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No fim, Anna convenceu Willard e seu pai a comprarem o garrafão de vinho. Nós ficamos observando de longe, minha amiga lançando olhares hostis para Baldric.

"Ele vai ver só, aquele estúpido" ela resmungou. Uma brisa gelada passou por nós, balançando os longos cabelos da loira e nos fazendo encolher de frio. O dia havia sido agradável, com um sol discreto que vez ou outra aparecia por entre as nuvens, aquecendo o vilarejo, mas agora que a noite se aproximava as nuvens estavam tomando o céu novamente.

Peguei uma mecha do meu cabelo e analisei a ponta distraidamente. Dependendo de como a luz batia, a cor parecia realmente com as folha de outono, não muito escuras, um pouco avermelhadas. Levei um momento para notar que Anna me observava em um silêncio atípico.

"O que há com você hoje?" Perguntou ela.

Dei de ombros, mas senti meu rosto esquentar um pouco. O que havia comigo? Havia Baldric e seu olhar que me perturbava. Havia Willard e a forma como eu me sentia toda vez que eu o via. E havia algo no bosque.

Eu tinha a sensação de que pelo menos duas dessas coisas estavam conectadas.

"O que foi aquilo lá atrás" ela perguntou, "quando você estava falando com o esquisito?"

"Não foi nada" disse, e depois completei, "eu apenas estava curiosa com relação à escultura de lobo."

Os olhos azuis da garota se demoraram nos meus, até baixarem. Ela encarou seus pés, em silêncio. Eu não gostava quando Anna ficava em silêncio.

"Está tudo bem" eu disse. Toquei sua mão com delicadeza. "Agora sabemos o que ele faz sozinho na cabana: esculturas de madeira. Será que ele chora enquanto as produz?"

Anna sorriu.

"O que mais que ele faz de madeira será? Além de animais?"

Nossas risadas baixinhas ecoaram como um murmúrio alegre. Essas coisas eram nossos segredos habituais e fiquei satisfeita ao ver que o humor de Anna estava voltando ao normal, sem aquelas nuvens nublando seu olhar.

"Estou com fome, será que sua mãe preparou alguma coisa?" A loira começou a caminhar em direção às nossas casas. "Espero que sim, não quero comer em casa, e se eu preparar alguma coisa minha mãe vai me matar."

Dei dois passos para segui-la, e então fiquei tonta. Minha visão escureceu e eu tive a sensação de queda. Provavelmente teria acabado no chão, se Annastasia não me envolvesse em seus braços.

"Emilie" ela chamou meu nome. "Emilie!"

Tentei responder, mas apenas grunhidos incompreensíveis saíram de meus lábios. Anna chamou meu nome outra vez. Após um momento, senti minha visão clareando, mas meu corpo ainda parecia pesado.

Annastasia olhou preocupada para alguém atrás de mim, provavelmente para Willard, que terminava as negociações com Baldric. Ouvi passos se aproximando e logo depois senti mãos fortes em meus braços.

"Ei, Milie" a garota me chamou pelo nosso apelido de infância, tocando meu rosto com suas mãos quentes enquanto Willard me segurava. "Você comeu a fruta seca que eu te ofereci antes?"

Já me sentia um pouco melhor, mas não respondi sua pergunta. Foquei minha atenção em tentar ficar de pé sozinha.

"Estou bem" sussurrei.

"Você comeu hoje?" A loira perguntou em tom severo.

Fiz que sim com a cabeça.

"Mentirosa."

No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora