Mudança

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   Um tímido raio de sol surge lentamente entre as cortinas até atingir no rosto do garoto que ali dormia em paz e acaba acordando com a luz, incomodado, ele se aconchega mais entre as cobertas. Alguns minutos mais tarde ele decide levantar, ao que parece não conseguiu voltar a dormir.

- ah, essa cortina de novo... – ele resmunga, insatisfeito com a situação.

Ele olha para o relógio ao lado da cama, percebe que já são 8 horas da manhã e não houve os passos de sua mãe se arrumando para trabalhar como de costume. Seus pais trabalham fora a maior parte do tempo. Conscientes de sua responsabilidade eles o permitem ir e voltar do primário por conta própria.

Desconfiado, ele sai de seu quarto, desce as escadas e se depara com seu pai sentado no sofá com uma garrafa de saquê ao lado, curvado, com a cabeça abaixada e escondendo seu rosto em suas mãos. O pai não percebe a presença do garoto que desceu as escadas cauteloso, mas ao ver o pai ele torna a andar normalmente, ouvindo os passos da criança, rapidamente o pai ergue o rosto e olha para o filho com os olhos pesados e vermelhos.

- por que... esta aqui? – pergunta o garotinho friamente, porém relutante.

- ...Shouta... – Seu pai o chama pelo nome hesitante.

- cadê a mamãe? – a voz de Shouta muda para um tanto preocupado e chega mais perto do pai com os olhos ainda entreabertos.

Após um longo suspiro, seu pai diz firme – ela... ontem sofreu um acidente de carro... Então...- o homem reluta em dizer, mas encerra – Ela não vai voltar, Shouta... – em seguida ele torna a abaixar a cabeça para evitar olhar a reação do garoto, que para a surpresa dele, lidou com isso de forma pacífica.

- entendi – sua voz demostra de longe decepção, como se não tivesse trago algo doce depois das compras, mas nada muito escandaloso, coisa que ele nunca foi, e nem nesse momento é – eu vou guardar isso, não é hora de ficar bebendo essas coisas – ele pega a garrafa de sakê e leva para a geladeira enquanto seu pai olha chocado.

- se arrume, o velório será a tarde - após o choque ele se levanta, cambaleando um pouco, mas consegue subir para seu quarto.

Horas mais tarde no velório, Shouta estava lá com uma calça e blusa de malha preta, o que não era difícil de se encontrar em seu guarda roupa, e uma flor branca em suas mãos. Tudo isso  parecia simples para ele que quase não via sua mãe, agora, ao olhar a imagem dela, o garoto fica em choque, imobilizado, como se o tempo tivesse parado ao seu redor e pensa que poderiam ter se conhecido melhor, o fato de não sentir muita tristeza ao ver sua mãe morta o traz confusão, e no meio disso uma mera lágrima escorre em seu rosto, o fazendo voltar a realidade aos poucos, a medida que ele vai virando a cabeça de vagar para a direita, vê seu pai conversando com uma senhora de cabelo vermelho, bem chamativo, como se estivesse emitindo luz, não muito velha, e um homem com as orelhas e cauda aparentemente de uma raposa do ártico ao lado. Olhando um pouco mais para a direita ele assusta se deparando com uma garota da mesma altura que ele, que o olhava fixamente com os olhos de íris vermelha e cabelo azul claro indo quase ao chão e excessivamente brilhoso, logo ele assemelhou a senhora que havia visto como mãe dessa menina.

- o que foi? – ele pergunta arisco

Ela ignora sua pergunta, puxa um lencinho de sua bolsa e o encosta delicadamente em seu rosto com o intuito de enxugar aquela lágrima. O garoto que antes estava só confuso, agora olha muito surpreso e mais confuso ainda com tal ação repentina,  por reflexo, ele põe a mão sobre a dela e pergunta, agora aos gaguejos.

- o que diabos você pensa que está fazendo!? – ele berra com seu rosto levemente corado

- ...enxugando sua lágrima? – ela retorna com outra pergunta, o olhando sem entender tanto alarde

Blue MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora