Capítulo 3

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Para Emily Alves, Rafaela, Larissa, Day, Rachel, Tay, Thaty.

Para as minhas lindas do jogo RPG. 



   Theodor

— Senhorita Le Grand, não pode... – Allison tenta impedir o furacão Emily de invadir minha sala, as duas entram juntas. – Senhora...

— Tudo bem, Allison, pode ir. – A jovem deixa a sala. Emily vem acompanhada de um garotinho.

— Em primeiro lugar quero dizer que eu o odeio e odeio mais ainda está aqui. – Ela gesticula de modo frenético.

— Em primeiro lugar. – Digo deixando minha mesa e dando a volta para ficarmos frente a frente. – Quero dizer que está vestida com penas brancas e que lá fora, uma pobre ave está com frio.

Emily é modelo, magra, alta, cabelos loiros na altura dos ombros e roupas extravagantes como aquelas que se vê em desfiles, mas nunca nas ruas.

— Sintético, idiota! – Ela esbraveja, não nos vemos há pelo menos três anos, nosso caso acabou há uns cinco, não sei bem o que faz aqui. Muito menos porque parece tão furiosa. O garotinho ao seu lado está assustado, olha para ela enquanto segura a barra do casaco branco gigante de penas. Quem anda na rua assim?

— O menino está pensando que é o abominável homem das neves, não devia gritar tanto.

— O menino é Andrew, seu filho.

— Agora eu estou pensando que é o abominável homem das neves. – Aviso um tanto chocado. Filho? Como assim filho?

— Andrew, esse é seu pai, é com ele que vai morar agora. – Ela avisa ao garotinho mudo. Depois ergue os olhos e me encara, eu devia dizer algo, mas perdi a fala. – Chega. Não vou mais cuidar dele, eu fiz isso nos últimos quatro anos, além dos oito meses em que esteve em minha barriga. Prematuro. – Ela avisa erguendo o queixo irritada. – Estou noiva e meu noivo vai sair em turnê pelo mundo. Ele é músico, baterista e...

— Ou é músico ou baterista, decida-se.

— Seu cinismo não vai resolver as coisas.

— Nem essa sua brincadeira de mal gosto. Filho? Não me lembro de ter tido um filho.

—Teve, eu achei que era melhor criá-lo longe de alguém cínico e insensível como você.

— Que pena que mudou de ideia. – Aviso para ser fuzilado por seu olhar.

— Andrew é muito pequeno, exige demais de mim. Deixei Los Angeles essa manhã apenas para trazê-lo e estou partindo para a Europa por um ano. Ele é seu. Todo seu, está na hora de assumir responsabilidades.

Em um gesto teatral, ela deixa sobre a mesinha de centro uma pasta, se volta para o garotinho, parece séria, Emily nunca foi conhecida por ter um coração. Agora isso parece bem certo.

— Eu ligo as vezes, podemos nos ver nas férias, não chore. – Ela beija seus cabelos, o menino está apático, não reage, não compreende. – Tem tudo que precisa saber sobre ele nessa pasta. Não se atreva a duvidar da paternidade, eu adoraria que ele fosse filho de qualquer outro mortal.

—Eu também! – Ela me dá as costas, ergue o queixo e caminho como se estivesse em uma passarela até a porta. Se volta, joga os cabelos, me encara. Tenho a impressão que ensaiou isso uma dúzia de vezes.

— As malas dele estão na recepção. Não tente me impedir, estou sufocada, preciso viver. Adeus, Fitzalan.

A porta bate, eu e o garotinho piscamos juntos com o estrondo. Ele se volta lentamente e me encara. É bem pequeno, cabelos dourados, magro, apático.

Série Paradise - Serena (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora