Prólogo

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Não pare na estrada, garota

Porque eu quero queimar minha gasolina
Há uma uma garota que eu conheço
Eu nunca vou abrir mão

Ela é minha especial
Ela é minha especial
Ela é minha meia-noite, meia-noite, é!

Tão doce
Tão boa
Tão agradável
Oh minha
Minha, minha
Minha, minha
Oh, oh yeah

- Greta Van Fleet, Highway Tune

JASON JAMES

A ESTRADA VAZIA É O PRETEXTO PERFEITO PARA PÔR EM PRÁTICA TUDO O QUE ESTÁ GUARDADO EM SUA MENTE. É uma ótima ocasião para cometer erros, acertar em suas atitudes ou talvez somente tentar esquecer algo.

Esquecer... Era o que eu estava tentando fazer naquele momento.

O capacete faz o encaixe impecável, então tomo a liberdade de ligar minha moto e retirar toda a areia do chão desta cidade, ou quase toda ela. A jaqueta de couro esquenta toda a minha pele, mas também a arrepia deliciosamente. Um misto de sensações invade frequentemente o meu corpo sempre que faço essa rotina. Rotina na qual me orgulho e nunca me canso, pois ela era exatamente minha definição de estilo de vida.

Aumento a velocidade da minha moto, podendo ter o som dos motores acelerados chegando aos meus ouvidos.

Toda a estrada silenciosa, aparentemente feita somente para eu libertar toda a adrenalina que venho suprimido enquanto estive ao lado de Ronny e todas as suas manipulações. Estar com ela era como jogar com nosso próprio psicológico de uma forma perversa. Aquilo parecia estar durando por uma eternidade, e precisava de ar para sentir que ainda sou o mesmo.

O velocímetro mostra que acabo de atingir cento e vinte quilômetros. Embora estivesse de jaqueta, a adrenalina me faz sentir o ar vindo contra a minha pele, nas pequenas partes expostas, fazendo todos os pelos do meu corpo se eriçarem com a sensação.

Ao chegar em lugar algum — exatamente o que pretendia —, desligo-a, ajustando seu descanso para que se mantenha de pé no concreto. Retiro o capacete, observando toda a estrada calorosa e exorbitante. Era um lado da Califórnia no qual poucas pessoas conheciam, e claramente isto vinha ao meu favor, já que poderia admirar as montanhas e o céu levemente mesclado sem interrupções ou outras companhias.

Em algum tempo da minha vida andei pelas estradas pensando em qual caminho deveria seguir. Chegando no meio delas, descobri que minha mente nunca tem uma rota certa. Eu criava o meu próprio caminho.

Foi assim que percebi que eu precisava seguir em frente com toda a minha vida, mesmo que isso não contasse com a presença da mulher que jurei ser a certa para amar. 

☠☠☠

Despejo as chaves sobre a mesa de centro, retirando em seguida a camisa branca que já estava me sufocando. Los Angeles é bastante quente para se manter com muitas peças de roupa por muito tempo.

O chiado no telefone chama a minha atenção logo após a minha decisão de tomar um longo banho. Apesar de praguejar mentalmente, opto por ceder ao meu desejo, a fim de ouvir os recados da caixa postal.

Aperto o botão, permitindo que me mostre todos eles. Eles se iniciam automaticamente.

Filho, estou morrendo de saudades. — A voz embargada da minha mãe é a primeira a soar. Apoio meu queixo entre os meus dedos, me aproximando mais do aparelho, como se fosse possível alcançar o seu timbre. — Sabemos que é sua escolha e estamos felizes por isso, mas todos os dias eu deito e penso se você está bem. Me preocupo, mesmo que já seja um homem formado e dono de si. Se precisar de algo, não hesite em ligar, por favor. Te amo! — ela parece ter chorado ao final, mas o meu riso é de felicidade em ouvi-la pela primeira vez.

Depois da minha chegada na cidade luminosa, não tive tempo para reatar laços ou dar notícias. Apenas me apressei em busca de um contrato para moradia e busquei me preparar para o meu novo desafio. Agora sei que fazendo isso, acabei deixando todos preocupados.

Logo o telefone passa para o próximo recado.

E aí James Bond! O próximo sábado será a festa da Hailey e eu quero você lá! Nem pense em fugir porque dessa vez sua ex não estará lá, e eu e os caras vamos te buscar se você não for, filho da puta! — Rio com a voz de entusiasmada de Derick. Embora todos os argumentos fossem engraçados, existia uns noventa porcento deles que diziam verdades. Eu evitaria os lugares frequentados por Ronny a qualquer custo, mas agora percebo que não sou um rato.

Sabendo disso, rosno entre risadas:

— Desgraçado...

Deixo a bancada, colocando a camisa branca sobre o meu ombro enquanto caminho de volta para o centro da sala. Aparentemente todos os recados estão encerrados, me afasto, dando apenas dois passos antes de ouvir o bip soar novamente.

Franzo minhas sobrancelhas, estranhando a vinda de mais uma caixa postal.

Deve ser engano, penso.

Após ter um longo suspiro exaustivo, a voz começa a emitir pelos arredores da casa:

Jason... — O chamado de Ronny faz minha pele abandonar toda a curiosidade, mas traz um sentimento de amargura fodido. — Eu entendo que essa seja a quarta vez que faço isso. Eu... — faz uma pausa, aparentemente tão perdida quanto eu. — Eu não sei por que deixo você. Não entendo por que me afasto, não entendo o motivo de tudo ser assim para mim. Eu só... — Mais uma pausa, que me faz limpar meu rosto com minhas mãos, confuso. Que porra ela pensa que está fazendo? — Quero você de volta. Quero que me perdoe. Sei o quão exaustivo é para você ouvir isso mais uma vez, assim como também é para mim, mas farei o possível para tê-lo de volta. Eu amo você, Jason. — O seu tom ganha uma mistura de angústia fundida com tristeza, mas com um desespero explodindo toda a sua garganta.

Os recados cessam. Sento-me no sofá, passando as mãos pelos meus cabelos castanho escuros.

Não posso cogitar tê-la de volta. Ronny é uma puta mulher confusa, e isso nos vem prejudicando em nossos dois anos de relacionamento.

Rompemos inúmeras vezes, e em todas elas as decisões foram assumidas por ela. Desta vez as pontas da nossa relação estiveram em minhas mãos, e eu optei por soltá-las com nossa última discussão.

— Não de novo, mulher.

Levanto-me relutante do sofá. O limite aparece para todos, e esse foi o meu.

JASON JAMES: LIBERDADE, LOUCURA E ROCK N'ROLLOnde histórias criam vida. Descubra agora