PRÓLOGO

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Texto retirado da primeira folha do caderno de anotações de Francisco Ethan Gades

Vou começar escrevendo a partir dos fatos ocorridos após minha mãe ser assassinada e eu ter de ir morar com meu genitor e sua nova família.

Primeiro, lutei para que meus pés dessem meia volta e me fizessem correr sem parar, sem rumo, para longe dali. Falhei. Segundo, desejei que meus braços se abrissem o suficiente para que não conseguisse passar pela porta da casa, e, novamente, falhei. Terceiro, fui recebido com olhares de desprezo da minha madrasta. Do meu pai, recebi um soco forte na parte de trás da minha cabeça: eu caí de bruços no chão, e enquanto estava tomando o fôlego, fechei meus olhos, aguentando o choro, ciente de que seria apenas um novo começo. Eu precisaria sobreviver a tudo isso outra vez. Agora, sozinho.

Foi o que ocorreu naquela manhã em que vim morar com meu pai e sua nova mulher e, desde lá, venho sendo submetido a coisas que me marcam, além de ser obrigado a cometer crimes.

Eu sou um pássaro solto preso numa gaiola invisível, porém existente.

Procuro ser pedra, busco ser gelo, e é em vão. Não há uma muralha forte o bastante para conter os danos ou para me salvar da dor na minha carne, ou das feridas do meu psicológico.

Eu sou um pássaro solto nesta maldita cela invisível, a qual me cerca mesmo a quilômetros de distância.

Parece ser impossível essa ave se libertar; lutar parece ser perda de tempo, mas eu tenho esperança de um dia conseguir voar batendo as asas bem forte e cantar minha liberdade a plenos pulmões. Enxergando a luz do sol da manhã e o brilho da lua à noite de forma aconchegante.

Pois é, amigo, vai se acostumando, porque é em você que vou depositar tudo o que por anos me desanimou. Será meu confidente mais confiável. Não será meu diário, e sim meu leal amigo para quando a minha verdade precisar ser exposta ao mundo.

Submerso em OssosWhere stories live. Discover now