Capitulo 02 - O garoto novo

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Mais um dia. Era o único pensamento que eu tinha toda manhã ao abrir meus olhos, desde que toda minha vida começou a fazer sentindo parecia uma eternidade. Como se cada dia fosse tão longo quanto a minha própria existência. A janela do quarto estava coberta pela cortina e o ambiente se mantinha um breu só.

Eu podia ouvir minha mãe na cozinha, seus passos leves em suas pantufas enquanto fazia o café da manhã. Levantei da cama e segui para o banheiro, passei direto pelo espelho e tirei a única peça de roupa que eu vestia, um short de ceda. O joguei na pia e entrei no box. A agua ente tocou meu corpo e eu suspirei.

Quantas vezes eu já deveria ter passado por aquele vazio? Minhas mãos passam pelo meu rosto e em seguida seguram o sabonete e começo a me ensaboar. Minutos depois estou saindo do banho com a tolha no ombro, evitando que gotas de agua do meu cabelo escorressem pelo meu pescoço. Procuro por uma calça jeans e a uma camisa, calço o tênis e vou até o banheiro.

Meus olhos ainda não se acostumaram esta aparência. Sempre é algo tão novo, principalmente quando se lembra quem você já foi tantas vezes. Eu tenho um metro e oitenta. Possuo um corpo malhado, não que eu faça academia, era simplesmente a genética falando mais alto e consequentemente o tipo de ser sobrenatural que eu sou. Meu cabelo é curto e desgrenhado, meus olhos são de um âmbar brilhante, e minha pele é parda. Pelo menos isso me era familiar.

Desci com a animação de sempre, na verdade a dois anos. No meu aniversário de quinze tive a primeira transformação e junto com o pacote, todas as lembranças. Que viram e mechem dominam os meus sonhos e se transformam em pesadelos.

- Quero saber quando vão devolver meu filho. – diz minha mãe, Irene.

Um pouco mais baixa que eu, com seus um metro e sessenta, cabelos longos e negros, olhos castanhos escuros e negra. Trabalha em um hospital na cidade, meu pai... bem ele apenas se casou com minha mãe por minha causa e no mesmo dia do casamento ele se foi e nunca mais voltou. Desde então somos só ela e eu.

- Espero que logo. – digo mordendo uma torrada e dando um sorriso.

- Vou me arrumar para o trabalho. – ela me afaga – Não esquece de soltar a Yula quando sair.

- Pode deixar. – digo sorrindo enquanto bebo um pouco de nescau gelado.

Pego a mochila e sigo para o quintal. Yula é uma cadela da raça fila. Ela fica toda animada ao me ver. Faço carinho nela enquanto ganho uma lambida bem babada no rosto.

- Cuida da casa garota. – digo, solto sua corrente a deixando livre para rodar pelo quintal e saiu pela porta dos fundos.

Nos últimos meses eu deixei de ir no ônibus escolar, era mais divertido ir pela floresta, pelo motivo mais obvio. Eu podia ser apenas eu, correndo sem me preocupar se alguém me veria. Eu era rápido, os outros animais estavam em câmera lenta comparados a mim.

Perto de uma das saídas do campo de futebol eu pude ver os cabelos vermelhos de Alice. Ela estava sentada na arquibancada e em uma fração de segundo eu estava do seu lado. Ela carregava um pequeno livro de capa grossa e lia atentamente sem notar minha presença ali, ou assim ela queria que eu pensasse.

- Bom dia Lucius. – disse ela sem a menor cerimônia fechando o livro e me olhando.

- Estudo matinal? – digo sorrindo um pouco.

- Esta de bom humor hoje?

- Não sei, de repente fiquei animado por alguma razão.

- Então vamos, não estou muito afim de assistir aula de História hoje no primeiro tempo.

- Não seja tão resmungona, sei que adora tocar o terror nessa aula.

A puxo enquanto descemos as escadas e caminhamos pelo gramado do campo de futebol. Não demora para entrarmos no prédio principal da escola e como ainda era cedo, sentamos em uma das várias mesas no pátio quando vemos que Samuel está com alguém do seu lado.

- Aquele garoto é novo aqui. – Alice diz sem se importar muito.

Mas por alguma razão eu queria saber mais sobre aquele garoto. Ele aparentava ser mais baixo que eu, talvez um metro e setenta. Seus cabelos eram negros e lisos com leves ondulações nas pontas, era pardo, mas por alguma razão parecia mais abatido e sem vida. Ele olhou vagamente para o ambiente enquanto acompanhava Samuel.

- Nina... – sussurro.

Abaixo a minha cabeça e meus pés ficam inquietos, o movimento de descer e subir meu pé rapidamente tendo o apoio da ponta dos meus dedos fazia com que a mesa balançasse, ate que Alice se irrita e da um tapa no meu ombro.

- Que diabos esta havendo com você hoje. Já voltou ao mal humor habitual?

- Não. Isso é algo que transcende o meu humor.

Ela parou para me dar atenção.

- Do que está falando Lucius.

- Eu a encontrei.

- Como assim a encontrou? Quem você achou?

- Nina. – disse impaciente, a mistura de sentimentos era grande demais.

- Então porque não foi correndo atrás dela?

- Porque ao mesmo que estou feliz estou sem saber o que fazer.

- Você já fez isso milhares vezes ate onde eu sei. – diz ela ironicamente. – É uma garota, joga seu charme e pronto.

- Esse é o problema. Ela não é uma garota.

- What? – ela se voltou para mim. – Ela veio como homem?

- Foi.

Seus olhos pareciam brilhar como um personagem de anime que ela tanto assiste principalmente quando o shipp dela de dois garotos acontecem.

- E quem é?

Aponto para o garoto que caminha com Samuel em direção a secretaria. Com certeza ele era novo ali, iria pegar os horários. Eu só queria saber porque Samuel estava ao lado dele. Isso fazia com que meus punhos se fechassem.

- O garoto novo? Essa é a primeira vez que Nina vem como homem, não é?

- É. Nunca passei por isso antes.

- Primeira vez para tudo Lucius. Eu já shippo vocês dois.

- É estranho.

- Estranho é o caralho. Eu sou uma manipuladora, você um lobisomen que vive encarnando junto com o amor da sua vida por causa de uma deusa indígena. Faça-me o favor. Só porque ele tem um pinto em vez de uma... Enfim, você não quer mais ela, quero dizer ele.

- Ela é o amor da minha vida.

- Eu sei. Está todo enciumado porque Samuel esta agarrado com ele. – ela aponta para minhas mãos fechadas que se forçam contra a mesa. – Só não que a propriedade da escola Lucius.

- Desculpe. – digo tentando relaxar. – Mas não tenho certeza...

- Então logo vamos descobrir.

- Porque diz isso?

- Caso não se lembre, se você está aqui e ele também. Há um fator faltando para a maldição se efetive.

- Moacir...    

Shadow Falls - O Confronto | Livro II | Romance BLOnde histórias criam vida. Descubra agora