1 0 0
                                    

28 de Outubro.

Está frio e a escola está praticamente deserta no seu exterior.

Eu sinceramente aprecio andar à volta dos edifícios quando o tempo está assim ou chuvoso.

São 10 da manhã e a minha professora de História decidiu faltar, o que sinceramente me agrada. A minha irmã tem estado ausente e feliz, consequência do seu namoro com Dave, irmão emprestado de Dylan, que não fala comigo há um mês e tal.

Sim, desde aquela conversa por SMS, não veio mais ter comigo e são raras as vezes que o vejo na escola. Quando o vejo ele desvia o olhar e finge que não me conhece.

Conclusão?

Isso mesmo. Nada de Ashley, nada de Dylan e a minha vida é dar voltas à escola com o meu casaco preto e phones nos ouvidos a ouvir músicas tristes e lamentar a minha vida super divertida.

É nestas alturas que me pergunto como seria se conhecesse a minha família biológica,  o porquê de não ter crescido com eles e todas essas perguntas que qualquer pessoa adotada acaba por fazer a si mesma.

"Não me queriam?

Não tinham condições?

Porquê?"

Adoro os meus pais adotivos do fundo do meu coração mas sempre tive uma curiosidade imensa em saber quem são as pessoas geneticamente ligadas a mim apesar de sempre o esconder, para não magoar ninguém à minha volta. Nem o pai e mãe adotivos, nem a minha irmã Ashley.

Desco a pequena rampa que me permite chegar ao pavilhão e vejo uma pequena folha pendurada na parede. Aparentemente uma turma do 12º ano está a preparar uma festa de Halloween, suponho que seja a do Dylan e também suponho que a Ashley me vai tentar convencer a ir. Sempre gostei bastante de festejar este dia mas sinceramente este ano não me está a apetecer nada além de ficar em casa enrolada na manta mais quente que houver em casa a ver Pretty Little Liars e How to get away with murder.

Notei que faltavam 5 minutos para a entrada da próxima aula e apressei-me a chegar à sala habitual onde iríamos ter Matemática. Quando cheguei já estavam todos na sala, incluindo a bruxa que lecciona esta disciplina maravilhosa, e dada a situação, tive de bater à porta e pedir licença para entrar o que deixou toda a gente a olhar fixamente para mim. Bem, é um pouco compreensível visto que estive desaparecida nos últimos 50 minutos, que o meu casaco estava molhado e que vinha a expirar ar pálido devido ao frio no exterior.

Passou rápido. Fizemos uma carrada de exercícios e ouvimos as lições de vida com um moral extraordinário da Professora.

Saí da sala em último e senti alguém atrás de mim a puxar-me o braço, levando me para um canto onde ninguém nos avistava.

Senti Dylan dar-me um abraço fortíssimo, encostando o seu corpo também ligeiramente molhado ao meu. Afastei-o pois estava confusa e assim que o fiz, ele soltou um ''desculpa'' sussurrando e voltando a abraçar me com mais força do que no início.

Largou me passado cerca de um minuto, olhou-me nos olhos e foi embora outra vez.

Outra vez.

Liguei a Ashley dizendo-lhe para não contar comigo para almoçar na escola e fui a casa comer qualquer coisa.

Gostava seriamente de saber o porquê disto. Não percebo as atitudes dele e começo a ficar cada vez mais confusa com isto tudo.

Na verdade sei muito pouco sobre ele e não sei porque me sinto assim em relação ao que se está a passar, mas talvez seja porque não estou habituada a ter muitos amigos. Afinal para quê ter muitos amigos e no fim nenhum querer saber de nós verdadeiramente? Ya, foi o que eu pensei.

Se soubesse disto nunca tinha ido aquela festa, ou se tivesse ido nunca tinha ido para o quarto com ele. Wow, dito assim parece que fizemos sexo ou nos engolimos um ao outro como ultimamente a Ashley e o Dave fazem. Neste momento só me apetece culpar a minha irmã, apesar de saber que não tenho razões lógicas para isso...iria ser só estúpido.

Sinto-me um pouco triste com tudo isto e não sei o que pensar. Não costumo ligar a comportamentos aleatórios de pessoas que não conheço, mas com Dylan é diferente. Achei-o misteriosamente interessante e sinto que foi recíproco. Pensei que poderíamos ser uma boa dupla de amigos. "Os cunhados desprezados", "Os pobres cunhados", "Cunhados alcoólicos", algo do género, estão a ver?
Peguei no telemóvel e abri a conversa com o Dylan. Estava exatamente igual desde que ele mandou aquela última mensagem: "Okay, claro, ainda bem."
Não soube o que dizer na altura, ou como continuar a conversa e pensei durante tanto tempo que já era ridículo responder por esta altura.

Olhei à janela, depois ao ecrã do telemóvel e apercebi-me que se queria chegar a horas à aula de Português tinho de sair de casa imediatamente.
Peguei na mochila, pus o capuz e apalpei o bolso para me certificar que tinha o telemóvel comigo. Tudo bem, agora era trancar a porta de casa.
Andei a passo rápido até à escola e quando cheguei ainda estava a minha turma à porta da sala o que me fez suspirar de alívio.
A nossa professora é provavelmente a mais conhecida da escola, por motivos não muito agradáveis. Corre o boato, que aposto ser verdade, de que tem Síndrome do Intestino Irritável. A sério, pesquisei, parece aterrorizante viver com algo assim.
Todos riem, eu não acho graça. Apesar do vestuário, a senhora não merecia viver com uma doença desde tipo. Talvez umas alergiazitas, mas que não passasse daí.
Pronto sim, já deu para entender que eu e professores não nos damos da melhor forma, é verdade.
Depois de 20 minutos a divagar na minha mente enquanto a professora nos dava "luzes" sobre Luís de Camões senti o telemóvel vibrar.
Senti o coração e todos os meus outros órgãos a caírem onde supostamente só está a minha bexiga. As minhas mãos ficaram frias e os músculos da cara paralisados.
Tirei o telemóvel do bolso, e carreguei na notificação.

1 nova mensagem

(...)

Ashley: Olá maninha, entãããoo...queria perguntar-te se já viste o cartaz da festa que a turma do irmão do Dave está a organizar 😇

Que bom, quase me deu um piripaque e é só a minha irmã a dizer algo que já estava à espera. Agora é negar a minha presença e esperar pela persuasão que normalmente resulta porque ela utiliza sempre o Pathos comigo, já que o Logos e o Ethos não são de todo o seu forte.

Eu: Sim, já vi, revirei os olhos e não vou :)))

Ashley: oh maninha vá lá, vais divertir-te e se formos as duas há probabilidade da mãe nos deixar ficar até um pouco mais tarde. Além disso aposto que vão haver imeeensos rapazes lindos de morrer e muita bebida à disposição.

Não posso negar, a parte da bebida à disposição é aliciante, já que mudei um pouco a minha opinião sobre bebidas alcoólicas pois finalmente conseguimos arranjar maneira de nos entender melhor, ainda mais sabendo que a turma organizadora é que a paga.
No entanto, para não entregar o troféu à minha irmã, disse o que digo a maior parte das vezes: vou pensar ash -.-

Ashley ficou animadíssima com um "talvez", nem me apetece ver a sua reação se disser verdadeiramente que sim.
Mas neste momento, se realmente estou a pensar comparecer à festa do meu quase coma alcoólico com menos despesa alguma vez visto, só desejo uma coisa: que o meu querido cunhado decida ficar em casa nessa noite.

_______________________
@marvinsroomdrake

HypochondriaOnde histórias criam vida. Descubra agora