Capítulo 1

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Três anos atrás...

Como dizem, hoje completo mais uma primavera e um ano em que troquei a cidade maravilhosa, pela cidade da garoa. Sai do Rio de Janeiro quando ainda estava com 18 anos após a morte de minha mãe - Lúcia Novaes. Éramos felizes apesar de vivermos em uma pequena casa no morro do alemão, ela sempre trabalhou duro para que nada me faltasse, ficava a semana toda revezando faxinas entre casas de família para juntar dinheiro e me colocar em uma academia de dança.
Eu fazia de tudo para ser a melhor aluna da sala e conseguir boas notas para lhe dar um pouco de orgulho por ter me criado tão bem e sozinha. Pois meu pai, ou melhor, aquele que me fez, apenas e me colocou no mundo e sumiu; Deixando a mim e minha querida mãe à mercê da própria sorte.

Quando completei quatro anos, entrei pra ONG de dança que havia no morro e desde então não parei de dançar. Até que dona Lúcia ficou doente - do maldito Câncer, quando tinha dezesseis anos. Com isso abandonei as sapatilhas por um tempo e passei a me dedicar em fazer seus cuidados e colocar o sustento em casa. Mas, infelizmente, na manhã do meu aniversário (dois anos depois) ela simplesmente se foi.

~ Flashback On ~

- Minha filha, venha cá. - Percebo o tamanho esforço que minha mãe faz para pronunciar essa pequena frase e isso me dá um aperto horrível no peito.

- Sim, mamãe? Trouxe seus remédios, o médico disse que é importante tomar nos horário certo pra que a senhora fique bem. Está sentindo algo?

- Xiiiiu, minha menina. Minha doce e amada menina, não vou tomá-los hoje, está bem? E preciso que me escute com muita atenção! - Sinto que sua respiração começa a ficar mais lenta o que faz com que um bolo se forme em minha garganta. Não Deus, por quê?

- Mamãe , não se esforce. A senhora precisa ficar boa e precisa se poupar pra isso. Por favor! - Suplico querendo que ela e Deus me ouçam.

- Marcela, eu te amo mais que a mim e só Deus sabe o quanto me dói saber que tem se esforçado tanto para cuidar de mim, eu quem deveria estar fazendo isso. Você parou de dançar por mim e a partir de hoje, quero que volte e lembre-se sempre que colocar as sapatilhas... Eu te amo e estarei sempre contigo, sempre.

- Mamãe, eu não posso...

- Meu amor, coloquei você na ONG de dança pois via em seus lindos olhinhos que era o que amava fazer e quero que continue e que o faça por mim. Que dance com tanto amor quanto eu te amo. É meu último pedido, por favor. - Vejo que no canto de seus olhos escorre uma lágrima e trato logo de limpar, não quero que ela chore, não quero que gaste as poucas forças que tem.

- Eu prometo que voltarei mamãe. Mas eu te amo tanto, como poderei fazer isso sem a senhora? - Pergunto já deixando que as lágrimas intrometidas escorram por meus olhos, pois sei que minha querida mãezinha está querendo se despedir. Mas não posso, não tenho forças.

- Te criei para ser uma mulher forte e sei que conseguirá porque estarei olhando por você. - Ela fecha os olhos e sinto que meu coração falha uma batida. Tenho vontade de gritar, de perguntar pra Deus o porque tanta dor. Mas a única coisa que consigo fazer é chorar copiosamente colada em seu rosto, como fazíamos quando eu ainda era uma criança e me machucava. E entre soluços digo:

- Não quero ser forte sem você aqui, não quero e não vou mamãe. Me desculpe, eu não consigo!

Fico horas chorando ao lado da única razão que tinha pra viver mas esta também se foi, me sinto sozinha, ferida e exausta. Só quero dona Lúcia de volta para reclamar que deixei o arroz queimar ou que meu guarda - roupas está bagunçado. Deus, como isso dói!

~ Flashback Off ~

Acordo de minhas dolorosas lembranças e percebo que Bianca fala algo comigo.

- MARCELA! Estou te chamando há tempos, você está bem? - Pergunta com um tom de preocupação na voz e então sinto que lágrimas escorrem silenciosas por meus olhos. Seco-as rapidamente.

- Ahn, é eu só... Só estava lembrando o meu aniversário do ano passado. Hoje faz um ano Bia.

Bianca é minha amiga da ONG do Rio de Janeiro, veio comigo para São Paulo após eu ter ficado órfã. E desde então moramos juntas. Sempre nos tratamos como irmãs e é por isso que quando recebo seu abraço sinto que não estou sozinha no mundo. Tenho Bianca e minha mãezinha que de algum lugar olha por mim...

- Eu sei, amiga. Mas dona Lúcia não iria querer te ver assim justo no seu aniversário de dezenove anos. E com certeza diria "Tira essa cara de bunda e divirta-se menina!".

Rimos juntas ao lembrar o senso de humor de dona Lúcia. Até que escutamos Kevin cantando a plenos pulmões um 'PARABÉNS PRA VOCÊ'. Ao entrar no quarto e me ver ainda de pijama o mesmo me olha com uma cara assassina. Lascou

- Eu não acredito que você ainda está com essa bunda gorda nessa cama! Nossa Senhora das pontas duplas dai-me paciência. Anda, anda, anda temos reservas no Le' Fontes e depois iremos naquela balada que abriu no centro.

Devo dizer que Kevin é o último integrante do nosso trio parada dura mas, nem por isso deixa de ser menos importante, afinal ele gosta de exclusividade, homens e Beyoncé.

E depois de uma pequena discussão para decidir meu look para a noite de comemoração, saímos do pequeno apartamento ao som de Beyoncé - Diva .
Devo dizer que fomos cantando o caminho todo até estacionarmos em frente a fachada chique do restaurante e ao dar uma olhada mais detalhada percebo que se eu não quiser vender meus rins pra pagar a conta, terei que comer apenas as entradas de torradas e manteiga ou apenas água. Argh!
Me sinto um pouco melhor por estar usando um vestido que Kevin me deu de presente hoje mais cedo, ele tem um ótimo gosto pra moda.
Entramos e sentamos na mesa que estava reservada.

- Kevin, espero que saiba que não vou comer apenas torrada e água! - Bianca fala semicerrando os olhos e abre um sorriso maléfico.

- Ai Bia, pensei isso também. Não estou afim de lavar pratos justo hoje... - Não aguento e caio na risada sendo seguida por Bianca e Kevin, que até então estava apenas olhando ao redor como se conhecesse o lugar e tivesse a um  tempo sem ir.

- Assim vocês me ofendem meninas! Lembram que disse que talvez mas, só talvez, o meu pai fosse bem de vida? Então, eu meio que posso pagar pelo que quiserem comer e conhecendo as duas, sei que vai ser muita coisa. Não se preocupem e um brinde a Má, a piranha mais linda da minha vida...

- Ei, pensei que esse posto fosse meu. - Diz Bia tentando ficar emburrada mas logo rindo.

Eu e Bianca conhecemos Kevin logo nos primeiros meses em São Paulo, em uma das aulas de sertanejo que ela dá. De início a Bia estava caidinha por ele mas depois de jogar uma 'direta' acabamos descobrindo que ele gosta mais da fruta que nós duas juntas. E nos tornamos inseparáveis mas, ele sempre desviou do assunto família e tampouco gostava de falar sobre seu estilo de vida ser bem mais caro que o nosso.
Após comermos os petiscos, entradas e prato principal, decido ir ao banheiro e ao sair esbarro com um muro vestindo terno Armani.

- Que forte, digo, desculpe senhor. Estava distraída e...

- Não se desculpe, adoraria esbarrar com uma bela mulher como você mais vezes. - Sinto-me corar sob o olhar desse estranho bem vestido, cheiroso e lindo. Acorda Marcela!

- Bom, tenho que ir. Boa noite! - Giro os calcanhares para voltar a mesa mas sinto uma mão forte agarrar meu braço.

- Espere, me diga seu nome apenas. - Pede com os olhos brilhando de... desejo?

- Me chamo Marcela Novaes.

- Prazer Marcela, me chamo Renato.

Depois daquela noite, eu e Renato saímos mais algumas vezes e tudo parecia ser conto de fadas. Depois de um mês descobri que se tratava de Renato Fontes Lingiardi - futuro herdeiro da rede de restaurantes Le'Fontes). É claro que Bianca e Kevin quase me enganaram por ser tão lenta a ponto de demorar tanto para fazer tal associação. Mas logo, trataram de receber de braços abertos Renato que passou a ser meu namorado alguns meses mais tarde. E nem preciso dizer que estava apaixonada né?

Tudo o que sobrou...Onde histórias criam vida. Descubra agora