Uma luz de um quarto se destaca no meio da escuridão da cidade, murmúrios vêm de seu interior. Pessoas formam uma roda em torno da cama e começaram a repetir as palavras, dessa vez mais claras. Estão rezando. Deitada naquela cama estão duas garotinhas sentadas, seus pijamas de cupcakes são idênticos, assim como seus rostos. Parecem assustadas, mas isso não impede do grupo de homens e mulheres continuar suas preces. Uma delas toma coragem e tenta levantar da cama, mas logo retorna ao ver sua irmã sozinha. A noite das duas será longa, uma depende da outra, estão juntas hoje e sempre.
É um dia cinzento de outono, as nuvens carregadas anunciam a chegada das chuvas na região. Na floresta as folhas alaranjadas iniciam mais um ciclo da natureza desprendendo-se os galhos secos das árvores e caindo lentamente no chão com um balanço suave. Um pequeno veado está parado comendo algumas folhas da grama restante, calmo, porém atento a qualquer movimento, ele caminha tranquilamente pela sua casa.
Uma voz sussurra algumas palavras em um tom que ele não possa escutar e de uma distância segura.
-Um desses pode chegar a noventa quilômetros em fuga, sua audição apurada pode ouvir pequenos ruídos a metros de distância.
Uma mulher de capuz está com sua mão apoiada no rosto, parece calcular a distância até o animal. A ponta de seu dedos seguram uma corda e uma haste de madeira. Segura um arco com firmeza, a ponta da flecha mostra o alvo, respira fundo, puxa um pouco mais a corda para ter certeza que terá velocidade o suficiente para acertar o alvo.
-Apenas uma tentativa. Ele pode ouvir chegando e desviar. Uma tentativa, é tudo que tenho.
Novamente ela respira fundo, mas dessa vez prende o ar em seus pulmões. Em um gesto de concentração, é possível ouvir seus batimentos cardíacos, estão mais acelerados que o normal. Buscando se acalmar, libera o ar preso com um suspiro, que também libera a tensão em seus dedos. Ela então solta a corda, lançando a flecha.
O vento está a favor e a arma toma velocidade, mais do que calculou, a morte é certa, a caçada seria bem sucedida e levaria seu prêmio para casa. Mas quando a flecha está prestes a acertar o alvo, uma outra a intercepta no ar, o choque faz um som de madeira colidindo e ambas giram no ar antes de cair no chão. O som faz o veado correr floresta dentro e desaparecer entre o marrom das árvores. Talvez a vida tenha lhe dado mais uma chance.
-Merda. Mais um dia de caça, lá vamos nós de novo.
Uma mulher mais velha se aproxima, também segura um arco parecido, se não fosse as imagens entalhadas, o fio de corda dourada. Os olhos com um verde penetrante denunciam o parentesco.
-Ainda precisa melhorar. Vamos de novo.
-Mas Oma, estamos aqui há três dias!
-E ficaremos mais três se não conseguir. Vamos logo antes que perca o rastro. Você também fedelha, saia detrás das árvores e ajude sua irmã ou ficaremos aqui por uma semana.
Uma outra garota se revela atrás das árvores, também com um arco simples em suas mãos.
-Sim, Senhora.
Oma observa as duas conversando entre si, tentar rastrear o animal e por um momento não vê mais duas mulheres, mas sim duas crianças ainda aprendendo a arte da caça e com um sussurro ela diz algumas palavras em outro dialeto. E se aproxima das duas.
-Vamos minhas sobrinhas, está quase anoitecendo. -ela aponta uma direção. -É por ali.
Horas se passam, a noite cai e os rastros se misturam a terra e desaparecem. É impossível continuar. Sem luz, com frio e exaustas, resolvem passar a noite em um pequena caverna que encontraram mais cedo. Em volta da fogueira, as meninas logo adormecem, estavam cansadas demais para fazer qualquer coisa além de se deixar levar pelo cantar dos grilos e a calmaria das árvores. Oma por outro lado, permaneceu de vigia a noite inteira, estava acostumada a dois ou três dias sem sono, a preocupação com as garotas era visível, sempre que podia, olhava para ambas dormindo tranquilamente ao seu lado com um olhar de complacência. Assim se seguiu até quase o amanhecer, quando a pulseira em seu pulso piscava em luzes vermelhas.
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Dança das Lâminas - A Força Vem de Dentro
Random-Nós não lembramos do nosso passado, mas ele insiste em nos assombrar. -Um acampamento escondido do mundo. Parece o lugar perfeito para reinar a paz e tranquilidade. Mas segredos místicos e artes milenares chamam a atenção de pessoas poderosas. Após...