Eu não passava de uma criança na época, vivia com meus pais e irmão em uma casa comum em meio a uma vizinhança agradável, meus pais nunca tiveram problemas com nenhum vizinho, muito menos eu, até por que não falava com nenhuma outra criança da vizinhança, eu era o tipo de garota fechada, só mantinha contato com meu irmão mais velho, Brendon, o qual eu sentia que realmente me entendia, por mais que me assustasse as vezes.Brendon sempre se manteve presente desde que me conheço por gente, ele não era de muitas palavras mas mesmo assim eu sabia tudo sobre sua vida, por mais que ele não me contasse eu sabia, quando ele resolvia falar comigo, aquele sim era um momento estranho, meu corpo nunca reagia de uma forma normal, eu já estava acostumada com o silêncio e os olhares fixos e sarcásticos para mim, que quando ele resolvia dirigir a palavra para mim era como se fosse outra pessoa no lugar do meu irmão. Brendon nunca se deu bem com os meus pais ou pelo menos eu acho isso, não lembro da última vez de vê-los conversar, sempre que eles entravam em um cômodo Brendon saía, mas quando ficava, quando Brendon permanecia no mesmo cômodo que nossos pais eu via o ódio nos seus olhos, na sala de jantar em meio a janta, ele mal conseguia comer, Brendon não desviava o olhar dos nossos pais, os quais se faziam de despercebidos, eu sentia que Brendon realmente os odiava.
Em algumas noites eu conseguia ouvir Brendon chorar na cama de cima, eu não sabia o motivo, mas isso me fazia chorar também. Outras noites eu via Brendon sair de casa, eu corria rapidamente para a janela do nosso quarto, a qual dava para a frente da casa, dela conseguia ver todo o percurso dele... Eu não entendia como, nem por que, mas muitas vezes podia ver Brendon arrastar os animais da vizinhança para o nosso galpão e lá martelar suas cabeças até a morte. Outras vezes apenas ficava fumando em cima de uma pedra que temos no quintal.
Brendon me assustava, mas nem tanto, eu conseguia sentir os reais motivos dele para fazer aquilo, por mais errado que parecesse eu pensar assim, por mais que eu odiasse o jeito que ele me olhava eu conseguia sentir falta quando não acontecia, por mais desconfortável eu me sentisse quando ele falava comigo, eu conseguia me sentir pior quando ele não o fazia. Eu amava Brendon, eu não o queria longe, é como se ele fosse minhas pilhas e meu porto seguro.
Lembro de uma vez em que meu coração foi totalmente partido por Brendon, eu estava brincando no jardim, quando encontrei um esquilo, o qual me cativou por completa, lembro de ter passado horas olhando para ele e jogando sementes as quais ele comia, infelizmente chegou a hora do café, eu só consegui comer o mais rápido possível, pois queria voltar logo a brincar com meu novo amigo, terminando de comer corri rapidamente para o quintal, chegando lá me deparo com meu irmão, com as mãos cheias de sangue, me olhando e sorrindo. Em uma de suas mãos havia o corpo do pobre esquilo, na outra sua cabeça. Eu chorei toda aquela noite.
Brendon não era do tipo lunático, muito menos do tipo bobo, Brendon era muito esperto, não aparentava ter medo de ninguém nem de nada, na verdade Brendon não aparentava nada, Brendon somente era neutro, inteligente e dedicado, por que eu digo isso ? Porque Brendon sabia o que dizer sempre. Uma noite estava sentada na calçada da frente observando as outras crianças brincarem, quando ele se aproximou de mim, sentou do meu lado e disse;
- Você tem vontade de estar entre eles, não tem ? você não vê o quão idiotas essas crianças são?
No momento eu achei que só fosse um momento de consolo, que ele estava falando bobagens para me agradar, e que sim, eu precisava socializar com as outras crianças.
Do outro lado da rua uma das crianças põe o pé para outra cair.
- Eu sei do que falo, eles não respeitam nem a sí mesmos.
Brendon se levantou e se dirigiu até nossa casa.
Brendon me protegia, até quando não estava ali fisicamente eu sabia que ele me protegia.''
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Inside
Детектив / ТриллерTudo que eu odiava Brendon destruía, e tudo que eu amava também.