As rosas daqui de casa nunca conseguem florescer, ou quando florescerem morrem rapidamente, sempre me perguntei o motivo disso acontecer.
Eu estava sentada na varanda de casa observando o jardim enquanto esperava meu pai para me dar uma carona até a escola. Como sempre eu estava adiantada, eu gostava desse tempo que tinha sozinha, conseguia ver as flores e grama ainda com uma leve camada de geada por cima, a neblina ainda existente em frente ao sol vívido de uma manhã, era minha hora favorita do dia.
Mais cedo saí do quarto com muito cuidado para não fazer qualquer barulho que pudesse acordar alguém, isso com certeza estragaria a magia do meu início de dia, era satisfatório ter a casa só para mim, nem que fosse somente por meia hora, essa meia hora era o momento em que só havia eu e meus pensamentos, nada para colidir no caminho, sem os olhares do Brendon, sem discussões dos meus pais, somente eu. Mesmo sendo uma adolescente de dezesseis anos eu ainda havia de dividir meu quarto com meu irmão, a sensação de não ter um lugar só meu me corroía todos os dias.- Lia, já está pronta ? - meu pai perguntou de dentro da casa.
- Sim - respondo enquanto me levanto.
Ele saiu pela porta todo sem jeito arrumando sua gravata.
- Vamos indo, hoje tenho três clientes só para a parte da manhã - Ele murmura enquanto se dirige ao carro.
O carro do papai cheirava a colônia barata e xampu genérico, não lembro de entrar nele sem embrulhar meu estômago, por mais nostálgico que sejam esses cheiros. Meu pai sempre está enrolado com sua vida, mesmo que esteja tudo calmo ele consegue achar uma maneira de complicar as coisas para sí, penso muito que ele precisa de férias, talvez lidar com pessoas que sofrem de distúrbios psicológicos cause certos danos até mesmo para quem os trata. Será que psiquiatras também precisam de psiquiatras ?
- E aí? Vai ter algo de interessante na escola hoje ? - Ele quebra o silêncio.
- Acho que não, o de sempre... - Eu realmente esperava que não fosse o de sempre, já não aguentava mais aquela escola.
- Vai precisar de carona de volta para casa ? Eu posso pedir para sua mãe te pegar na saída, pois não sei se vou poder sair do consultório para almoçar, hoje o dia vai ser puxado. - ele continuava concentrado no trânsito enquanto falava comigo.
- Está tudo bem, posso voltar de ônibus mesmo. - Queria saber como ele conseguia dirigir com o sol contra os óculos sem o incomodar.
Chegando na escola meu pai se despediu rapidamente e seguiu seu trajeto diário.
Aqueles corredores ecoavam as vozes alheias como se todos falassem em um megafone, por mais que fosse possível ouvir fragmentos de conversas era muito difícil de entender o contexto de qualquer assunto.-Tá perdida ? - Andy sussurrou em meu ouvido.
- Todos os dias, todos os segundos - Respondi sorrindo.
- Idiota.
Andy era meu melhor amigo, acho que era o único que conseguia me divertir de verdade, o tipo palhaço, sempre fazendo piada com tudo e com todos.
- Vamos lá, "Cole Sear", me conta, como foi teu final de semana ? - Andy falava enquanto caminhava de costas.
- Cara, um saco! Passei o final de semana todo trancada dentro de casa com meus pais discutindo.
- Algo relacionado ao seu irmão ? - Andy já havia esbarrado em umas duas pessoas.
- Nem... Algo sobre o trabalho do papai. Eles nem ligam para o que o Brendon faz.
- E você...- Andy esbarrou em um dos garotos do futebol.
- Olha por onde tu anda, sequela. - o garoto diz enquanto empurra Andy do caminho.

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Inside
Mistero / ThrillerTudo que eu odiava Brendon destruía, e tudo que eu amava também.