No seu olhar

PARTE 1 - CAPÍTULO 1

Trilha sonora: Breakaway, Kelly Clarkson

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O dia hoje vai ser tumultuado, são muitos detalhes para arrumar: verificar malas, itens que eu não posso esquecer...

Estava ansiosa, nervosa, eufórica, uma mistura de sentimentos, pois uma nova etapa da minha vida começaria. Não que eu ansiasse por alguma mudança, minha vida era muito boa. Tinha problemas, claro, como todo mundo, mas tudo parecia estar bem. Meus pais estavam felizes pelas minhas conquistas, havia passado em segundo lugar no vestibular, meu namorado há dois anos, Jeremy, eu o amava, e ele me apoiava.

Passaria os próximos quatro anos da minha vida em outra cidade, e isso não parece nada bom para um relacionamento, mas estávamos seguros de que tudo daria certo. Assim eu pensava. Já tinha um apartamento alugado e moraria com minha prima Victória, o lugar era bom e num bairro próximo ao campus onde estudaríamos.

Minha mãe não era de chorar à toa, me deu um abraço, sabia que ela confiava em mim, mas, mesmo assim, pude sentir em seu olhar que ela estava com o coração apertado e, claro, não deixaria que eu percebesse. Disse apenas para eu ter cuidado, e eu assenti com a cabeça. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não as deixei cair, ficando apenas minha vista embaçada.

Despedi-me de Jeremy, que estava em pé, com as mãos em minha cintura. Fiquei olhando para aqueles olhos castanho-claros e para o seu rosto tão lindo... e sério. Senti uma tensão em seu olhar. Ele estava triste, eu sabia, eu também estava. Afinal, nesses dois anos de namoro, sempre moramos na mesma cidade e, apesar de uma briguinha ou outra, nós nos dávamos bem, tínhamos um relacionamento bem tranquilo.

Meu pai me levou. Não foi uma viagem muito longa, mas um milhão de coisas passavam pela minha cabeça e, em meu estômago, reviravam borboletas. Como seria tudo? Como seriam as pessoas por lá? Dizem que a graduação é um divisor de águas em nossas vidas, é quando abrimos nossos horizontes e amadurecemos também. Minha mente parecia um turbilhão, um pensamento nem mesmo finalizava e outros já tomavam conta, como se uma multidão de pessoas estivesse tentando falar ao mesmo tempo na minha cabeça, gerando um tumulto.

Respirei fundo, enchendo de ar os pulmões e tentando desacelerar meus batimentos cardíacos. "Chegamos", disse meu pai. Era um prédio enorme e bonito. Vi outros estudantes que chegavam, parecia comum que estudantes de outras cidades ficassem nesses prédios próximos ao campus. Minha respiração estava ofegante, era o primeiro dia de uma nova fase. Eu moraria longe de casa, dos meus pais... Tinha uma sensação de responsabilidade aumentando... Eu gosto de mudanças, mas não posso negar que elas assustam e, naquele dia, eu não imaginava que muito ainda estava por vir.

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Minha prima Vick já havia chegado um dia antes, abriu um sorriso quando me viu, e eu retribui, estava feliz que ela estava ali. Nossa relação era muito boa, e eu gostava da sua companhia, apesar de ela ser mais reservada. Eu sempre fui mais falante e extrovertida, ela era do tipo confiável, de poucas palavras, mas eu sabia que podia contar com ela.

— Você viu a vista daqui de cima? — perguntei, entusiasmada.

Ela disse que sim. Dava para ver parte da cidade, e o sol, quase se pondo, fazia uma paisagem perfeita vinda da janela. Ela me mostrou o apartamento, estava rindo e mostrava com certa empolgação cada cômodo, até que chegamos aonde seria meu quarto. Sim, eu tinha um quarto, e ela outro.

Parei na porta, mirando aquele cômodo, tentando imaginar uma forma de deixá-lo mais parecido comigo. Tinha uma cama de casal, uma cômoda no canto, uma mesinha de estudar com um pequeno abajur, as paredes eram brancas e pareciam tão sem vida ainda. Fui arrumando as minhas coisas e, aos poucos, deixando com a minha cara.