Inimizade

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  Novamente, passos rápidos, euforia, mas dessa vez sem estar quase morrendo. Consegui ficar toda pomposa para ir trabalhar, hoje é um dia muito especial para mim, esperei muito tempo por isso!
  Passo pelas portas automáticas da delegacia e vejo Lúcia, a recepcionista gostosona, digitando algo no computador na velocidade da luz:

  —BOM DIA CARMEN LÚCIA! SUA MOCRÉIA! — Grito alto como a imbecil que só passa vergonha que sou.
  
  A mulher da um pulo que a faz dar uma palmada no teclado, fazendo ser ouvido aquele barulho de erro vindo do computador:

—Caralho! Você está louca Jurandir? Quem é a retardada que grita em uma delegacia? — Disse Lúcia com um olhar raivoso.

—Euzinha aqui, hehe.— Digo com a cara mais menos inocente que eu tinha. — E ah, Lúcia do céu, avisa quando for dar algo alucinógeno para mim, porque nossa, ontem eu tive o sonho mais doido da miha vida! Parecia que eu tava em um episódio de Stranger Things, credo.

— Ah pronto, o PC travou. Agora vou ter que reescrever essa bosta de agenda inteira! É melhor você sair daqui antes que eu enfie o mouse pela sua boca e saia pelo seu cu. — Disse de uma forma tão calma, que me senti ameaçada e saí de fininho dali. Eu ein, deve estar de TPM.

Me dirijo a meu escritório, deixo minhas coisa lá, e vou para a sala de investigação. Minha equipe já estava lá arrumando as coisas. O quadro de possíveis suspeitos estava montado e as fotos ligadas com vários riscos de cores diferentes, levando a pontos diferentes. Comprimento meus colegas e sento na cadeira, pegando a pasta de relatório do caso, logo começando a ler.

Um dos membros se aproxima. É Jason, talvez um dos que eu era mais próxima, que diz:

— Então hoje é o grande dia! Meus parabéns, senhorita. Acho que foi muito merecido mesmo! — Um sorriso genuíno estava estampado, e eu, bem, sorri de volta.

— Ah, muito obrigada! Estou muito ansiosa. Trabalho aqui há 6 anos, fiquei surpresa quando me disseram. Fico feliz por todo mundo concordar com isso.

— Mas então, em qual horário será?

Olho para o relógio que fica atrás de mim e respondo:

— Se der tudo certo, daqui 10 minutos! — Minha emoção é evidente. Todos tinham parado para ouvir a conversa. Estavam sorrindo.

Volto a ler os relatórios do último assassinato. Certo, a autópsia revelou que ele havia morrido por....drenagem de sangue? Mas e as marcas de corte nos ombros e no tórax? Que é igual a das outras mortes, mas, apenas nesse corpo  que há quase a falta total......espera aí......seria isso algum tipo de-

— Ahadi! Chegou a hora! — O quase ex-delegado, veio me chamar, sorrindo por baixo daquele bigode horrível, se é que aquilo é um bigode. Mas eu estou feliz da vida, só levantei e fui sem dizer nada.
 
Ele me guiou até o pátio da delegacia, onde estava tudo arrumado para a minha promoção como delegada. Todos enfileirados e a espera do acontecimento. Eu mal cabia em mim tanta felicidade! Caminhei pelo tapete vermelho no meio das pessoas para ir até a pequena plataforma de madeira, onde seria a cerimônia. Mesmo que fosse só eu sendo promovida hoje, eles fizeram questão de arrumar tudo para mim, o que me deixa emocionada.
Lá de cima, vejo todos os rostos na platéia. Tudo pessoal que conheço. Acho que quase a delegacia toda estava ali para ver. Que emoção!

Escuto o microfone ser ligado, todos se posicionam. Senhor Smith estava prestes a falar. Arranha a garganta, e quando abre a boca, a porta é escancarada ruidosamente, e de lá passa uma mulher.

Acho que agora seria o momento em um filme que ficaria em câmera lenta. Ela, com passos de modelo, em um salto agulha absurdo, nem sei como se anda naquilo, sério. Vestida de um terno e calça pretos, sua camisa por baixo era bordô, batom vermelho puta berrante nos lábios, cabelo pretíssimo num coque acho que excepcional, pele branca de dar réstia, e os olhos....da cor lilás? Deve ser lente.

A mulher vem em direção a plataforma de forma confiante, antes de subir, olha para mim e sorri. Eu lerda que sou, demoro um pouco para perceber, mas vejo que era um sorriso de puro deboche. Trinco meu maxilar. Ah mas eu fiquei puta. Aquela cavala vai até o microfone, Sr.Smith havia recuado, com cara de preocupado. E então, ela começa a falar:

— Senhoras e senhores! Sinto lhes dizer que a promoção do dia de hoje, na verdade, será minha. — Mas que voz desgraçada é essa? Rouca e.... PERA! PERA, PERA, PERA! O QUE ELA ACABOU DE DIZER?

—Erm, com licença, mas quem é você? — Eu disse com a maior calma do mundo, mas a vontade era de fazer ela engolir aquele microfone.

— Ah, queridinha, eu sou do alto escalão, e eles me mandaram aqui para ficar de olho nessa área. Uma das melhores agentes deles. Eu serei a nova delegada, não você.

Ok. Respira. 1,2,3, você consegue. Não faz uma cena. Faça tudo na sua cabeça, Ahadi, vai passar, você sabe que vai. Pensa em gatinhos fofinhos, cachorrinhos, naquele hamburgão. Isso mesmo. Pronto, to calma. Então agora:

— Oh, é mesmo? Parabéns então. Boa sorte. — Falei com uma simpatia chocante. A platéia parecia morta de tão quieta, estavam todos surpresos afinal.

Dei as costas e fui embora na maior classe e glamour possível, para parecer inabalada quando estava quase explodindo. Fui até meu escritório e lá, desabei.

Caralho! A vida é uma vacilona que ama brincar com a gente. Foi tipo, do nada! Sem aviso prévio nenhum! Eu sei que isso pode acontecer, tenho 26 anos nas costas, mas sério! Arg que ódio! Parece até que isso foi proposital. Mas aquele sorrisinho......aaaaaaaa! Só pode ter sido de propósito mesmo! Aquela cobra albina! Eu acho....que odeio ela.

Não estou chorando. Eu odeio isso, me sinto fraca. Então só fico murmurando essas coisas baixinho. Ao fundo, posso ouvir que aquela cobra albina está fazendo um discurso, e o pessoal estava animado. Eu só respirei fundo e mantive a cabeça deitada na mesa, minha cabeça latejando, desejando um copo de café.

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2018 ⏰

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