capítulo 7

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Na primeira parte do tour pela escola, Mary mostrou onde ficavam as salas de aula, o campinho de atividades físicas e as Oficinas do bloco onde eu estudaria. A escola era dividida em sete blocos, cada um especializado no atendimento de uma ou duas línguas, e o maior era o nosso, da língua inglesa.

Depois, ela me mostrou o enorme prédio da biblioteca, que era compartilhado por todos os blocos e onde também funcionava, no último andar, a administração da escola.

Já era meio-dia, por isso voltamos pelo mesmo caminho entre os jardins, seguindo para o grande refeitório do nosso bloco. Lá, encontramos Claire e a professora que a acompanhava, Daisy.

A gente não conversou durante o almoço, só as professoras.

Em silêncio, eu observava a enorme quantidade de alunos reunidos. O refeitório estava lotado, e muitos nem comiam ali; eles pegavam suas bandejas e saíam para se sentar debaixo das árvores ou às mesas ao ar livre. Faziam tanta algazarra e tantas brincadeiras que pareciam até mesmo alegres.

Talvez Mary tivesse razão. Talvez fosse possível superar o fato de ter sido renegado e ser feliz, mesmo sem família.

Após o almoço, as professoras nos levaram para conhecer o restante do campus. Passeamos pelo bosque, onde parte das nossas aulas de sobrevivência aconteceriam, e visitamos o imponente Estádio Imperial. A construção elíptica era sustentada por colunas em formato de elfos e elfas, feita com rochas amarelas extraídas no sul da ilha de Adhara.

Era quase fim de tarde quando as professoras resolveram que já tínhamos conhecido o suficiente.

— Alison, posso conversar em particular com você? — perguntou Mary, com sua voz macia. — Depois você pode encontrar a Claire no refeitório para cearem juntas.

Concordei com a cabeça.

— Te vejo mais tarde. — Acenei para Claire.

Segui minha instrutora pelo caminho pavimentado, deixando para trás o Estádio e o bosque.

Acho que aquele foi o primeiro pôr do sol que eu vi na vida, e eu nunca vou me esquecer dele. O alaranjado do céu fazia a cor pálida dos prédios ao longe se destacarem; muitos pássaros voavam, e a muralha, cercando tudo, era como a borda de uma pintura.

Caminhamos por alguns minutos, até a pracinha central, onde nos sentamos no banco de frente para a estátua.

— Amanhã você será encaminhada para a sua primeira vila.

— Como assim? — perguntei, sem tirar os olhos da estátua de bronze.

— Existem cinco vilas onde você pode ir morar: Borboletas, Ophidia, Fênix, Gafanhotos ou Salamandra.

— Cinco?! — Virei a cabeça em sua direção. — Então... e-eu não vou voltar pra Fênix?

— A Fênix é uma possibilidade, mas não é o aluno quem escolhe, sabe?

— Mas eu já fiz amigos ali.

— Você só ficou um dia naquela vila, não deu tempo de fazer amigos. — Mary riu. — Acredite, você vai conhecer pessoas legais seja lá onde morar.

Meus olhos se encheram d'água.

— Mas eu gostei de lá...

— Todas as vilas são incríveis e eu sei que... Oh, não, por favor, não comece a chorar.

Tapei o rosto com as duas mãos, morrendo de vergonha por chorar como um bebê e mais ainda porque não queria de jeito nenhum ser mandada para outra vila. Eu já conhecia a Fênix; era um lugar familiar, se é que eu podia dizer isso, e eu não queria ter de recomeçar tudo de novo.

— Ai, minha nossa, está bem! Verei o que posso fazer, tá? Mas não é uma promessa. Vou tentar.

Funguei, secando as lágrimas com as mãos.

— Oh, e tem a Claire também. A gente tem que ir ju...

— Alison — Mary me interrompeu, massageando a testa com uma mão. — Não posso garantir nem que você irá, quanto mais outras pessoas.

— Mas você pode tentar?

Ela suspirou.

— Amanhã você também vai conhecer a guardiã que cuidará de você pelos três anos que viver na sua primeira vila.

Pisquei os olhos com a mudança de assunto. Ou a continuação dele, no caso.

— Por dois anos e meio, você frequentará as aulas na Escola Bellatrix, onde vai aprender tudo o que precisa saber para viver na Terra do Nunca. No último semestre, em vez de ficar nas salas de aula, você aprenderá uma profissão nas Oficinas. É nessa profissão que você vai trabalhar na segunda vila, e talvez pelo resto da vida.

— Segunda vila?

— Quando você completar doze anos, vai morar sem guardião na segunda aldeia, onde vivem as crianças de doze a quatorze anos, para depois se mudar para a terceira vila, onde vai morar até os dezesseis anos, e assim por diante.

Abri a boca.

— Como assim? Por quê?!

Mary desviou os olhos para o céu. O sol já havia se retirado, os postes tinham sido acesos e algumas estrelas curiosas apareciam onde o azul estava mais escuro.

— Porque é assim que as coisas funcionam aqui. A partir dos doze anos de idade, você passa a morar sozinha e tem de se tornar independente. Precisa provar que é forte e merece viver a chance que recebeu.

Meus ombros caíram. "Deus meu, tô ferrada!"

— Ei, desculpa, não quis te assustar. — Ela pousou a mão no meu ombro. — É um sistema legal, esse das mudanças de vila. Você vai ver.

— Eu nunca vou ter amigos?

— Como assim?

— Você disse que a gente vai ficar se mudando de vila em vila...

— Oh, não. — Ela riu e balançou a cabeça. — Se você for para a Fênix, a próxima vila será a Chocolate, vamos supor. Só um exemplo, tá? Então todos os moradores da Fênix se mudam para a Chocolate quando completam os três anos morando ali. Por isso, quando os seus amigos se mudam, você só fica um tempinho longe deles, até se mudar também.

— Ah... Dá muito trabalho, né?

Mary sorriu, anuindo.

— Sim, mas com as mudanças você acaba conhecendo praticamente a ilha inteira, o que é bem legal. Além do mais, se apenas os mais fortes sobrevivem, então você deve ser o mais forte possível. Esse sistema te ajuda a crescer, a amadurecer, a se tornar independente. São muitas vantagens, e antes de virar professora eu amava as mudanças.

Engoli em seco.

— E se eu não for forte?

— Impossível, você é muito valente.

— Você só diz isso pra ser legal.

— Acha mesmo? Porque você já sobreviveu ao Despertamento, sobreviveu à Floresta das Almas, sobreviveu à pior notícia que poderia receber... E ainda está aqui. — Sorri com os olhos marejados, o coração aquecido. — Pois é. Você é uma garotinha incrível e vencedora. Nunca deixe de acreditar nisso, ok?

Balancei a cabeça.

A professora sorriu, os olhos brilhando, beijou o topo da minha testa e se retirou. Eu me levantei logo depois, caminhando de cabeça erguida para o refeitório, onde eles serviriam o jantar para os novatos.

Pensando bem, foi muitasorte a minha ter tido Mary como instrutora no meu primeiro dia de vida. Elafez toda a diferença, e eu lhe serei eternamente grata pelas primeiras gotas defé e esperança que ela depositou em mim.

Se Pudesse Contar as EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora