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O restante da noite eu passei repassando aquele momento em minha mente, de novo e de novo e de novo. Anna saindo de sua casa em plena madrugada, o pânico me tomando por não saber o que fazer. Então, após um momento de hesitação, eu saí correndo atrás dela, mas quando cheguei na entrada do bosque, a garota não estava mais em lugar algum. Eu esperei, andei de um lado para o outro, chamei seu nome, baixinho. Mas ela havia sumido.

Voltei para dentro de casa após o que pareceu uma eternidade, e sentei a mesa, o chá que eu havia feito já estava frio. Não consegui relaxar por sequer um momento desde então.

Ao primeiro sinal de que o sol estava nascendo, peguei minha capa e saí de casa. Andei de um lado ao outro, da minha casa a casa de Anna e pelo perímetro que era a entrada do bosque, desde a parte com cerca, próximo a onde eu morava, até a entrada do caminho que os lenhadores faziam. Vi o vilarejo acordar, as primeiras pessoas saindo para cumprir seus afazeres, os animais acordando.

Após algum tempo, a família de Anna acordou. Quando Lisa saiu, corri para falar com ela. A Garota tinha apenas alguns centímetros a menos do que eu, mas crescia depressa. Provavelmente se tornaria uma garota tão alta do que sua irmã.

"Lisa, você viu Anna?" Perguntei ofegante.

A menina estava trançando os cabelos loiros e pensativa.

"Não" ela disse. "Ela saiu cedo hoje, mais do que o normal. Quando acordei, ela já não estava mais em casa."

Meu coração batia rápido.

"Você sabe onde ela pode ter ido?'

Lisa balançou a cabeça.

"Não" ela sorriu. "Emilie, você melhor do que ninguém sabe que minha irmã é imprevisível."

Concordei com a cabeça e a garota se distanciou, indo alimentar os animais da família.

Suspirei. Annastasia sempre fora uma pessoa audaciosa, mas se enfiar no bosque no meio da madrugada diante das atuais circunstâncias não era coragem, era estupidez.

Willard passou apressado pela porta, parando ao me ver.

"Olá" ele disse, e deu um passo em minha direção. "É meio cedo para você estar com essa carinha. Aconteceu alguma coisa?"

O que eu devia responder? Que Anna havia saído no meio da noite e por isso eu estava preocupada? Se a família dela descobrisse ela estaria em apuros e talvez nunca mais falasse comigo.

Balancei a cabeça.

"Não é nada" menti.

"Certo" ele falou.

Ficamos parados, de frente um para o outro, sem dizer nada. Apertei o tecido da minha capa, sentindo meu rosto quente. Willard passou uma das mãos na nuca e então desviou o olhar.

"Eu queria " ele falou novamente, então limpou a garganta, "queria... agradecer por estar sempre com Anna. Em nome de todos nós. Sabemos que ela não é uma pessoa fácil e ainda assim você está sempre cuidando dela."

"Ah" dei de ombros. Não parecia ser assim, do meu ponto de vista. Eu era medrosa e desajeitada, enquanto Anna era o extremo oposto. "Nós cuidamos uma da outra" eu disse. "E não é problema nenhum, ela é praticamente da família."

O rapaz abriu um sorriso.

"Você também é como se fosse da nossa família, mesmo que a Tia Helga pareça um pouco hostil às vezes."

Eu ri. "Obrigada Willard."

"Bem" ele remexeu o chão com a ponta do sapato. "Eu tenho que ir. Trabalhar. Hum, nos vemos mais tarde?"

Abri a boca, mas não sabia o que responder. Apenas sorri e balancei a cabeça concordando.

Parecendo satisfeito consigo mesmo, Willard virou-se e foi por seu caminho habitual, rumo às forjas. Fiquei algum tempo realinhando os pensamentos.

"E então?" uma voz soou atrás de mim, fazendo com que eu me assustasse.

Anna estava de pé, com seu mesmo vestido branco da noite anterior e a capa com capuz marrom. Seus cabelos lisos estavam um pouco bagunçados, mas fora isso havia o sorriso habitual estava nos lábios e os olhos azuis brilhavam.

"Vi você conversando com Willard" ela disse de forma maliciosa. "Não quis interromper."

Observei, incrédula, me perguntando se a garota a minha frente era mesmo a minha melhor amiga.

"Anna"

"Vamos comer alguma coisa?" Ela me interrompeu, caminhando em direção a sua casa. "Eu estou morrendo de fome."

Caminhei atrás dela enquanto a garota procurava por entre potes, panelas e prateleiras de sua cozinha algo para comer. "Ah, tem pão" ela disse, apesar de que fez cara feia para o alimento após notar que ele parecia um pouco duro demais. Annastasia resmungou algo sobre desejar ser filha de Marta, para comer muitas comidas deliciosas, e continuou procurando.

"Onde você esteve?" Perguntei.

"Hum?" Ela desviou a atenção de sua busca apenas por um momento. "Ah, eu estava dando uma caminhada no bosque."

"A noite inteira?"

A garota parou subitamente o que fazia, olhou para o outro lado de sua casa, verificando se havia alguém, e me empurrou para fora.

"Não fale alto!" Ela sussurrou.

Cruzei os braços, esperando uma resposta. Anna suspirou.

"Eu não estava conseguindo dormir e fui dar uma volta, é só isso."

"De madrugada? O que você tem na cabeça?"

Anna respirou fundo, irritada. Ela ergueu as mãos para o alto.

"O que eu iria fazer? Bater na sua porta e perguntar se queria brincar na neve?"

"Não sair de casa, talvez?" Rebati. "Anna você viu os cavalos. Uma pessoa morreu. É muito perigoso sair a noite."

Ela se afastou, balançando a cabeça. Seu bom humor havia se desaparecido completamente. A segui, determinada a não deixar que a discussão acabasse dessa forma.

"Você sabe que pode me chamar a qualquer hora do dia."

"Você? Sair de madrugada?" A garota riu com sarcasmo. "Não ouviu suas próprias palavras Emilie?"

"Eu faria isso por você" falei.

"Mas talvez eu não quisesse você por perto" ela disse com ira.

Qualquer argumento que eu viesse a usar foi esquecido naquele momento. O rosto de Annastasia se amenizou um pouco, enquanto ela olhava em meus olhos.

"O que eu quis dizer..." A garota fez uma pausa. "Naquele momento eu queria ficar sozinha."

Tensionei o maxilar e dei um passo para trás. Não disse mais nada, e Anna também permaneceu quieta. Dei mais um passo incerto para trás. O silêncio machucava.

"Anna" tentei, a voz saindo vários tons mais baixa. "Por favor. Me prometa que você não vai se colocar em perigo desnecessariamente. Me prometa que não vai mais sair a noite."

"Não precisa se preocupar" ela balançou a cabeça.

"Por favor" pedi.

A loira suspirou.

"Tudo bem" sorriu, dócil. "Eu prometo."

Ela passou por mim, indo para sua casa. Meu peito doía, e respirar parecia uma tarefa muito difícil. Engoli em seco, mas logo não consegui conter as lágrimas. Quando éramos criança e brigávamos, eu sempre chorava. Mas agora eu não estava chorando por termos brigado, eu estava chorando por que sabia que Anna estava mentindo.

No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora