Por trás das câmeras

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- Eu quero que você vá embora, cansei de ter que lidar com o seu caos, é sempre assim, quando só falta uma peça para concertar tudo, você aparece e mostra que todos os meus esforços foram em vão, eu rogo aos céus para me fazer te esquecer, é tão difícil, eu queria conseguir me amar o suficiente para entender de uma vez por todas que não preciso de você, porque dói, dói saber que todo meu amor te pertence e machuca ter a plena consciência que você não se importa, mas esse é meu ponto final, você é meu limite e eu cansei de você - seu roto estava vermelho, algumas lágrimas escorriam pelo mesmo.

- É muito fácil me culpar por tudo, eu errei, mas não fui o único, de qualquer forma, tanto faz, só não me venha chorando de madrugada, quando se arrepender e quiser voltar!- minha vez de gritar um pouco.

- Não se preocupe isso não vai acontecer, pegue suas coisas e vá embora - ela entrou no quarto e bateu a porta e a câmera se aproxima do meu rosto para focar na minha expressão.

- Corta, por hoje é só, pessoal- o diretor fala e as pessoas no set começam a se mover, câmeras para um lado, cenário para outro.

- Mok, preciso falar com você - o homem baixinho de óculos, barba por fazer, fios grisalhos e cachecol azul se aproximou de mim.

- Sim, diretor.

- Olha Mok, sei que hoje foi o primeiro dia de gravações, mas só quero te lembrar que seu personagem é um namorado babaca, egocêntrico e no fundo um sensível de merda que tem medo da própria vulnerabilidade, então por favor, aja como tal - ele se exaltou um pouco, isso certamente foi uma bronca disfarçada de conselho.

- Senhor, minha atuação está ruim? - não sei se pude esconder o desconforto em minha voz, são nesses momentos que sei que meus esforços não são suficientes.

- Não, longe disso, suas expressões estão boas, só precisa ter mais entonação na fala, um pouco mais ríspido, okay? - apenas assenti com a cabeça e recebi um sorriso de fumante em troca.

Segui meu caminho rumo ao setor dos camarins, de frente ao meu camarim, mais conhecido como salinha apertada com roupas, sofá e guloseimas, estava o de Mi-Cham, a garota que contracenava comigo, não nos conhecíamos e muito menos pude trocar se quer um " bom dia " com ela antes das gravações, talvez seja por isso que não consigo" gritar " com a mesma e mesmo que a conhecesse, não conseguiria, por que fui aceitar esse papel, não sou arrogante, e nunca trataria uma pessoa importante para mim da forma que meu personagem age, mas tenho que encarar isso como um desafio, um bom ator se entrega ao personagem, dá vida a ele, o torna real.

O que atiça minha curiosidade é a forma como vi Mi-Cham atuar, ela realmente estava entregue, é muito difícil chorar em uma cena, acho que se eu a conhecer melhor, vou me soltar mais durante as gravações, só tenho receio de não nos darmos bem.

Depois de um tempo encarando a porta do camarim dela, tomo coragem para bater.

- Com licença !

- Pode entrar - Mi-Cham responde e abro a porta adentrando no local.

Ela estava sentada em um puff, com um bolinho em uma das mãos e folhas, provavelmente o roteiro, na outra, só desviou o olhar das mesmas quando ouviu o barulho da porta, se fechando.

- Senhorita Mi-Cham, sou o Mok, mas isso provavelmente você já sabe - desviei meu olhar para o chão, talvez tenha sido a apresentação mais tosca e desnecessária da história.

- Sim, sim, eu já sabia - sorriu divertida - Mas é sempre bom, uma apresentação direta.

- Isso mesmo - soltei o ar e voltei a olha-lá, pelo menos não me achou esquisito, espero.

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