Capítulo 2

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Para Ana Paula (dos áudios) que já se casou com o Theodor. Para todas as leitoras lindas que tanto me ajudam, para cada uma. Obrigada.

A capa, como sempre, da minha linda Thaty Tennório, Obrigada!!!

Perlla, sonho realizado!! 



14 de Fevereiro de 2011

Serena

— "Nova York é linda no inverno, Serena. É a terra das oportunidades. Vamos voltar ricos para o México, casar e ter nossos filhos". Como pude acreditar nele por um ano inteiro? Como vim parar aqui? – A chuva cai sem piedade, minhas botas estão encharcadas, ando tentando me esconder em toldos por dois quarteirões. O frio corta a pele do rosto, e queima meu nariz enquanto caminho. – Quem tem cinco dólares para um guarda-chuva hoje em dia? – Todo mundo, menos eu. Falar sozinha parece que será um novo hábito. Agora que Ramirez partiu.

Que belo dia de San Valentin. Começou com ele anunciando que me enganou durante todo esse tempo, que uma garota grávida o esperava no México e ele estava voltando para se casar com ela.

Eu ainda dei a ele tudo que juntamos em três meses aqui. Eu não podia ser mais idiota. Não tenho dinheiro nem para viver até o fim da semana e dei minhas economias ao idiota do meu namorado... ex-namorado, para ele voltar para casa sem mim e viver a vida que sonhamos juntos, com outra pessoa.

Quando Ramirez bateu a porta eu decidi que nunca mais voltaria ao México e que aqui iria construir minha vida, foi uma cena digna de novela, bem no estilo "E o vento levou", depois da promessa, me atirei na cama e chorei por duas horas, até me lembrar que preciso de dinheiro e ficar de pé. A droga do jornal anuncia mil vagas, mas claro que a cada tentativa, algo dá errado. Nunca vão me dar uma oportunidade na terra das oportunidades. Ironia? Não, burrice pura e simples. Eu sou mexicana, meu diploma de técnica em enfermagem não serve por aqui, nada em mim serve por aqui.

Meu pé esquerdo afunda em poça de água suja quando viro a esquina. Nos filmes eles dançam na chuva, sapateiam naquela água limpinha e tudo parece mágico e lindo. Na vida real, é só lama e poeira e quando o gelo derrete, aí vira esse caldo preto e não tem qualquer glamour em se caminhar por essas ruas.

As pessoas passaram o dia apressadas, comprando presentes para seus namorados, todos dispostos a comemorar a data enquanto eu era presenteada com traição e adeus.

Aproveito um toldo verde de uma pequena loja de discos para tentar olhar o jornal, abro procurando o endereço. É um consultório de odontologia, devo ser capaz de atender telefones e anotar recados, quem sabe ajudar o dentista em seus procedimentos? A chuva ganha força, o excesso de água sobre o toldo pesa, cede e a água acumulada cai em uma cascata sobre mim, salto para o lado, evito o banho completo, mas o jornal termina inutilizado. É tarde, sete da noite, eu não encontraria mais o consultório aberto. Atiro o jornal se decompondo na lixeira, ergo a gola do casaco pesado e apresso meu passo.

Um quarteirão é tudo que consigo andar. A chuva se torna ainda mais forte. Tento me proteger mais uma vez.

— Bar Paradise. — O nome escrito nas janelas me faz pensar em chocolate quente e meias secas, é isso o paraíso. Encosto a testa na porta apesar da placa indicar que está fechado. Uma loira limpa um balcão longo de madeira com um pano branco imaculado. Toco a maçaneta e a porta se abre. Não penso muito, apenas salto para dentro grata por me livrar da chuva.

Uma gostosa sensação de calor me invade. Sim, é o paraíso. Corro os olhos pelo lugar, uma mulher está sentada sozinha em uma das mesas, com ela uma taça de champanhe. Me volto para a jovem atrás do balcão.

Série Paradise - Serena (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora