Prólogo

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Electra Steel - Florida

Já se passava da meia-noite e ainda dava para ouvir os gritos que vinham do andar de baixo.

Minha irmã finalmente dormiu cansada de chorar e os dois parecem nem perceber o quanto estão afetando a garota.

Eu pensei que depois da terapia essas discussões deles haviam pelo menos diminuído, mas não, parece até que piorou.

Imediatamente eu me arrependo de ter vindo passar o final de semana aqui. Meu pai vive me cobrando a minha ausência em casa, mas quem iria querer ficar em uma casa que mais da metade do dia são brigas?

O triste é que eles não eram assim, lembro muito bem quando Gina veio aqui, eu era só uma menina com sete anos, que não tinha nem uma referencia materna. Não que eu esteja reclamando, meu pai sempre supriu minhas necessidades, mas uma mãe faz falta.

A única coisa que sabia sobre ela era que seu nome era Tereza e que não aguentou a pressão do casamento e filho, dando no pé assim que eu completei meu aniversario de um ano. Meu pai deu duro pra me criar, na época ele era só um policial novato com uma enorme responsabilidade nas mãos. E ele deu conta. Ele sempre dá.

Eu pensei que o buraco que minha mãe tinha deixado no seu coração jamais iria se fechar, mas fechou. E então Gina Marin apareceu com todo sua potência e magnetismo, exercendo um papel que não foi lhe obrigado nesse relacionamento.

Ela foi a mãe que me faltou nos nove anos. E que foi muito bem recompensado depois.

Parece que assim que ela apareceu tudo começou a melhorar na nossa vida. Meu pai foi promovido a delegado, Eu ganhei uma bolsa de estudos na escola particular da cidade, nos mudamos para uma casa de verdade, não que o pequeno apartamento no centro não fosse bom, mas eu sonhava com uma casa e uma mãe cozinhando para mim. E aí logo depois ela nos presenteou com Tessa. Minha irmã.

Era meu aniversario de dez anos e me lembro de sempre te pedido pra ela uma irmã. Então logo depois que apaguei a vela na pequena comemoração entre nos três, ela nos contou que a família iria aumentar.

Sabe quando pensa que a felicidade plena não existe? Naquele dia existiu. Aquele foi meu melhor aniversário e nove meses depois essa felicidade voltou como sendo o melhor dia da minha vida. Minha irmã nasceu.

Mas então doze anos depois estamos aqui e eles nem parecem mais aquele casal apaixonado e inabalável. Não sei quando as coisas começaram a desandar, talvez foi quando comecei a faculdade. Não sei, só sei que a cada ano piora e isso não está afetando só eles.

Como eu disse já se passam da meia noite e os gritos não param. Parece que hoje a discursão foi por conta de uma pilha de roupas para dobrar. Gina chegou cansada do plantão de enfermagem e meu pai não tinha plantão na delegacia, o que se entendia que ele tinha que fazer as tarefas de casa. Porém um pequeno esquecimento gerou isso tudo.

A verdade é que eu não aguento mais. É por isso que só volto uma vez ao mês pra florida. Eu sei que logo minha faculdade acaba e que não tem mais como escapar, mas viver assim não dá mais.

É quando eu decido descer, a pequenos passos calculados desço a escada que da para a sala de estar e lá estão eles em pé e discutindo.

– Chega! Não dá mais Chris... você não entende que isso não está mais funcionando. – Gina grita mais uma vez.

Meu pai simplesmente senta no sofá aparentemente esgotado e abaixa a cabeça.

– Fassa o que você quiser Gi...

Dou um passo para frente e faço barulho e é quando o foco deles muda para mim.

– Vocês vão acordar a Tessa.

– Aí meu Deus. Da pra ouvir? – minha madrastra pergunta vermelha.

– Não só lá de cima mas até da casa vizinha.

– Elle! – meu pai me repreende.

– O que? É um fato. Vocês já viram o horário? Ou perderam a noção do tempo nessa discussão que nunca leva a nada.

– Elle! Não admito que fale conosco assim.

O olho e ele está bravo.

– Me desculpa pai. Mesmo. Mas vocês precisam resolver isso, voltem pra terapia, façam um viajem, ou... se divorciem.

Gina me olha abismada e meu pai abre a boca e fecha mas nem um dos dois dizem algo, então volto a falar.

– essa vida que estão levando e empurrando com a barriga não só está fazendo mal a vocês mas também a Tessa, por que eu não sei se perceberam, mas vocês não moram sozinhos aqui. Eu sou adulta, eu entendo que estejam mal ou passando por alguma crise, entendo mesmo. Mas ela é só uma criança e isso está fazendo mal pra ela.

Meu pai suspira cansado e passa a mão na testa enquanto Gina se senta no Puf ao lado.

– Nos não... nos não queremos envolvê-la nisso Elle.

– Eu sei Gi, entendo. Mais ela já está envolvida. Se eu que mal venho aqui estou, imagina ela que vive Constantemente com isso, essa brigas...

Minha madrasta abaixa a cabeça e chora.

– Eu vou levá-la para passar uns dias comigo em Atlanta. – digo e eles voltam a me encarar. – Resolvam o que vocês têm que resolver pelo bem de vocês e dela. – eles concordam com a cabeça. Vou mais para perto e fico entre os dois. – independente do que aconteça eu amo vocês, vocês são meus pais e só quero o melhor, dos dois. – Dou um beijo em cada um. – Boa noite.

– Boa noite minha filha. – respondem juntos e eu subo de volta para o quarto da minha irmã.

Quando chego Tessa está sentada na cama, os olhos meios fechados e somente o abajur ligado. Me aproximo e ela me nota.

– Ei, pequena. Perdeu o sono? – me sento ao lado dela.

– Tive um pesadelo... – me confidencia.

– Quer falar sobre isso?

Ela nega com a cabeça e volta a se deitar.

– O que acha de passar uns dias comigo lá em casa?

Ela se vira pro meu lado e esboça um pequeno sorriso.

– acho maravilhoso. Mas voce não tem casa Elle! – diz sapeca e esboçando um sorriso.

– Vamos fingi que meu pequeno apartamento é uma casa, sem caçoar da sua Irmã.

A menina volta a rir.

– Quando vamos?

– amanhã mesmo se você voltar logo a dormir.

– Então durma também.

E é isso que fazemos. A estrada seria longa no dia seguinte e com certeza seria um sossego para minha pequena o que eu não esperava era que na volta a estrada estaria um caos e o mundo uma confusão com pessoas mortas voltando a vida e comendo todos que veem na frente.

Sobreviventes - TWD Electra SteelOnde histórias criam vida. Descubra agora