Capítulo I - A neve dos amantes

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Era o crepúsculo novamente. O aroma singular da primeira neve espalhava-se por todas as avenidas, deixando em êxtase toda e qualquer pessoa que deslocava-se por entre os quarteirões. O silêncio acolhedor destacava a bela pintura que jazia no céu, revelando cores pastéis que mesclavam-se, fascinando a todos que paravam para admirar o momento. Era a primeira neve, a neve dos amantes.

Havia uma antiga história, sem autor, título ou nome, que as avós contavam para seus queridos netos, elas diziam que, sempre, na primeira neve, as almas gêmeas se encontravam. Contavam a história de uma garota; era o seu aniversário quando caíra a primeira neve. Ela comemorava com a família em sua casa, quando saiu para comprar algo — uns diziam que era refrigerante, outros diziam que era bolo, mas não importava — e o carro capotou por causa da estrada escorregadia. Era seu aniversário de dezoito anos. As pessoas ficaram assustadas e logo chamaram os paramédicos, a menina estava acordada, mas estava presa, não conseguia sair. E então, quando os paramédicos chegaram e a garota olhou nos olhos do motorista da ambulância, ambos perceberam no mesmo instante que eram almas gêmeas. E, desde então, a primeira neve é conhecida como a neve dos amantes, muitos acreditam que, durante a fatídica primeira neve, irão, magicamente, encontrar suas almas gêmeas, embora saibam que o sistema não funciona desse jeito.

Eu, particularmente, não acredito nisso. Não é impossível as almas gêmeas encontrarem-se durante um dia de neve, especificamente, na primeira neve. Porém, nunca disse isso a alguém. As pessoas esperam e sonham ansiosamente com o dia em que encontrarão a sua cara metade, embora saibam a idade em que conhecerão-na, ainda alimentam uma falsa esperança de que será quando a neve cair pela primeira vez. Nunca entendi isso, dizem que é romântico assim. Mas, se é o sonho delas, não há problema; um sonho ainda é um sonho, não importa o quão irreal seja.

O frio logo despertou quem ainda andava pela rua, fazendo-lhes locomoverem-se ainda mais rápido e se esquentarem dentro de seus casacos. Tenho sorte de que a minha casa seja no próximo quarteirão.

O deleitável aroma de café que exalava a padaria do Sr. Kim, atraía a muitos dos poucos que ainda circulavam pelas ruas. Podia sentir o sabor inebriante de seus doces, que tentavam-me, mas seus produtos eram demasiadamente caros. Um dia eu gostaria de experimentar novamente seu machiatto.

A noite despontava timidamente. Os minguados raios de sol que ainda restavam, despediam-se majestosamente conforme a lua sorria. Flocos de neve caiam sobre meu óculos, embaçando-o, fazendo com que eu precisasse tirá-lo; deixando-me com a visão levemente turva. Os pequenos postes iluminavam o caminho; meus passos apressados cessavam conforme eu me aproximava de minha casa.

Finalmente chegara.

O tilintar das chaves na maçaneta deixava-me ansiosa. Abri a porta e senti o caloroso sentimento de estar em casa. Subi as escadas rapidamente, entrando no pequeno apartamento e apreciando a atmosfera aquecida abraçar a minha pele, suspirei, mais um dia de trabalho chegou ao fim.

Dirigi-me ao meu quarto, tirando o longo sobretudo que vestia, infelizmente, hoje era quarta, minha mãe não estava em casa. Sentei-me na cama, tirando mais um casaco, logo notando os pelos de meu braço eriçarem; tirei mais algumas camadas de roupa e logo já estava nú.

Com cuidado, removi a faixa que comprimia e incomodava meus seios, odiava ter que usar aquilo, eles ficavam muito doloridos.

Era a mesma coisa todos os dias. Minha mãe ainda achava necessário usar isso, esconder-me, mas eu não acho que algo vá acontecer. Eu queria apenas ser eu mesma, Kim Taeyeon e não Kim Taehyung, mas, infelizmente, eu nasci no ano errado. Não é culpa da minha mãe ter que esconder a filha ou fingir que é um menino, também não é minha. Não acho que hoje o governo se preocuparia com uma garota nascida em 2085, não mais, eles estão mais preocupados com dinheiro sujo. Mas minha mãe ainda teme perder-me.

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⏰ Última atualização: Aug 02, 2018 ⏰

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