31 de outubro

Ainda eram 4 da tarde e a campainha do meu apartamento já estava a tocar. Não haveria dúvida de que seria a minha adorável irmã Ashley com a sua euforia previsível pré-festa. Apesar de ser apenas uns meses mais velha que ela por vezes sinto que estamos a léguas de ter a mesma idade, mas talvez seja só porque a minha irmã adora ter a cabeça na lua e eu prefiro a estabilidade de sentir o chão na sola dos pés. Somos diferentes, mas não vivemos uma sem a outra. Como a unha e a carne, dito de forma popular.
Apesar de notar a felicidade e entusiasmo na cara da minha irmã, havia algo que ela me escondia, os seus olhos não mentem, e quando tentam eu descubro.
Fechei a porta após a entrada derrompante da Ash e acompanhei-a até à sala.

- Entããão, estás preparada para a festa do ano?! O Dave disse-me que o irmão lhe deu a entender que esta iria ser para lembrar até não termos dentes e andarmos de bengala! - Disse Ashley, convicta de que desta vez esta iria MESMO ser a festa do ano, mesmo que isto aconteça antes de todas as festas a que ela me decide convencer a ir.

- Sim, estou extremamente radiante...vais mascarar-te de quê Ash? - Tentei fazer conversa.

- Oh meu deus estava a ver que não perguntavas porra! Eu, Ashley Cooper, vou mascarar-me de Noiva Zombie! E saaaabes qual o disfarce do Dave? - A satisfação era clara na sua voz.

- Ahm, aposto que poupou bastante dinheiro...com aquela cara certamente não comprou nada. - Disse, com o intuito de picar a minha irmã.

- Uau Jany que engraçadinha, obviamente vai de noivo zombie! Então mas e tu?? Qual o teu mega disfarce de Halloween?

- Eu hei-de pensar em algo, ainda faltam umas horas...

Ashley saltou de alegria e disse que tinha de começar a despachar-se. Agarrou no telemóvel, ligou ao Dave e saiu pela porta fora como se a coisa mais importante da vida dela naquele momento fosse aquela estúpida festa.
Eu não sabia mesmo o que haveria de arranjar para me mascarar então simplesmente peguei no meu casaco de capuz preto, as luvas de motoqueiro do meu "ex-namorado", bordei um A a vermelho no lado esquerdo do peito e, devido ao meu vício em Pretty Little Liars decidi juntar-me à Team A por uma noite.
Só dessa maneira poderia passar despercebida e evitar contacto com pessoas indesejadas.
Para completar o meu outfit improvisado peguei numa daquelas mascaradas do teatro brancas e mandei uma sprayzada preta para cima dela, com o intuito de me parecer ainda mais com a verdadeira Alex Dilaurentis.
Olhei ao relógio e eram 19:30, pelo que pus o telemóvel no bolso, calcei as minhas vans pretas e saí de casa.
Cheguei à escola e a festa estava ao rubro. Ouvia-se a música ao entrar no portão e o volume aumentava quando nos aproximávamos do Pavilhão de educação física.
Cumprimentei o rapaz que estava a receber os alunos e infiltrei-me no meio daquela multidão, na esperança de encontrar a minha irmã.
No meio dos olhares com que tentava penetrar os espaços entre as centenas de pessoas que ali se encontravam, peguei num copo de Bacardi Cola e comecei a andar lenta e discretamente como um verdadeiro membro da Team A faria.
Passado uns minutos sinto alguém abraçar-me por trás e viro-me imediatamente.

- OLÁ MANA, ESTAVA A VER QUE NÃO TE ENCONTRAVA, OH MEU DEUS QUE MÁSCARA À MANEIRA, PARECES UMA AUTÊNTICA ALEX!!!

A minha irmã também via PLL por minha causa, e fiquei contente pela sua reação ao meu fato improvisado.
Agradeci-lhe o elogio, retribui e fomos as duas buscar bebidas.
Dave apareceu, cumprimentou-me e levou a minha irmã dali sem que esta tivesse terminado o seu copo.
Mesmo no meio da confusão sinto o meu rabo vibrar.

1 nova mensagem

Dylan O': estás onde Jane?

Pousei o copo, sem reação.
Depois de desaparecer misteriosamente do mapa e cortar contacto manda-me uma mensagem destas como se nada se tivesse passado. Sem justificações, sem pedidos de desculpa, nada. E por essa mesma razão não respondi àquela estúpida mensagem.
A música estava uma lástima, o ambiente não me agradava e a maior parte dos grupinhos estava mais entretido a fazer instastories do que a divertir-se verdadeiramente.
Posto isto, decidi pedir uma Vodka Cola e ir embora. Decerto muitos canais televisivos tinham excelentes filmes de terror programados para hoje.
Depois de avistar muitos ovos esbarrados contra as casas e vivendas cobertas em papel higiénico finalmente cheguei à porta da minha casa, também vítima de tudo o que vi no caminho.
Mal pus a chave na fechadura senti uma mão no ombro.

- Ouve, desculpa. - Era Dylan.

- O que é que estás a fazer aqui?!- Disse, assustada e surpreendida.

- Eu não quis ficar este tempo todo sem falar contigo, eu simplesmente não pude...por favor não fiques chateada comigo. - Ele parecia estar a ser sincero.

- Tudo bem, por mim está tudo bem, a sério. Estranhei a tua ausência, mas não faz mal, eu percebo.

Na verdade não percebia. O que é que ele quis dizer com "Não pude"? Não tinha saldo, partiu as mãos, foi ameaçado de morte?...
Mas decidi que não queria massacrar-me com isso, então decidi ignorar.

- Tens planos para hoje? - Senti-me obrigada a quebrar o silêncio.

- Não, tinha. Quis vir ter contigo, já que decidiste não me responder à mensagem. Por isso, planos cumpridos! - sorriu - e tu?

- A minha irmã convenceu-me a ir àquela festa ridícula, sem ofensa para a tua turma, mas decidi voltar para casa e ver filmes de terror até o sono chegar. - Expliquei, de modo a parecer mais entusiasmada do que realmente estava.

- Sounds like something i would do! - afirmou O'brien.

Antes que pudesse dizer algo o meu telemóvel vibrou de novo.
Era Ashley. Outro ataque de pânico.
Tive a sorte do Dylan ter a mota com ele e levou-me até à escola, pelo que tive de inventar a desculpa de que me tinha esquecido das minhas luvas na festa em cima de um balcão.

Cheguei ao balneário feminino e lá estava Ashley, a tremer, abraçada aos joelhos, no chão.
Dave tinha andado a trocar mensagens com uma rapariga da turma dele, daquelas um pouco estranhas para alguém comprometido e Ashley não aguentou essa descoberta.
Passado uns belos 25 minutos consegui que a minha irmã se acalmasse e Dave levou-a a casa e consigo apostar o dedo mindinho do pé em como houve sexo de reconciliação e ficou tudo bem.
Eu, depois de ter tirado as luvas, que supostamente me tinha esquecido, do bolso direito dirigi-me ao portão onde Dylan me esperava sentado no passeio ao pé da sua mota. Olhou para mim e expirou ar pálido devido ao frio que o inverno de outubro nos dá.

- Então, encontraste?

- Yap, aqui estão elas! Obrigada por me teres trazido cá, mesmo. - olhei para o chão, depois de fazer contacto visual com o meu cunhado.

- De nada. Põe o capacete.

Fiz o que me ordenou e ele ligou a mota e fez-me sinal para me sentar.
Sentia-nos mais próximos do que quando viemos até à escola, mesmo que a distância do meu tronco ao dele, preso nos meus braços, fosse a mesma. Mesmo que não tenhamos partilhado mais nada acerca um do outro durante aquele tempo. Mesmo que nada tivesse mudado, parecia que tinha.
E a mudança, pela primeira vez em muito tempo, fez-me sentir bem.

Chegamos a porta da minha casa, acenei a Dylan, agradeci e virei as costas à minha boleia.

Entrei em casa e quando pus as mãos nos bolsos senti algo num deles. Tirei de forma a conseguir perceber o que era. Um pedaço de papel.

"Eu sei que não te esqueceste das luvas na festa, vi-te a fechar o bolso à porta de tua casa. Não precisas de te preocupar, a gasolina gasta não foi muita. xD
Tinha saudades tuas.
- Dylan"

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@marvinsroomdrake

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2018 ⏰

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