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Na primeira parte do tour pela escola, Mary mostrou onde ficavam as salas de aula, o campinho de atividades físicas e as Oficinas do bloco onde eu estudaria. A escola era dividida em sete blocos, cada um especializado no atendimento de uma ou duas línguas, e o maior era o nosso, da língua inglesa.
Depois, ela me mostrou o enorme prédio da biblioteca, que era compartilhado por todos os blocos e onde também funcionava, no último andar, a administração da escola.
Já era meio-dia, por isso voltamos pelo mesmo caminho entre os jardins, seguindo para o grande refeitório do nosso bloco. Lá, encontramos Claire e a professora que a acompanhava, Daisy.
A gente não conversou durante o almoço, só as professoras.
Em silêncio, eu observava a enorme quantidade de alunos reunidos. O refeitório estava lotado, e muitos nem comiam ali; eles pegavam suas bandejas e saíam para se sentar debaixo das árvores ou às mesas ao ar livre. Faziam tanta algazarra e tantas brincadeiras que pareciam até mesmo alegres.
Talvez Mary tivesse razão. Talvez fosse possível superar o fato de ter sido renegado e ser feliz, mesmo sem família.
Após o almoço, as professoras nos levaram para conhecer o restante do campus. Passeamos pelo bosque, onde parte das nossas aulas de sobrevivência aconteceriam, e visitamos o imponente Estádio Imperial. A construção elíptica era sustentada por colunas em formato de elfos e elfas, feita com rochas amarelas extraídas no sul da ilha de Adhara.
Era quase fim de tarde quando as professoras resolveram que já tínhamos conhecido o suficiente.
— Alison, posso conversar em particular com você? — perguntou Mary, com sua voz macia. — Depois você pode encontrar a Claire no refeitório para cearem juntas.
Concordei com a cabeça.
— Te vejo mais tarde. — Acenei para Claire.
Segui minha instrutora pelo caminho pavimentado, deixando para trás o Estádio e o bosque.
Acho que aquele foi o primeiro pôr do sol que eu vi na vida, e eu nunca vou me esquecer dele. O alaranjado do céu fazia a cor pálida dos prédios ao longe se destacarem; muitos pássaros voavam, e a muralha, cercando tudo, era como a borda de uma pintura.
Caminhamos por alguns minutos, até a pracinha central, onde nos sentamos no banco de frente para a estátua.
— Amanhã você será encaminhada para a sua primeira vila.
— Como assim? — perguntei, sem tirar os olhos da estátua de bronze.
— Existem cinco vilas onde você pode ir morar: Borboletas, Ophidia, Fênix, Gafanhotos ou Salamandra.
— Cinco?! — Virei a cabeça em sua direção. — Então... e-eu não vou voltar pra Fênix?
— A Fênix é uma possibilidade, mas não é o aluno quem escolhe, sabe?
— Mas eu já fiz amigos ali.
— Você só ficou um dia naquela vila, não deu tempo de fazer amigos. — Mary riu. — Acredite, você vai conhecer pessoas legais seja lá onde morar.
Meus olhos se encheram d'água.
— Mas eu gostei de lá...
— Todas as vilas são incríveis e eu sei que... Oh, não, por favor, não comece a chorar.
Tapei o rosto com as duas mãos, morrendo de vergonha por chorar como um bebê e mais ainda porque não queria de jeito nenhum ser mandada para outra vila. Eu já conhecia a Fênix; era um lugar familiar, se é que eu podia dizer isso, e eu não queria ter de recomeçar tudo de novo.
— Ai, minha nossa, está bem! Verei o que posso fazer, tá? Mas não é uma promessa. Vou tentar.
Funguei, secando as lágrimas com as mãos.
— Oh, e tem a Claire também. A gente tem que ir ju...
— Alison — Mary me interrompeu, massageando a testa com uma mão. — Não posso garantir nem que você irá, quanto mais outras pessoas.
— Mas você pode tentar?
Ela suspirou.
— Amanhã você também vai conhecer a guardiã que cuidará de você pelos três anos que viver na sua primeira vila.
Pisquei os olhos com a mudança de assunto. Ou a continuação dele, no caso.
— Por dois anos e meio, você frequentará as aulas na Escola Bellatrix, onde vai aprender tudo o que precisa saber para viver na Terra do Nunca. No último semestre, em vez de ficar nas salas de aula, você aprenderá uma profissão nas Oficinas. É nessa profissão que você vai trabalhar na segunda vila, e talvez pelo resto da vida.
— Segunda vila?
— Quando você completar doze anos, vai morar sem guardião na segunda aldeia, onde vivem as crianças de doze a quatorze anos, para depois se mudar para a terceira vila, onde vai morar até os dezesseis anos, e assim por diante.
Abri a boca.
— Como assim? Por quê?!
Mary desviou os olhos para o céu. O sol já havia se retirado, os postes tinham sido acesos e algumas estrelas curiosas apareciam onde o azul estava mais escuro.
— Porque é assim que as coisas funcionam aqui. A partir dos doze anos de idade, você passa a morar sozinha e tem de se tornar independente. Precisa provar que é forte e merece viver a chance que recebeu.
Meus ombros caíram. "Deus meu, tô ferrada!"
— Ei, desculpa, não quis te assustar. — Ela pousou a mão no meu ombro. — É um sistema legal, esse das mudanças de vila. Você vai ver.
— Eu nunca vou ter amigos?
— Como assim?
— Você disse que a gente vai ficar se mudando de vila em vila...
— Oh, não. — Ela riu e balançou a cabeça. — Se você for para a Fênix, a próxima vila será a Chocolate, vamos supor. Só um exemplo, tá? Então todos os moradores da Fênix se mudam para a Chocolate quando completam os três anos morando ali. Por isso, quando os seus amigos se mudam, você só fica um tempinho longe deles, até se mudar também.
— Ah... Dá muito trabalho, né?
Mary sorriu, anuindo.
— Sim, mas com as mudanças você acaba conhecendo praticamente a ilha inteira, o que é bem legal. Além do mais, se apenas os mais fortes sobrevivem, então você deve ser o mais forte possível. Esse sistema te ajuda a crescer, a amadurecer, a se tornar independente. São muitas vantagens, e antes de virar professora eu amava as mudanças.
Engoli em seco.
— E se eu não for forte?
— Impossível, você é muito valente.
— Você só diz isso pra ser legal.
— Acha mesmo? Porque você já sobreviveu ao Despertamento, sobreviveu à Floresta das Almas, sobreviveu à pior notícia que poderia receber... E ainda está aqui. — Sorri com os olhos marejados, o coração aquecido. — Pois é. Você é uma garotinha incrível e vencedora. Nunca deixe de acreditar nisso, ok?
Balancei a cabeça.
A professora sorriu, os olhos brilhando, beijou o topo da minha testa e se retirou. Eu me levantei logo depois, caminhando de cabeça erguida para o refeitório, onde eles serviriam o jantar para os novatos.
Pensando bem, foi muitasorte a minha ter tido Mary como instrutora no meu primeiro dia de vida. Elafez toda a diferença, e eu lhe serei eternamente grata pelas primeiras gotas defé e esperança que ela depositou em mim.
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Se Pudesse Contar as Estrelas
FantasyE se a sua falta de memória fosse, na verdade, a falta de um passado? Alison tinha apenas 9 anos de idade quando acordou se afogando em um lago, sem memória de quem é ou do que aconteceu. Resgatada por um grupo de pessoas que prometem ajudá-la, a ga...