Nova Gaia

O início

Um nervosismo tomava conta de seu corpo. O seu dia havia chegado finalmente. Sentindo-se confiante pegou seu buquê e desceu as escadas. Lá em baixo petúnias de todas as cores decoravam o saguão da pequena pousada. A medida que ia descendo a cauda de seu vestido ia ganhando forma nos degraus da escada. Seu vestido de seda branco possuía pequenas flores bordadas na parte inferior da saia, o busto transpassado apresentava pequenos cristais que davam uma alusão a uma princesa de conto de fadas.

— Como se sente abelhinha? - perguntou o homem de cabelos brancos e sorriso jovial.

— Nervosa. - respondeu em um sorriso tímido - Vera, você pode me ajudar com o véu?

Uma moça loira com um batom rosa aprontou-se para ajudá-la, e com suas mãos delicadas ajeitou o véu de flores sobre um mar de cabelos escuros. Ela passou a mão involuntariamente na frente do vestido para desamassar algo já passado. O nervosismo aumentava, mas ela estava feliz. Os dois, pai e noiva, caminharam pelo saguão rumo ao jardim parisiense. Em uma última olhada no vestido e tudo estava certo. Ela, enfim, iria se casar.

...

Olga acordou em uma poça de suor, novamente aqueles sonhos a atormentavam. Desde de criança ela sonhava com coisas estranhas, que já não existiam em seu mundo há muito tempo. Cidades, brinquedos, pessoas... Tudo muito estranho. Mas, segundo Argo, era normal ter sonhos sobre o que era Antigo, mesmo nunca tendo-o vivido. Argo era sua salvação para não enlouquecer, apesar de que a loucura era um luxo que ela nunca iria poder se dar.

Levantou-se com dificuldade, seu corpo ainda estava cansado da caçada de antes. Contudo, mais um dia havia nascido e novamente era preciso garantir a segurança da Colônia. Vestiu uma calça e blusa cinza, padrão para as amazonas, e prendeu os seus longos cabelos em uma trança sistemática, após se sentir desperta o suficiente para sair corredor a fora, Olga pegou sua arma favorita, uma espada antiquada, não possuía mais que quarenta centímetros e era feito de um aço desconhecido. Ela a tinha encontrado em uma de suas buscas entre as florestas que cercavam a fortificação em que a legião vivia. Ela estava há mais de uma semana longe de casa, quase desistindo, pois nada tinha encontrado, até que em uma distância de dez metros avistou um brilho metálico em meio a entulhos já verificados, as outras amazonas já estavam em prontidão, prontas para o retorno, Olga foi a única que voltou para verificar a pilha. E lá, em meio a descartes de plásticos, latas, e caixas estranhas de metal, encontrou uma pequena espada sem bainha. Apaixonou-se pela pequena peça imediatamente. Desde então, a pequena Estrelara, como tinha nomeado, tornou-se a peça fundamental em sua vida. Nada fazia sem sua fiel companheira de aço.

Seguindo o corredor Olga encontrou as outras amazonas, e juntas foram para o refeitório, comer, como todas as segundas, o mingau pastoso e sem gosto. A Última Legião estava com os suprimentos contados, a colheita tinha sido perdida pelas pestes que comiam as plantas. Ela ficou a imaginar como os Antigos alimentavam sete bilhões de pessoas e A Legião não conseguia alimentar quinhentos. Qual era o segredo deles? Seria por isso que a humanidade quase foi destruída? Ela tinha um grande interesse em saber o que tinha acontecido com os Antigos. Pouco se sabia sobre o que havia ocorrido há duzentos anos atrás. A história geral é que a humanidade tinha entrado em colapso e uma grande catástrofe quase dizimou a população mundial, apenas um pequeno grupo, no meio do nada, sobreviveu ao que quer que seja que matou todo mundo. As cidades, a internet, os países, tudo tinha acabado. Apenas restou uma última colônia, o último suspiro do que foram os homens.

As amazonas e os Filhos de Hércules, protetores da Legião, receberam um chamado. Aparentemente um grupo de tenebris estava rondando a parte alta, seres grotescos que ameaçavam a colônia dia e noite, eles teriam que intervir. Preparando-se com toda a armada Olga partiu para enfrentar o seu maior predador.