Tão natural quanto a luz do dia, mas que preguiça boa me deixa aqui a toa, hoje ninguém vai estragar meu dia, só vou gastar energia pra beijar sua boca- Era a música da vez que tocava aleatoriamente em meu celular. Retirei os fones do bolso e pluguei-os ao aparelho, sentando em um dos diversos bancos vazios daquela praça. Ao compassar da letra, batucava meus dedos na perna, que também balançava freneticamente ao ritmo da música.
Os que por ali passavam me olhavam admirados, talvez porque não é qualquer adolescente de 16 anos que tem a coragem de acordar plena 7 horas de uma segunda-feira para dar uma "corridinha" no bairro. Porém, ser saudável ainda se encontrava em meus planos. Se fosse possível, passava a manhã toda a praticar exercícios, uma pena que repetindo, tenho apenas 16 anos, e frequento uma instituição de ensino do demônio chamada "escola".
Em meio a música meu celular vibra, e vejo que na tela o alarme toca indicando que era a hora de voltar para casa e me arrumar. Bufo, mas mesmo assim me levanto e sigo correndo novamente para casa. Ao sair pelo portão da praça dou de cara com seu Jonas, um pipoqueiro que vende por estas bandas desde que me entendo por gente. Ele sorri e me cumprimenta com o mesmo "bom dia Calíope" de sempre.
- Bom dia seu Jonas. - Sorrio, e continuo meu caminho.
Umas três quadras depois chego em frente a minha casa, ainda ofegante abro a porta e me jogo do jeito que estava no sofá da sala.
- Cheguei mãe! - Grito na esperança de ouvir alguma coisa de volta. Não ouço nada. Provavelmente já foi trabalhar, o que aponta ainda mais que estou muito atrasada.
Levanto e subo as escadas correndo em direção à meu quarto, onde não perco tempo e me direciono para o banheiro para tomar um banho em tempo recorde. Visto uma calça jeans e a blusa de uniforme ridícula da escola, não perco tempo no cabelo então apenas faço um rabo de cavalo.
- Onde diabos estão os meus all stars!? - Espraguejo e enfim os encontro jogados em um canto do quarto. Calço-os em menos de trinta segundos e pego minha mochila em cima da escrivaninha. Corro em disparada para fora de casa, tranco-a e coloco a chave embaixo do tapete, não sei o porque mas minha mãe que recomenda que eu faça isso. Nem ao menos tomo café e vou para o ponto de ônibus.
Verifico em meu relógio de pulso: 8:30. Bem na hora meu ônibus estaciona na calçada, o que me faz perceber que se me atrasasse mais dois minutos iria andando para a escola!
Subo e me sento nos assentos vazios do fundão, minha sorte é que moro perto da garagem do ônibus, então como ainda era a primeira rota todos os dias escolho onde quero sentar.
O caminho para a escola durou cerca de 15 minutos, e enquanto isso fiquei a observar pela janela as paisagens da cidade do Rio de Janeiro. Uma leve garoa começava a descer do céu em gotas minúsculas, quase imperceptíveis, porém as pessoas da rua (a maioria passeando com os seus cães ou andando de bike) começaram a ir em direção a lugares fechados para se proteger da garoa que agora estava se transformando em uma chuva grossa. O clima daqui parece ser até mais bipolar que eu.
Sem que eu me dê conta o ônibus para no ponto em frente a minha escola, então corro e passo, descendo em seguida.
Todos os alunos estavam espalhados pela área do pátio que é coberta, uns conversando, outros lendo e muitos outros fazendo as lições de casa que certamente esqueceram. Típico.