CAPÍTULO 3

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Música do capítulo: You and Me, LifeHouse.

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Lipe

O despertador tocou, e acordei assustado. Bati a mão, tateando meu criado-mudo, tentando achar o botão de desliga. Meus olhos pesavam de sono... Jurava que tinha acabado de fechá-los. A noite passara literalmente num piscar de olhos. Pousei as mãos sobre a testa, para pensar se tinha mesmo que me levantar... mas não tinha opção, hoje era o primeiro dia de aula na universidade. Joguei meu edredom em cima da cabeça... "Vou ficar mais cinco minutinhos", pensei. A porta do quarto abriu com tudo... Emily entrou e pulou em cima da cama com todo entusiasmo que uma criança de dez anos pode ter.

— Acorda, Lipe! — veio ela, puxando meu cobertor. — O café está na mesa, você não vem? — perguntou deitada ao meu lado, virada para mim, com a cabeça apoiada nas mãos e o cotovelo na cama.

Quem resistiria àquele rostinho angelical? Seus cabelos loiros eram tão lisinhos que caíam na frente dos olhos, que pareciam duas esmeraldas. Olhei para ela com cara de quem iria aprontar... E ela, sabendo o que estava por vir, arregalou os olhos e um sorriso, mostrando seus dentes perfeitos, e começou a gritar. Dei um pulo na cama e comecei a fazer-lhe cócegas. Ela disparou uma gargalhada e começou a gritar por socorro. Depois de se debater e tentar fugir, escorregou pela cama e saiu correndo, rindo vitoriosa por ter escapado.

"Esse despertador é infalível", pensei, levantando-me e ainda sorrindo pela contagiante gargalhada da minha irmã. Fui tomar uma ducha e lembrei-me de que ainda daria carona para o Fernando.

Eu o conheci há umas semanas quando estava fazendo a matrícula para o curso de arquitetura. Trocamos uma ideia na sala de espera, e logo percebi que o cara era gente fina. Contou-me que estava procurando apartamento para dividir, e eu disse a ele que um amigo meu, o Lucas, estava precisando de mais uma pessoa para rachar o aluguel e que, se tivesse interesse, eu poderia apresentar os dois. Ele topou, e o lance deu certo: eles se acertaram, o Fernando veio uns dias depois para trazer suas coisas e ficou na cidade desde então.

Durante as semanas que se passaram, saímos para curtir a noite, o Lucas e eu apresentamos alguns lugares e baladas que costumávamos frequentar. Fernando logo se adaptou. Ele era muito falante e se enturmava rápido. O Lucas fazia engenharia, estudei com ele na época do Ensino Médio. Éramos amigos de longa data e por isso sabia que eles se dariam bem também. Nas baladas, Lucas ia embora cada noite com uma menina diferente. Muitas vezes ele nem lembrava o nome delas. Era o "pegador" da turma, lembrei-me, rindo do título que ele mesmo se dera. Ele se gabava da quantidade de conquistas.

Eu não sou como o Lucas. Não sou nenhum santo, nem de longe, eu sei... Mas costumo olhar com calma, chegar, analisar as possibilidades, como se estivesse "escaneando" o lugar, e investir onde acho que vale a pena. Não para namorar, mas para ter uma noite agradável e poder lembrar pelo menos o nome da pessoa no dia seguinte. Até porque, namoro mais sério mesmo, eu nunca tive, nunca gostei de ninguém a esse ponto. Curtir o momento me parece bom o bastante.

Interrompi meus pensamentos quando meu pai bateu à porta do quarto. Saí do chuveiro com pressa, enrolei a toalha na cintura e sacudi a cabeça para tirar o excesso de água do cabelo. Ele veio me avisar que a revisão do meu carro já estava vencendo e me pediu para eu não esquecer de levar o carro na concessionária depois da aula. Concordei com ele e fui em direção ao meu armário para pegar uma roupa. Vesti uma calça jeans, uma camiseta branca e um tênis. Olhei para o espelho, até que estava apresentável. Sacudi a toalha terminando de secar o cabelo, dei uma ajeitada com as mãos mesmo, passei um perfume e desci para tomar um café.

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