, e ela abandonou a gente.
- Eu tenho que te con..
- Contar o quê?- interrompi.
- Ah nada, era bobagem. Limpa essa cozinha pra mim, que eu preciso dar um pulo no banco.
-Ok.

Depois de ter limpado a cozinha, decidi começar a arrumar minhas coisas para me mudar na segunda.

Eu tenho muitas tranqueiras que só ocupam espaço, mas é incrível como não consigo me desfazer.

Eu ainda tenho a primeira boneca que meu pai me deu, esse é o único brinquedo que guardei, mesmo que a minha prima tenha rabisco ela inteira. Dessa boneca eu não posso me desfazer, ela me lembra de como o meu pai cuidava de mim, e de todos os momentos que tivemos.

Sabe, o meu passatempo preferido com ele era o mais clichê. Gostava de sair para andar. A gente ia conversando e rindo das nossas piadas sem graça, e no final sempre tinha um sorvete, mesmo que uma casquinha.

Depois da morte dele eu me senti como se nunca mais fosse ser feliz outra vez.

Ele sempre foi meu porto seguro.

Quando eu era pequena, gostava de subir no escorregador mais alto e ele sempre estava lá embaixo me esperando, pronto para me segurar.
E simplesmente numa questão de minutos, eu recebo a notícia de que ele nunca mais vai me esperar com os braços abertos, e eu também nunca mais subi num escorregador.

Uma foto nossa revelada e essa boneca é tudo o que eu tenho materialmente. Mas ele sempre estará no meu coração.
                              /-/
Quase terminando de colocar as coisas nas caixas e mochilas, decidi já arrumar a roupa que vou usar amanhã.
Achei que um vestidinho preto, uma meia fina preta e um sapatinho social ia ficar bonito. Quanto ao meu cabelo, vou deixar do jeito que está, e como sempre vou passar o meu batom de cor rosê. Ou seja, nenhuma novidade por aqui.

Eu espero que pelo menos a banda que irá tocar amanhã, que por sinal eu nem conheço, faça valer essa noite.