Noite

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Londres, sex 13 [3:30]

  Ando a passos largos e rápidos. O trabalho sugou tanto a minha energia que só de eu estar de pé já era uma vitória. Eu estava ofegante, cansada, as luzes da rua quase vazia faziam meus olhos arderem, então andava de cabeça baixa, suspirando. Por que trabalhei até tão tarde hoje? Eu nem irei receber por isso, mas mesmo assim não consigo deixar de pensar nessa merda! Já foram 5 mortes em menos de uma semana, está todo mundo me dizendo que parece ser um caso de serial killer, mas há muita coisa estranha nisso, mais do que o normal, os padrões estão estranhos, e estamos sem nenhum suspeito....as mortes com certeza foram feitas por um profissional! Mas não faz sentido nenh-

  Meu corpo bateu em algo alto e robusto, certamente era uma pessoa:

—Arg! Me desculpe! O senhor está bem?

  Isso parabéns para mim, trombei em um sujeito estranho no meio da madrugada com mais ninguém em volta e ah, isso aí, mal me aguento em pé e estou sem arma nenhuma. Puta que pariu.

  Levantei meu rosto para olhar o cara, e ele estava me encarando impassível.

  Certo, isso ta ficando mais estranho ainda. Eu vou dar o fora daqui:

—Erm...se me der licença, preciso ir embora, estou beeeem cansada. Sabe como é né? Haha. E desculpa de novo!

  Dei as costas para ele mais rápido que o papaleguas, e sim, saí correndo mesmo, faltou só o fogo saindo do meu rabo mas o cu tava trancado.

  E então finalmente cheguei na maldita casa. Pelo caminho todo fui olhando para trás, conferindo se havia alguém me seguindo, eu sou treinada para isso, então acho que não tinha mesmo, o que foi um grande alívio. Fiz a coisa mais prazerosa do dia de uma mulher que trabalha o dia todo com a merda de um sutiã apertando as teta, que era justamente tirar esse aparelho de tortura, e nossa.....ah que sensação boa, até sentei no sofá quase peladona mesmo....

  Acordei no susto com um barulho alto.

  Como assim eu dormi? Eu só pisquei!

  Ouço outro barulho, que fez eu me tocar que eu tava fodida, porque só podia ser aquele sujeito estranho lá. E pior, eu estou quase pelada, ai que lindo. Pelo menos eu tenho uma pistola aqui na gavetinha da sala, e o som está vindo da cozinha, um dos poucos cômodos do apartamento que têm janela. Reviro os olhos, mas que surpresa.

  Pego a arma da gavetinha, olho em direção a cozinha, respiro fundo, me agacho. E lá vamos nós.

  Lentamente e furtivamente, vou me aproximando do batente da cozinha, já que ela não tinha porta. Dei uma espiada e...nada. Ué, como assim. Olhei novamente e nada. Ta, então vai ser na abordagem dramática de polícia mesmo. Levantei e entrei com tudo lá, acendendo a luz bem rápido. Olho em volta e nada também! O caralho cadê essa desgraça, eu sei que eu não sou esquizofrênica!
 
  Mirei meu olhar em um dos armários e nossa, tinha uma gosma preta descendo de lá. O desgraçado cagou meu armário! Chego mais perto para abrir aquela cagada, e não, não tinha nada ali também, só um monte de gosma. Suspiro alto:

—Vai ser horrível limpar isso aqui, nem quero saber da onde veio, e melhor pra mim.

  Certo, os barulhos acabaram, mas preciso ficar atenta, pois ele aonda deve estar aqui. Suspiro de novo, mas dessa vez sinto algo muito pesado atrás de mim, tenho um péssimo pressentimento, tão pesado que chegava a sufocar. Eu sabia, tinha certeza que havia algo atrás de mim, e só para confirmar mesmo, senti um ar gelado sendo soprado no meu ombro, o que fez eu me arrepiar de nervoso. Tenho que pensar em meus movimentos, qualquer passo errado e eu estarei morte em um piscar de olhos. Imagine a manchete incrível que daria: "investigadora é encontrada morta pelada e estirada no chão de seu apartamento". Talvez seja até melhor que morrer no banho. Credo.

  Em um movimento rápido, eu me jogo com tudo no chão, atirando em direção ao que estava atrás de mim. Ouço um grito, a lâmpada estoura em uma mini explosão e eu aqui largada no chão. Me levantei e saí correndo para a sala, ouvi passos e vejo um vulto grande na entrada da cozinha. Rá, sabia que era aquele moço, e olhando direito para ele agora, me lembra o Frankenstein, sério. Ele levanta suas enormes mãos, deixando a mostra sua machete. Uau mas que clichê.
 
  Atiro nele. Um. Dois. Três tiros no peito. Ele simplesmente continuou em pé!

  Como assim!? Atiro mais vezes, descarrego minha pistola nele, e ele lá parado, só escorrendo sangue. Tudo bem, agora eu realmente estou muito assustada, e olha que isso é difícil.

  No desespero, eu jogo minha arma na cara dele e saio correndo para o banheiro. Me tranco. Estou eufórica, pelada e suada.

  Poucos segundos depois, ouço um baque na porta. Depois um segundo. E no terceiro, uma lâmina atravessa a porta.

  AGORA FODEU MUITO.

  Olho em torno do banheiro inteiro para achar algum meio de me defender. Os baques na porta continuavam, a até que um buraco se formou e de lá eu vi aquele monstro me observando, seus olhos negros fixos em mim, e então ele continuou batendo.

  Mais desesperada ainda, eu pego o rodo, e soco o pau pelo buraco com toda a minha força. O homem grunhe de dor, tinha acertado um dos buracos de bala. E parece que isso só serviu para irritar ele pois agora o bicho está CHUTANDO A PORTA!

  A porta num estrondo se abre. Eu fecho os olhos com força, pois não havia mais nada a ser feito a não ser aceitar. Eu estava indefesa e encurralada, só podia aceitar a morte logo. Eu estava triste. Triste por ter que acabar assim. Eu tinha tantos planos, tantos sonhos, tantos desejos. Ia comer strogonoff no dia seguinte, investigar mais ainda aquele caso. Eu queria ter amado. Ter abraçado. Ter sentido mais. Ter ajudado mais. Ter me esforçado mais. Queria ter sido mais feliz, ter feito mais coisas para mim mesma. Mas parece que o meu tempo chegou ao fim. Pelo menos não passei vontade nenhuma.

  O monstro estava na minha frente, com aquela mania ridícula de me encarar. Ele levanta sua lâmina, e a desce rapidamente...

  Molhado. Sinto meu corpo todo molhado. O cheiro era de sangue. Os sons eram de pingos e de coisas caindo no chão. Abro meus olhos e vejo partes de corpo pelo banheiro inteiro, o chão lavado de sangue. Olho minhas mãos, e elas estão encardidas da cor vermelha. Levanto minha cabeça e vejo alguém. Um vulto puramente negro. Tinha cabelo comprido, e só dava para ver um sorriso debochado. Quem era aquilo?

—Quem é você?

  Uma voz indefinível respondeu:

—Eu? Você sempre saberá, mesmo que-

.

.
.

  Acordo com um barulho estrondoso. Era o despertador. Abro os olhos e percebo que tinha dormido no sofá. Mas que cacete de sonho doido. Não devia ter comido aquele cogumelos fitness da Lúcia. Mas só para garantir, fui até o banheiro. Não tinha nada. E nem na cozinha. Ufa, ainda bem que foi um sonho mesmo. Mas agora....ESTOU ATRASADA PARA O TRABALHO, AI CARAMBA!

La DevoteeOnde histórias criam vida. Descubra agora