Carol

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foi a última palavra que ouvi depois disso só me lembro de estar no sofá da casa do Luan, a notícia do acidente da Carol não estava sendo digerida facilmente para mim.

Pedi para meu pai me levar até o hospital

-Vai dar tudo certo-Eram essas as palavras de consolo do meu pai,as vezes me depaero com momentos na vida que tenho absoluta certeza de que o ser humano é extremamente confuso a capacidade dele de se esquivar da realidade me fascina, assim como a capacidade de dizer "Vai dar tudo certo" quando na verdade nada vai  dar certo. Mesmo assim movimento a cabeça em afirmação ao que ele acaba de falar.Chego ao hospital e me deparo com o pai da Carol sentado no corredor de emergência com as mãos na cabeça como se aquela dor fosse inconsolável,  mas que dor? a possibilidade de pensar na morte de Carol tira a força de minhas pernas me levando ao chão. Ao me ver caido Sr. Roberto pai de Carol, se aproxima de mim e diz com toda a calma que seu ser encontra

-Ela está viva.

Não pergunto mais nada, apenas me apego a certeza de que ela está viva e isso ja é o bastante para me manter vivo

-Porém, tem mais uma coisa-continua ele

-Ela está em coma.

Mais uma vez perco o ar e a força tento me acalmar enquanto ainda me esforçar para pensar "Ela está viva, ela está viva, ela está viva..."

Com a voz fraca e engasgada pergunto

-Oque aconteceu?

Me lembro da boca do Sr. Roberto se mexendo porém não sai voz alguma, ouvi alguma coisa do tipo "Você não pode ve-la agora" Foi quando me recuperei

-Você tem que ser forte-Completa Sr. Roberto

-Você também.-Encerro o diálogo assim ligo para o meu pai e peço para vir me buscar, o hospital fica na quadra de cima de casa o que será bom para quando quiser vir vê-la .

Chego em casa exausto deito na cama e só acordo no dia seguinte.

O segundo dia de aula é tão vazio, olho para a cadeira onde Carol deveria estar mas ela simplesmente não está lá,os dias que seguiram foram todos iguais a rotina sempre as mesmas nenhuma melhora de Carol todos tentavam me animar,  foi quando percebi que no fundo da sala ainda estava a garota dos cabelos enrolados, sempre calada,  ja fazia duas semanas desde o acidente envolvendo Carol, e ela estava ali sozinha.Todos os meus amigos faltaram e ela nem tinha amigos foi quando resolvi sentar perto da garota dos cabelos enrolados

-Bom dia-digo tentando parecer gentil.

-Bom dia-ela responde

-Nunca perguntei seu nome

-Florisbella, Flor.

-Flor, eu sou o Gabriel

-O namorado da garota em côma- Diz ela me enterronpendo

-Sim a garota em coma...

-Me desculpe, não quis parecer indiferente ou coisa do tipo mas ja ouvi falar dessa história.

Como não quis parecer indiferente? ela foi totalmente indiferente, indiferente a dor que eu estou sentindo a dor da minha Carol.

-Está tudo bem-respondo engolindo seco o pensamento que me engolia

-Ela vai sair dessa

-Como tem tanta certeza?  as pessoas estão sempre me dizendo a mesma coisa o mesmo "vai dar tudo certo" quer saber não ta nada dando certo ta tudo errado então parem de ser hipócritas e me pedirem para acreditar em algo que nem vocês mesmos acreditam.

-Eu sei que vai dar tudo certo no final é como um pesadelo e você acorda eu acredito.

-Como pode ter tanta certeza?

-O chefão sabe o que faz e Ele me disse.-Diz ela apontando com o dedo indicador para o céu

Ta agora eu tenho uma leve impressão de que sei porque ela não tem amigos.Dou um sorriso leve enquanto termino de copiar a lição de química que a professora coloca na lousa.

-Você acredita nele?-pergunta ela

-Nele quem?-pergunto sem lembrar do que se tratava

-Deus-responde ela com um sorriso que mostra dentes lindos e extremamente brancos.

-Ele nunca me deu motivos para acreditar nele.-responde seco

-Sua namorada está em coma

-E você acha que isso é um motivo para mim acreditar em Deus? Isso é horrível, se Deus realmente existe como pode ser tão mal e indiferente aos seus filhos? Como pode permitir tal dor?

Ela da um outro sorriso r diz:

-Teremos que trabalhar muito em você.

Agora tenho total certeza que ela é louca

-Não consegue me responder? -Pergunto impaciente

-Aqui não é o melhor lugar pra uma conversa dessas,  depois da escola vamos almoçar no restaurante que abriu aqui do lado e lá conversamos sobre isso.

O restaurante tinha sido aberto à duas semanas,  e Carol já havia me chamado para almoçar lá,  mesmo assim resolvi ir com Flor até la depois da aula . Passei o resto das aulas sentado ali conversando com Flor, descobri pouco sobre ela, ela disse que não tinha endereço fixo tinha um pai e vários irmãos, me disse que não estava ali por nada que tinha um propósito maior. Não importa o tempo que eu passe com ela, sempre parece pouco ela tem alguma coisa algo inexplicável como uma luz que me faz me sentir bem.

A aula acaba e seguimos até o restaurante,  pegamos uma mesa perto de uma janela que mais parece uma porta

-E então...

-Ora não se apresse,quando o assunto é o Pai temos que ser pacientes.

-E o que você vai querer? me disseram que a lasanha da qui é a melhor.

-Feijoada, eu sempre quis comer feijoada todo mundo fala tão bem da feijoada, os escravos por exemplo sofriam tanto porém em suas orações sempre agradeciam ao pai pela feijoada que eles tinham.

-E como você pode ter certeza das orações dos escravos? se eu vivesse naquela época, brigaria com Deus o tempo todo, nem de feijoada eu não gosto. -Tentei não parecer grosseiro

-Pois eu quero feijoada e você?

-Lasanha. -Chamamos o garçom que em poucos minutos nós traz nosso pedido

Antes de por a primeira colherada na boca ela juntou as mãos e fechou os olhos sussurrou alguma coisa e voltou a comida.

-Agora eu entendo, isso é realmente um presente de Deus.

-Minha lasanha está divina-digo entre garfadas

-Mas então ainda não acredita em Deus? -ela me pergunta

-Prefiro não acreditar doi menos.-respondo sem tirar os olhos dela

-Pois eu penso diferente, acho que doi mais, porque parece ser só isso pensa não tem mais nada depois daqui se não existisse Deus seria tudo em vão e isso doi mais.

-Não seria em vão-tento rebater a idéia dela mas ela me interrompe

-Seria sim, qual seria o consolo de uma mãe ao perder seu filho se ela não soubesse que a vida é só um detalhe que depois tem mais isso aqui é só uma passagem.

-Então acreditar em Deus é um consolo?

-Não, acreditar em Deus é uma certeza de um amanhã melhor.

-Isso é coisa de mais pra mim

-Tudo bem, vamos ter mais conversas desse tipo. -Diz ela enquanto se levanta e coloca a cadeira embaixo da mesa.

Querida FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora