Visita

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Ah! Foi a primeira vez que tu me envolveste. Oh escuridão! Tu fascinas-me, tu compreendes-me. Quero mergulhar em teu seio até a eternidade em um prazer conturbado. Ah! Doce, doce.

Em uma pequena casa no subúrbio da capital alemã um fenômeno nunca divulgado para a humanidade estava acontecendo. Uma pequena garota ressonava baixinho em sua cama, perdida em um sono sem sonhos. O quarto parecia tomar vida própria, as paredes pesadas rangiam em pura lamúria. A vida enfrentava a morte. Ninguém queria estar naquele cômodo, nem mesmo os móveis ou as tapeçarias. Aquilo não era para estar ali. Aquele não era seu lugar.

A respiração da garota estava irregular, calafrios tomavam conta de seu corpo, até parecia que estava tendo um pesadelo, porém este não estava estagnado no mundo das idéias. Os olhos escuros abriram-se, confundindo-se em meio a escuridão do quarto. Miriam encarou a parede a sua frente, visto que sua cama ficava encostada a ela. Era sua impressão ou ela estava congelando? Literalmente.

Não era possível. O frio do outono não era capaz de fazer aquilo.

A morena respirou fundo, trazendo o cobertor para mais perto do rosto. Estaria ela sonhando? Nunca tivera paralisia do sono antes. Talvez fosse isso, ela deveria apenas fechar os olhos e voltar a dormir.

Dormir eternamente.

Um calafrio percorreu a espinha dorsal da menina. Tinha a sensação de ter alguém atrás de si. Isso não era possível. A adolescente tinha certeza de ter trancado a porta do quarto antes de dormir.

Um suspiro fora deixado pelos lábios de Miriam em um vapor visível a própria. Não ia ter como dormir daquele jeito. Não tinha outra escolha a não ser ligar o aquecedor geral, apesar de não ser inverno.

Virou-se preguiçosamente na cama, de olhos fechados em pura preguiça. Voltou a abri-los e deparou-se com uma cena irreal. Não tinha como ser uma paralisia do sono não é mesmo? Afinal tinha se mexido com sucesso.

- O que é isso? - Questionou-se baixinho ao observar o estado de seu quarto.

As paredes estavam congeladas até o teto em uma fina camada de gelo negro. Os móveis continham diversas rachaduras, como se os mesmos tivessem tentado moverem-se sozinhos. As cortinas pareciam cobertas de algo pegajoso e, pelo que a escuridão do quarto lhe deixava notar, vermelho.

Com cautela a garota levantou de sua espaçosa cama, esta que até o momento parecia ser o único móvel ali que permanecia intacto. Ao estar de pé uma voz pareceu sair de seu leito, chamando-a em desespero, como se por culpa da garota algo de ruim fosse acontecer com aquele pedaço de madeira. Suas sobrancelhas juntaram-se em confusão ao ver o mobilia remexer-se e começar a romper-se, ficando num estado parecido com o das outras peças de madeira a sua volta.

Um ar gélido saiu de sua cama fazendo com que a camisola e os cabelos da menina esvoaçassem-se ao seu redor em um redemoinho. Vagarosamente a garota foi recuando, sem nunca tirar os olhos do objeto alvo daquele fenômeno que nunca vira antes. Não ligava para o frio que subia por seus pés. Descalça, ela seguiu até a porta de seu quarto.

Conforme se movia a garota podia ouvir rangidos vindo de todas as direções daquele quarto. O corpo da adolescente arrepiava-se com o frio do ar que a envolvia. Continuou seguindo até a saída do aposento sem nunca desviar o olhar de sua cama. Queria poder registrar aquilo. Onde estaria seu celular em um momento como aquele?

Levou seu braço para trás de seu corpo a fim de tatear a madeira da porta, porém não fora isso que sentiu em meio aos seus dedos e sim algo macio e gelado. Recuou rapidamente sua mão e virou-se na direção que estava a porta. Novamente seus sentidos se contradiziam. Nada estava lá a não ser o meio de acesso ao corredor de sua moradia.

Amigo além do corpoOnde histórias criam vida. Descubra agora