Manuela
Julia tinha ido ficar com a avó naquela sexta-feira e levou nossa cadelinha pipoca me deixando completamente sozinha e solitária.
Eu e Pedro já estávamos separados há seis meses, mas os seis antes dele sair de casa foram péssimos, eu não reconhecia mais o meu Pedro, talvez nem eu fosse mais a Manuela que ele conhecia.
Eu precisava reagir e parar de ficar me martirizado por tudo que aconteceu, a culpa não foi minha, pelo menos parte de dela não foi.
Fui para cozinha preparar algo para comer eu não podia ficar sem me alimentar ou ficaria doente e isso era algo fora de cogitação principalmente causa de Julia.
Lembrei das inúmeras vezes que ele e eu cozinhamos juntos ou que um dos dois cozinhou para o outro, lembro do nosso primeiro jantar de casados ali, naquela mesma cozinha apertada, lembro que passamos diversos momentos ali naquele lugar onde eu estava naquela momento sozinha.
-Pê!
-Oi, o que foi?
-Estou morrendo de fome. -Falei sorrindo me jogando sobre ele no sofá.
-Quer sair pra jantar fora? - Ele perguntou me encarando com os olhos pedindo secretamente para que eu dissesse que não. Ele estava cansado e sair para jantar mesmo que na esquina de casa seria mais um desgaste, mesmo assim ele me perguntou o que eu desejava porque no final ele sempre fazia o que eu queria.
-Não, você está cansado e eu também. -Falei o abraçando enquanto sentia ele acariciar minhas costas com a ponta do dedos.
- Eu vou preparar o melhor omelete para nós. -Falou me dando um selinho e se levantando.
Enquanto ele cortava o presunto em cubinhos eu o abracei por trás e beijei o meio de suas costas, eu amava o cheiro dele e o calor natural da sua pele.
- Eu te amo! - Falei apertando o abraço.
- Eu também! -Ele falou me girando e me prenssando entre ele e a pia. -Amo muito , linda!
Eu amava quando ele me chamava assim. LINDA. Ele raramente me chamava pelo meu nome ou mesmo de Manu, quase sempre era Linda e ele era sempre o meu Pê.
-Tem certeza que você está com fome? -Falou enquanto beijava meu pescoço. - Nós podemos subir e...
- Sim, estou com muita fome! - Falei sorrindo o empurrando. -No momento eu preciso de comida.
Ele gargalhou e beijou minha testa.
-Menina esfomeada! -Me disse sorrindo.
Lembrar de momentos como aquele estava sendo inevitável. Eu morria de saudades da nossa convivência, das brincadeiras, de nossas crises bobas de ciúmes e de tudo que construímos juntos. De repente minha vida não parecia minha e tudo que era meu estava distante.
Mamãe e papai foram morar no interior, Meu marido tinha ido embora, minha filha estava dividida entre nós dois, Charlotte mesmo sendo minha melhor amiga sempre pendia para o lado do irmão, Bianca estava tão preocupada com os preparativos do seu casamento que mal nos falávamos fora do escritório. Tudo estava ruindo e eu realmente não fazia ideia de como concertar minha vida.
Pedro
Esqueci minhas chaves em casa, minha mãe havia ido passar o final de semana na casa uma de minhas tias e levou Julia e Pipoca com ela. Eu realmente estava sem saber como entrar em casa, a menos que arrombasse a porta.
Foi então que me lembrei que minha ex-esposa tinha uma chave da casa de meus pais. Eu não queria incomodar, não queria na verdade ter que pedir um favor a ela, mas eu precisava.
Dirigi até minha antiga casa e uma sensação nostálgica me atingiu como se aquele lugar fosse realmente meu lar.
Toquei a campainha e não demorou muito ela abriu a porta ainda mais linda do que eu me lembrava que ela estava naquela manhã. Estava sem nenhuma maquiagem e o cabelo preso num coque bagunçado no alto da cabeça, vestia calças moletom e uma camiseta preta, ela estava bem mais magra, mas ainda assim linda.
-Oi, Boa noite! - Falei enquanto ela me olhava surpresa.
- Boa noite! Aconteceu alguma coisa?
-Não... Quer dizer, esqueci as chaves em casa e...
-Precisa da reserva da casa de seus pais, pode entrar eu buscar lá em cima.
Um dos fatos que fez eu me apaixonar por ela foi justamente sua inteligência, Manuela capitava as coisas no ar tinha o raciocio lógico e rápido, ela era incrível!
Não pude evitar de notar que a sala de estar ainda era a mesma de sempre, extremamente limpa graças a sua mania por limpeza, tudo muito organizado, estava tudo praticamente igual com exceção dos porta-retratos com nossas fotos que não estavam mais no aparador da estante e nem nas paredes do corredor, além dos brinquedos da Julia que não estavam jogados pelo chão como sempre estavam todo final de noite enquanto um dos dois cozinhava e o outro arrumava a casa antes de ir para o culto.
Sorri ao lembrar de quando conseguíamos jantar, nos arrumar e chegar no horário para o culto, às vezes, na maioria delas chegávamos 15 ou 20 minutos depois.
-Aqui! -Ela falou estendendo as Chaves em minha direção.
-Obrigado! - Falei.
-Por nada, na verdade pode deixar essa cópia com você eu acabei esquecendo de devolver. -Falou sem me encarar.
-Tudo bem, fique com Deus! - Falei me virando para sair.
CONTINUA....
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Restituição
EspiritualUm casal de melhores amigos juntos por 8 anos viu o casamento de 6 sendo destruído. Não houve traição, mas do dia para noite não se encaixavam mais e foi o fim para jovem casal pais de uma pequena princesa de 3 anos de idade. Manuela acredita que...