Definitivamente estava no inferno.
Tudo o que eu sabia sobre 1718 era que as mulheres não tinham voz própria, eram obrigadas a usar roupas ridiculamente longas e feias, resumindo: Não sabia porra nenhuma.
Varias coisas assustadoras invadiram os pensamentos:
MAMÃE E PAPAI NÃO NASCERAM AINDA
NÃO ERA PRA EU EXISTIR
NÃO EXISTE CELULAR
Os oficiais me olhavam intrigados, obviamente, uma adolescente não casada que estava agindo como louca, se eu continuasse assim seria levada com certeza ao hospício.Eu tinha que me portar corretamente. Mas assimilar tudo aquilo não era a coisa mais fácil do mundo.
— A enfermeira, Mary, disse que você deve ter batido a cabeça, provavelmente perdendo parte da memória, ainda bem que te encontramos no bosque a tempo.- o oficial falava aquilo com muito calma, provavelmente achando que eu era algum tipo de retardada.
Bom pelos menos eu tinha acabado de descobrir duas coisas: 1º coisa o nome da Piranha que me drogou era Mary. É definitivamente a 1ª piranha que eu conheço com nome religioso.
2º coisa: eu podia usar como desculpa a minha " amnésia" para fazer varias perguntas aos oficiais, isso seria interessante.
— Tentamos achar os seus parentes srta. Cherrise, mas eles alegaram que não te conhecem, por acaso você não se enganou quanto ao seu sobrenome?
Congelei. É óbvio que eles não me conhecem, sou do futuro, mas que anta.
Respirei pela milésima vez nesse dia e decidi mintir sobre tudo.
— É provável, oficial confesso que não lembro de quase nada. Acho que estava vindo para essa cidade em busca de algo que não consigo mais lembrar.
Os dois riram como se o que eu tinha acabado de falar era uma piada.
— você disse que não era casada ainda, madame. Deve ter vindo para o festival da lua, onde mulheres da sua idade que não se casaram tentam encontrar alguém.
Minha boca formava um "o" enorme. Não podia acreditar que essa palhaçada existia, minha vontade era de rir, mas eu tinha que continuar com o personagem.
— Mas é claro! Lembrei agora! - disse dando o sorriso mais falso da minha vida.
Depois disso, os oficiais me contaram varias coisas chatas de tipo como era perigoso para uma mulher andar desacompanhada e principalmente no bosque, me poupe amor.
Eles também me levaram para uma espécie de sede do hospital, cof cof hospício, em que haviam pessoas que estavam com amnésia também. E que em breve quando eu voltasse ao meu estado normal eu poderia voltar para casa.
Isso seria no dia de nunca, eu não tinha casa e muito menos pretendia arrumar uma aqui.
A sede era grande, todas as paredes eram brancas como a do hospital, mas eram mais medonhas, o cheiro de remédios era detestável e estava impregnado em todo o lugar, as pessoas eram loucas mesmo, algumas berravam mesmo, outras apenas encaravam o chão como se fosse a coisa mais interessante e não vou mentir, provavelmente era.
Meu quarto era bem pequeno, Mary, a vadia parecia se deliciar com aquela situação. Ela me entregou os meus horários das refeições e o dos meus remédios, hahaha remédios.
Um vestido branco foi me entregue também, era na altura dos meus pés, aquilo só podia ser brincadeira.
Já tinha me trocado, quando decidi ir na sala de refeição pegar algo para comer e pensar no pesadelo que estava tendo/ vivendo.
Em alguma hora eu iria acordar. Eu tinha certeza. Isso só podia ser um pesadelo. Então por que não aproveitá-lo?
Já chegando na sala de refeições, me deparo com vários loucos no caminho, mas ignorei. Decidi pegar uma maçã que estava incrivelmente vermelha mas a mesma acabou caindo, me abaixo para pegá- lá, mas alguém é mais rápido que eu e a pega.
Me levanto e vejo os mesmos olhos cinzas da criatura. É Um garoto, parece ter a mesma idade que eu, cabelos incrivelmente pretos, pele pálida, diria até que ele era atraente, mas estava sorrindo. Sorrindo para mim, não do tipo " ei vamos ser amigos? " mas do tipo " você é meu novo brinquedo".
Me arrepio com o pensamento. E quando percebo vejo que ele mordeu a minha maçã. Ele dá mais um sorriso e me diz:
— Me chamo Salazar. É um imenso desprazer te conhecer, nos divertiremos muito.- ele fala lançando um sorriso nada amigável.
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Keppler
HorrorWelcome to Keppler... Welcome to die. Rafaela Cherrise não faz ideia do que a espera na velha e estranha cidade. Perigos, segredos de família e muita... muita encrenca. Caso você, leitor, não tenha medo do escuro tente acompanhar essa saga de terror...