.2.

124 18 20
                                    

A parte difícil não foi subir seis lances de escada carregando o dobro do peso porque o elevador estava em manutenção, nem foi ter que pegar as chaves usando apenas uma mão. O difícil mesmo foi criar coragem para colocar o objeto na fechadura e abrir a porta sabendo da possibilidade de ser espancado por um namorado enfurecido ou ter outro vaso de plantas arremessado contra mim.

Mas, para minha sorte, o apartamento se encontrava totalmente escuro e silencioso, o que denunciava a ausência de Jimin. Eu sabia que ele tinha o costume de deixar pelo menos uma luz ligada enquanto dormia.

-Demos sorte, não iremos morrer hoje.

O garoto continuava encolhido em meus braços, apenas com a o diferencial de estar mais calmo. Talvez tivesse notado que eu não era uma ameaça.

O levei até o quarto ao lado do meu, que era mais como  um quarto de hóspedes -ou até mesmo depósito- por não ser usado frequentemente. Não me importei muito ao colocá-lo na cama e ver um pouco do seu sangue sujar o lençol, eles estavam empoeirados e precisavam ser limpos de qualquer forma.

Minha cabeça agora se ocupava em pensar no que fazer com aquele ser, que olhava ao redor e de vez em quando cheirava a manta que enrolava seu corpo. Uma cena que seria fofa se eu não soubesse que o protagonista dela estava machucado e nem meu conhecido era. E, afinal, quem seria conhecido de uma pessoa dona de escamas de peixe no corpo? 

O maior problema naquele momento era que minha salvação provavelmente estava em seu décimo sono, aproveitando uma das poucas folgas que tinha em seu árduo trabalho em um dos hospitais mais importantes da cidade, e não ficaria nada feliz ao ser acordado às três da manhã. Peguei meu celular e ponderei durante alguns segundos se devia chamar meu querido amigo ou arriscar e fazer um curativo improvisado na perna da pessoa que agora me olhava atentamente, me deixando levemente constrangido por estar sendo observado. Para quem não consegue sequer colocar um band-aid direito, a primeira opção sempre será a mais válida.

Logo eu já estava com o celular na orelha, ouvindo o "tu tu tu", e, em seguida, um "alô" sonolento.

-Seokjin, sou eu, Jungkook. Eu... preciso da sua ajuda.


-Como assim você trouxe um desconhecido pra casa?!

-Fala baixo, vai assustar ele, idiota!

-Você fala como se ele fosse uma criança!

O garoto encolhido na cama olhava para nós dois como se fossemos aliens. Não era para menos, Seokjin conseguia ser bem escandaloso quando queria. Mesmo depois de seis anos de amizade, continuávamos os mesmos, mais maduros apenas.

E mais cansados.

A prova disso foram as reclamações por parte de Jin sobre estar tentando descansar e os tapas que eu levei quando ele chegou em minha casa. Não é muito recomendável acordar Kim Seokjin em seus dias de folga.

-Porque ele está fantasiado de peixe? -Perguntou, com o olhar direcionado para as canelas do outro. 

-Não é uma fantasia. -Suspirei -Isso é de verdade, esse é o problema.

Jin olhou para mim, olhou para o garoto e, por fim, encarou o chão. Achei que ele fosse gritar, chamar a polícia ou sair correndo do quarto em meio a uma crise existencial. Mas ele só virou para mim e riu como uma porta com as dobradiças enferrujadas.

-Você acha que eu vou cair nessa Jungkook? -Deu tapinhas no meu ombro, ainda rindo -Muito bom, mas não foi dessa vez.

-Jin, eu não tô brincando.

-Ah, qual é! Eu não sou idiota ao ponto de acreditar que ele é um tritão ou algo assim e...

-Seokjin, tô falando a verdade! -Falei do modo mais sério possível. Caminhei até a cama e descobri a perna machucada da criatura -Vai dizer que isso é piada também?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 09, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

ocean boy {vkook}Onde histórias criam vida. Descubra agora