É assim.

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"E ele"

E mais uma vez, aterrorizada. Os pequenos fios de luz atravessavam o estoire da janela, e tocavam o meu corpo uniformemente, indicando que já era dia, e que logo, minha mãe me despertaria para ir para a escola, o que me deprimia.

Em poucos segundos, pude ouvir as batidas dos saltos baixos da minha mãe sobre o chão, indicavam que ela se aproximava. - Anne minha filha, já está na hora- Disse ela, em tom baixo abrindo a porta, e revelando a forte luz do sol que a janela dava passagem. Me virei para o lado escurecido do quarto, e franzi o cenho, triste. Um grunhido baixo saltou dos meus lábios, estava sofrendo, e mal havia começado o dia.

Me levantei com custo, e calcei as pantufas quentes de inverno que tinha do lado do criado-mudo. Estávamos em tempo de verão, mas eu tinha grande afeto por elas. Nem sequer um passo dei, e bati a cabeça contra a prateleira que ficava em cima da cama. Dei um berro de dor e me contorci em cima da cama com as duas mãos na cabeça. - Any, o que foi isso?!- Gritou a minha mãe de longe. Apenas choraminguei e deitei de braços esticados na cama e suspirei.

Levantei o estoire da janela, e me preparei para me arrumar.

Por mais que quisesse, não podia manter minha cara de tristeza perto de minha mãe, ela não podia saber que eu tinha problemas na escola, tinha demasiados problemas no trabalho, seria um grande choque para ela. - Anda tão triste... Aconteceu algo que eu deva saber? O que foi dessa vez? - Questionou a minha mãe, sentando-se na cadeira em minha frente com um prato na mão. Abaixei a cabeça surpresa por ela ter reparado, e coloquei a colher de cereais na boca, ganhando tempo para pensar em uma desculpa.
Ela já me pegou com esse ânimo algumas vezes, e sempre tive desculpas boas para dar, mas já havia repetido as mesmas muitas vezes, precisava de algo novo. Ela permaneceu me encarando com uma expressão desapontada no rosto.

Me desesperei. Algo precisava sair. Engoli em seco, e disse a primeira coisa que me vinha na cabeça, algo que certamente deixaria ela feliz o resto da semana. - É que... Penso que o meu... namorado vai mudar de escola, e estou triste por isso...- Disse entre risos nervosos. Ela sorriu aliviada e suspirou. - Ahh que alívio, pensei que era novamente alguma doença, ou pensei que pudesse estar com problemas na esc... Espera, um namorado?!- Exclamou ela entusiasmada. Num pulo ela se levantou, e veio em minha direção, me envolvendo com os braços. Ela sorria genuinamente.
Eu sorri com ela, fiquei feliz, pela felicidade dela. - Pois traga-o aqui, nesta semana. Quero conhece-lo!- Disse ela, levando o prato para a pia, ainda empolgada. Meu sorriso caiu rapidamente, e senti minha voz falhar. - A..ah.. c-claro! Digo, amanhã ele vem aqui..- QUE MERDA EU ESTOU FAZENDO? Eu realmente tenho um péssimo problema com mentiras, meu cérebro quando estou nervosa não funciona.

Ela soltou um gritinho de felicidade e beijou a minha testa, se despedindo. Sorri para ela, até que ouvisse a porta da entrada ser trancada. Assim que ela saiu, bati a testa na mesa, e soltei um suspiro.

- O que eu fui fazer...-

Definitivamente, um alien.Onde histórias criam vida. Descubra agora