Capítulo Único

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Cersei foi ao quarto de Myrcella. Lá, a menina escovava seus longos cachos dourados sentada à frente da penteadeira, enquanto uma aia arrumava as almofadas na cama.

A rainha pediu que a serviçal saísse, e aproximou-se de sua filha.

- Mãe? – Myrcella disse, de forma natural e despreocupada.

Cersei apenas deu um leve sorriso, embora a tristeza estivesse em seus olhos. Então pegou a escova e começou a fazer uma trança no cabelo de Myrcella.

Como a princesa era inteligente e sagaz para a idade, rodeios eram desnecessários para dar a notícia.

- Cella, você irá se mudar para Dorne. – Disse Cersei, num tom sério, embora ameno. – Provavelmente isso vai me doer mais do que a ela, pensou. Que ela cresça e saiba se defender, para que não sofra mais do que o inevitável.

- Por quê? – Inquiriu a princesa, curiosa. Imaginava que fosse algo temporário, por razões de guerra.

- Você foi prometida em casamento a Trystane Martell. Mas não irá se casar neste momento, mas quando completar o 14º dia de seu nome. Porém, ainda assim, se mudará para lá agora. Seu tio Stannis está vindo... – Explicava a rainha o mais calmamente possível, enquanto se controlava para dar o exemplo à filha.

A criança deu levemente de ombros. – Sou uma princesa, um dia isso aconteceria. – Disse, com maturidade surpreendente para os seus nove anos. – Sentirei sua falta, mãe, assim como de Tommen e dos meus tios.

A rainha abraçou a princesa, ambas visivelmente segurando as lágrimas.
- Você terá uma guarda em seu navio, e irá disfarçada para casos de ataque – Assegurou a mãe - Envie-me corvos sempre que puder – Disse, de um modo tão amoroso quanto sério, e continuou: Lembre-se, você é uma princesa, filha de reis. Jamais confie totalmente em alguém. Muitos quererão destruí-la por você ser simplesmente quem é.
- Cersei olhava fixamente nos olhos de Myrcella, garantindo que a filha prestasse atenção a seus alertas.

- Quando chegar a hora, você se casará. Seu marido poderá lhe dar ordens e até ser severo, mas jamais permita que ele quebre o seu espírito. Você é uma mulher Lannister, a força está em nós.
E pegou um colar de ouro com um leão gravado, idêntico ao que usava, e colocou-o na filha. Muito mais do que um mero presente, era um lembrete de sua linhagem e o que ela representava.

Até sua avó, Joanna, – comentou a rainha – conseguia fazer-se respeitar pelo seu avô, o homem mais poderoso dos Sete Reinos – E deu um risinho para a filha, dando um pouco de leveza àquela conversa.

Myrcella ouvia com atenção, pois queria preparar-se minimamente para o que a esperava, resolvendo perguntar:

- E filhos, quando terei filhos? É dever de uma esposa gerar herdeiros, certo?

Cersei respirou profundamente. A ideia de sua filha grávida, ainda tão jovem, era algo que não queria ter em mente.

- Um dia você sangrará. E assim será por alguns dias, em todas as voltas de lua. É quando você estará preparada para ter filhos. Mas não pense neles como algo que tem de fazer por seu marido; serão o que você mais amará na sua vida. Assim como amo você e seus irmãos.

A rainha abraçou novamente sua filha, fortemente, e beijou-lhe a testa. Daria qualquer coisa para evitar ou postergar esse momento, pensou. Ela é tão pequena.

Já era noite. Myrcella deitou-se, enquanto Cersei a via adormecer pela última vez.

Com o coração muito apertado, a rainha saiu. Sabia que os deuses não eram misericordiosos, mas rezaria. Rezaria para que um dia pudesse ver a filha novamente.

O Adeus à PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora