Capítulo 5

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A casa que em que seu anfitrião os receberia era um pouco mais antiga que a de Sevastian, formada aos moldes das estruturas eslavas, feitas únicas e exclusivamente para evitar os ataques dos reinos inimigos. Ainda que seus traços fossem rudes e práticos demais para serem bonitos, havia um ar medieval em toda a sua composição que de uma maneira ou de outra a remeteria a um conto de fadas.

O interior entretanto, era mais moderno, com tapeçarias violeta, quadros de pessoas desconhecidas e candelabros ornamentados, ela se sentiu entrando em um reino proibido que de certa forma pairava místico entre a sua realidade casta e aceita pela sociedade, com essa Demi-mondaine, como uma amante extrovertida demais para ser exposta. E como as amantes da corte, escondendo suas depravações atrás de seus leques decorados, aquele mundo também era um segredo.

Matthias Korvín se aproximou em uma casaca negra e cumprimentou Sevastian com uma mão cheia de anéis de símbolos estranhos e diferentes dos de seu marido.

— Bem vindo à minha casa Sr. Rasputin — ele a voltou sua atenção para ela, movendo seus olhos escuros por seu rosto como se pudesse descortiná-lo de alguma maneira — e a nova Sra. Rasputin... prontos para entrarem no mundo obscuro do além? Teremos uma médium essa noite e ela disse que pode contatar os espíritos do além-véu — ele mordeu os lábios — não soa excitante?

— Chamou uma necromante? — Sevastian torceu os lábios diante da informação e naquele momento soube que ele reprovava a ideia — eu conheço suas companhias, sei que não está fazendo qualquer caridade essa noite.

Oh sim — o anfitrião volveu com uma tranquilidade que soava um pouco mais com sarcasmo — você não participava de nossas festas querida Nina, mas saiba que seu marido acredita que nós não devemos nos envolver no mundo dos mortos apenas por diversão, que essas excursões devem ser feitas apenas com o propósito de apaziguar a dor das famílias que sofrem com a perda dos seus entes queridos. Quer saber o que eu penso de tanta retórica? — Matthias torceu os lábios e depois sorriu — há segredos que encerram no universo que não são feitos para qualquer estômago.

Sevastian ergueu as sobrancelhas e olhou o homem de cima abaixo sem qualquer pudor de não demonstrar o quanto o desgostava.

— Quando você se senta em uma praça deserta no escuro da noite, procurando por uma conversa, eu tenho uma grande certeza de que não são as almas decentes desse mundo que vem trocar umas palavras.

Ele puxou Nina suavemente para longe da presença do outro com um meneio que dizia que a conversa estava encerrada e eles se aproximaram da sala maior, decoradas com cortinas de violeta escuro e almofadas pomposas. A sala inteira parecia ter sido pensada para reter tons de ameixa.

No centro havia uma mesa redonda, como a távola dos contos arthurianos e no centro dela havia várias velas, dispostas ao longo de um pentáculo. Percebeu com um pouco de estranhamento que ele estava invertido e procurou os olhos de Sevastian vendo que ele também observava isso incomodado.

— Por que a estrela está ao contrário?

Ele a mirou de esguelha.

— Todo símbolo invoca uma egrégora, uma massa de energia que paira sobre a nossa dimensão e é alimentada pelas nossas crenças. Quando você inverte o símbolo, ele invoca a egrégora oposta. O pentáculo em sua forma original envolve conexão com os quatro elementos, o abraço entre o carnal e o espiritual, o amor. Era um símbolo associado à Afrodite. Quando ele é virado para baixo, sua conexão se torna material, egoísta, pesada, animalesca e presidida pelos instintos e não pela razão. Éros e Ágape se transformam em Phobos e Deimos.

Valsa SombriaWhere stories live. Discover now