O Garoto do 402

49 2 0
                                    

A vida as vezes é muito imprevisivel

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A vida as vezes é muito imprevisivel. Acontecem coisas que estão longe de nossa compreensão e que talvez nunca tenhamos imaginado. Lembro-me de quando era criança, trancada no quarto que dividia com minha irmã mais velha. Passava horas com minhas bonecas inventando historias de vida para elas, costurando roupas e roupas para elas. Jamais imaginaria que faria disso um meio de ganhar a vida. E jamais imaginaria que, após 20 anos, estaria vivendo do outro lado do mundo.
- Annyeong! Você é a senhorita Emmanuele, é isso?
- Ye Ahjumma! - Digo para a senhora ligeiramente corcunda com um gato rajado em seus braços. Sorrio e faço uma leve mesura, cumprimento comum entre o povo asiático. Pelo que eu podia ver, aquela senhora era a dona do prédio em que eu moraria.
- É a primeira vez que vejo um estrangeiro por aqui e fiquei surpresa quando me indicaram você. Tenho certeza que vai gostar muito do apartamento.
A senhora abre um sorriso ao proferir essas palavras e na hora percebo que vou gostar muito dela.
Ela me leva até o prédio e caminhamos calmamente pelo corredor.
- Não temos muitas regras. Somente ficar atenta com os reciclados e não fazer muito barulho após as 9 da noite. - Diz a senhora - Animais são permitidos, já que não temos muitos moradores. Ah e o terraço está liberado para os moradores. - Paramos então em frente ao que eu imaginava ser meu apartamento. - Acho que estou esquecendo alguma coisa... Ah sim! Peço que tome cuidado com o vizinho aí do lado. Ele é muito ocupado e por isso não gosta de ser incomodado. Então evite ir falar com ele.
Olho para a porta ao lado e então para a senhora e lentamente assinto com a cabeça.
- Bom, acho que era só isso. Esse é seu apartamento, espero que esteja ao seu agrado, qualquer dúvida ou ajuda eu moro no andar de baixo. E seja bem vinda a Seul.
Observo a senhora se afastar e então olho para a porta a minha frente, olho para pequeno 401 na porta e solto um suspiro.
- Finalmente estou aqui. - sussurro. Abro então a porta e adentro o apartamento.
O apartamento não era muito grande, era o máximo que eu podia pagar na Coreia do Sul, mas era muito aconchegante. Havia apenas um quarto, banheiro, sala e cozinha e uma sacada. A decoração era impecável, toda com cores em tons pastel. Abro um grande sorriso e abro minha bolsa rapidamente, pegando então meu celular. Aquela era o inicio da minha nova vida em um lugar totalmente novo, claro que tinha que compartilhar esse momento com a pessoa mais importante da minha vida.
Arrumo o cabelo e inicio minha chamada de vídeo.
- Omma! - grito para a mulher que me trouxe a vida, que mostrava claramente pela sua cara amassada que estava dormindo.
- Omma? Já não sabe mais o português não? E isso são horas pra ligar menina? - Diz minha mãe com a voz mal humorada, mas abre um sorriso de canto.
- Desculpa, ainda não me acostumei com esse fuso horário ao contrário.
- Tá, Tá... Como foi a viagem?
- Foi horrível! Nunca tinha voado por tanto tempo e nunca passei tanto medo assim. Você sabe que eu morro de medo de altura.
- Culpa sua por querer ficar longe da família.
Dou uma gargalhada e coloco a mão no peito.
- Sim, totalmente culpada. Mas olha só mãe, olha esse lugar maravilhoso.
Então com o celular ando pelo apartamento e mostro cada canto para minha mãe. Então vou até a sacada e mostro dia ensolarado de Seul.
- Vai negar o quão bonito é esse lugar, mãe?
- É claro que é bonito, mas existem muitos lugares bonitos aqui no Brasil também, não era necessário ir pra o outro lado do mundo.
- Sim eu sei.
Ficamos em silêncio por alguns segundos que foram quebrados por ela.
- Mas você não vai mudar de ideia e voltar.
- Não vou - Digo e abro um sorriso.
- É claro que não iria, é teimosa como seu pai!
"Acho que herdei isso dela" penso e abro ainda mais o sorriso.
- O que vai fazer agora? - pergunta
- Hum... Como estou aqui, acho que tenho que comemorar! - respondo e dou uma piscadinha.
- Acho melhor não aprontar hein!
Carregando uma sacola com algumas garrafas de Soju e alguns aperitivos, subo as escadas para o terraço com passos lentos.
O terraço parecia ser tirado de algum cenário dos vários doramas que havia assistido. Havia várias poltronas, uma mesa no centro, daquelas bem baixinhas e quadradas, e no quanto um daqueles balanços de jardim. Coloco a sacola sob a mesa e então volto a minha atenção para a vista a minha frente. A noite já havia caído e toda a cidade estava acordada, totalmente iluminada.
- Que lindo - Sussurro e vários pensamentos passam pela minha cabeça. "Estou mesmo aqui?" "É um sonho?" Então pego o contrato que estava na minha bolsa, o contrato de emprego, e abro um sorriso.
- Sim, é real! - Digo quase berrando.
Vou até a mesa novamente e esvazio a sacola. 3 garrafas de Soju (bebida alcoólica coreana feita de arroz com teor alcoólico de 20%) 2 gimbap (bolinho triangular de arroz) e um potinho com um pouco de kimchi (acelga temperada) são colocados em cima da mesa.
- Ah! Finalmente irei prová-los! - Digo e pego uma garrafa de soju, abrindo-a. Tomo um gole e sinto a bebida arder na garganta e derreter meu estômago
- Meu deus, acabo de beber álcool de cozinha! - Finalmente olha para o teor alcoólico da garrafa - 20%? Em uma garrafinha? Esses corebas são mesmo cachaceiros socorro! - Dou uma risada e pego o pote de kimchi. Sempre gostei muito de acelga e comidas apimentadas, por isso sempre imaginei que fosse amar kimchi. E eu estava certa, com o primeiro pedaço em minha boca eu já estava apaixonada. Arrisco então tomar mais um gole de soju e dessa vez a bebida não desceu queimando. É o que dizem, o pior é o primeiro gole. E isso se provou verdade, já que após alguns goles eu já não sentia mais nada, inclusive minhas próprias pernas. Quando terminei minha segunda garrafa, o céu começou a brilhar e a girar, então tombo para traz e a ultima coisa que vejo é o céu parar de brilhar e ficar em completa escuridão.
Bem no fundo da minha mente escuto um barulho familiar, de algo cozinhando. Perdida, lembro de casa, das vezes que dormia até tarde e ouvia, enquanto estava em um estado de pré-despertamento, o barulho da minha mãe cozinhando. Então escuto o barulho da porta se fechando e abro meus olhos lentamente.
Me levanto e olho em volta, totalmente perdida e com uma dor terrível de cabeça. Não estava no meu quarto bagunçado da casa que morava com meus pais no Brasil. Estava no sofá branco da sala do pequeno apartamento que morava em Seul. E minha mãe não estava na cozinha, aliás, ninguém estava na cozinha, mas o cheiro de comida recém feita impregnava o lugar. Então olho para a pequena mesinha de centro a minha frente e lá estava a origem do cheiro. Sob a mesa havia uma tigela com uma comida que parecia ser uma sopa de legumes fumegante, com um pequeno pote de arroz. Ao lado, um bilhete. O bilhete estava escrito em hangul com uma letra simples e garranchada. E o bilhete dizia o seguinte:
"Noonim, a sua porta estava aberta então a trouxe para cá ao encontra-la inconsciente no terraço. Essa é a sopa para ressaca, vai se sentir melhor ao come-la. Confie em mim.
O vizinho do 402."

The Boy Next Door - Zelo FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora