Capítulo Único

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Jeongguk sorriu para os últimos cliente que deixaram o cinema, um casal de ingleses de mãos dadas que aparentemente falavam sobre o filme. Apesar de ser véspera de Natal, muitas pessoas tinham o costume de ver um filme no período da tarde — o único horário que o cinema abria durante às vésperas — para depois encontrarem suas famílias e celebrarem o Natal.

Tirou o uniforme e vestiu seu sobretudo preto quando seu chefe deu três batidas na porta.

— Filho, onde passará o Natal? — Sua barba branca e seu cabelo grisalho davam a Louis alguns anos mais.

— No mesmo lugar de sempre. — Jeongguk sorriu. — Preciso manter as tradições!

Apesar de viver em Londres há três anos eu sotaque era razoavelmente convincente e por vezes era confundido como filho mestiço — filho de um coreano por conta dos traços mas que crescera ali —, contudo não havia pessoa que ficasse surpresa quando Jeongguk dizia que sua vida e sua história estavam interligadas à Coreia do Sul, onde toda sua família vivia.

— Se mudar de ideia eu moro à três quadras daqui, você pode passar lá e minha família irá recebê-lo muito bem. — Era um homem gentil que acolhera Jeongguk quando passava dificuldade para arranjar um emprego sendo estrangeiro.

— Eu vou pensar no caso. — Jeongguk sorriu gentilmente e pegou seu chapéu — Agradeço o convite.

Devia muito ao homem da barba branca por não ter despedido Jeongguk por assistir mais filmes do que realmente trabalhar.

— E Feliz Natal, Louis! — gritou da porta enquanto deixava o cinema, mas não ficou para esperar uma resposta.

Assim como todos em Londres, Jeongguk tinha uma tradição de Natal que precisava ser cumprida. Tradição essa que precisava manter por toda uma vida, como jurou no seu primeiro ano em Londres, ainda que não fosse algo comum para o espírito natalino.

Homens e mulheres ajudavam os pobres na rua, dando-lhes sopas ou agasalhos, enquanto algumas crianças cantavam na porta das casas para as famílias em troca de doações e outras corriam pela neve, aproveitando a noite fria de Natal. As luzes brilhavam em tons primários, predominantemente em vermelho e verde, penduradas nas casas e entrelaçadas nos pinheiros dentro e fora das casas.

Homens disfarçados de 'Papai Noel' e seus ajudantes animavam as crianças na praça público e suas risadas ecoavam por quarteirões. Instantaneamente, Jeongguk sorriu lembrando de seu irmão e seu medo por fantasias realistas.

Jeongguk sempre escutava histórias de seu hyung sobre seus temores por palhaços e homens vestidos de bom velhinho e apesar de compartilhar o mesmo medo de Jeon seu irmão raramente demonstrava.

Havia uma fortaleza de bondade em seu irmão, que sempre se colocava em segundo plano e o sentimento e o bem estar daqueles que estavam ao seu redor em primeiro, quase esquecendo de si mesmo e do que sentia.

Tanto esqueceu de si mesmo que deu sua vida para salvar a do irmão mais novo.

Seus pensamentos eram turbulentos conforme a multidão e o clima natalino ficavam para trás, como um baque de lembranças que o faziam recordar de como era feliz e de como sua vida era mais fácil do que imaginava. Pensar na vida que seu irmão poderia levar o fazia estremecer, almejar que ele tivesse uma vida melhor o fazia parecer mais egoísta do que já era. Egoísta por abandonar seu país, o casal que o criou e toda uma vida para viver em exílio pela morte do irmão, contorcendo-se de dor por estar vivo todos os dias — pois tudo o que sentia era que a vida que ocupava no mundo pertencia a seu irmão e não a si mesmo.

A estrada era íngreme com uma curva fechada um pouco mais acima, que dificultava a visão de qualquer um que estivesse aonde Jeongguk estava. As luvas incomodavam suas mãos e o chapéu parecia queimar em sua cabeça.

YuanfenOnde histórias criam vida. Descubra agora