Décimo Quarto

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Décimo quarto

            Narradora
  
    À Caminho do Clã da Terra

Eliza quase caiu do cavalo ao sentir uma forte pontada na cabeça. Etylin a bloqueou com a própria montaria, que se agitou um pouco mas nada que fosse realmente um grave problema.

- Se eu não estivesse tão...agitada quanto você, iria sugerir que parássemos um pouco. - disse a Alfa à Heda que a olhou feio.

- Nem pense nisso, Etylin. - a guerreira deu um sorrisinho: nenhuma das duas iria ou queria parar.

Recomeçaram o trote e logo em seguida o galope. Mais fortes e mais determinadas.

***

Etylin e Eliza percorriam um nicho da caverna que poucos sabiam sobre a existência: era um percurso escuro, apertado, íngreme e escorregadio. Guiavam-se por uma Parian tocha segurada pela Heda que seguia na frente e tendo a companheira de sua filha atrás com uma mão "casualmente" colocada sobre o cabo de um punhal.

Ambas tinham o coração frenético. Estavam no lugar certo, era fácil dizer pela leve correnteza de ar que por vezes trazia um alívio desejado mesmo que consigo houvesse um forte odor de sangue seco, suor e morte.
A morte parecia estar impregnada em todos os lugares não só naquela caverna mas em todo o território do clã extinto.

- Estamos em uma cripta? - perguntou Etylin à Eliza depois de terem percorrido uma boa parte do trajeto em silêncio.

A Heda não respondeu de imediato, tinha medo de que colocassem tudo a perder por causa do menor ruído que fosse. Conhecia bem o irmão de Alycia para saber que ele provavelmente já tinha conhecimento de sua chegada.

Por fim, sentido a dúvida pairar, respondeu em um tom de voz baixo:

- Não, não estamos. As criptas da Terra eram construídas fora do território e o mais perto possível de um vulcão. Os Terrestres acreditavam que quando as cinzas caiam sobre os túmulos e flores nasciam em seguida era sinal de que seu ente querido encontrou alguma paz. - Interrompeu a si mesma e obrigou-se a ficar quieta.

Ninguém sabia mas seu pai estava enterrado ali e quando o vulcão entrou em erupção nenhuma planta, por menor e mais simples que fosse, nascera sobre o túmulo do antigo Comandante. E isso fizera Eliza querer ser melhor do que ele.

Etylin percebeu que havia algo errado mas não abriu mais a boca.
Caminharam por mais alguns minutos até escutarem o forte som de metal chocando-se contra metal: um martelo forjando uma espada. O exército de Johan se preparava para a batalha.

Agacharam-se sobre uma pedra alta e larga o suficiente para esconder os corpos embora pudessem ouvir bem a conversa que se desenrolava:

- Tem previsão de quando? - perguntou um soldado de aparência grosseira e o corpo coberto por cicatrizes.

- Hoje à noite. - respondeu o outro e elas se entreolharam, sem saber o que fazer embora também não tivessem certeza sobre o que estavam falando.

A troca da guarda ocorreu pouco tempo depois, dando o espaço perfeito para que ambas se infiltrassem ainda mais no fundo da caverna. O teto se abriu, revelando um amplo espaço que mais pareciam ruínas de um antigo templo ou de algum outro local de função religiosa, havia grossos troncos soterrados de areia e suportes para tochas ainda que muito desgastados mantinham-se presos as paredes.

- Estamos perto. - foi tudo o que disse a Alfa atrás de si antes de prosseguir a marcha.

- O que ela precisará fazer? Não estamos exatamente em vantagem dessa vez. - Eliza pensou um pouco antes de responder:

- Não posso responder por ela e nem por ninguém. Não somos as mesas pessoas em campo de batalha mas algo me diz que ela precisará acionar o dom antes de tudo acontecer.

***

Amarrada ao altar de pedra, Alycia tentava ferozmente resistir à vontade de gritar. Com as mãos e os pés amarrados com uma linha de prata, metade da barriga dilacerada (como da primeira vez porém sem uma faca) e vendo a filha sucumbindo pouco a pouco à escuridão.

Ele a deixou ali, sangrando, até que perdeu a consciência e teria feito o mesmo com Kelly, se um de seus guardas não tivesse entrado às pressas no local:

- Elas se aproximam, senhor. Como previsto. - Johan saiu pela gruta sem saber que seu guarda era, na verdade, Titus.

O sábio desamarrou Alycia e a envolveu com alguns mantos, que possuíam propositalmente o cheiro de Eliza, para estimular a recuperação. Kelly o observou com os olhos azuis vidrados nele, que tinha o cheiro de Etylin.

Sentia falta da companheira, sentia-se perdida entre a linha tênue da luz e da escuridão do instinto de se libertar.

Com cuidado, o ancião voltou-se para ela e aproximou-se lentamente, já que Kelly parecia-se como um animal que passou tanto tempo encarcerado que estranhou ao se ver na luz. Titus apanhou Alycia desacordada no colo e Kelly o seguiu, pois sentia sua Alfa cada vez mais perto.

***

Etylin já tinha matado alguns guardas que as tinham descoberto para impedir de alertar os outros no acampamento. O resgate se devia à sutileza e ao silêncio.

- Heda! - ambas correram.

Eliza pegou Alycia nos braços e Kelly se encolheu nos braços de sua Alfa. Alycia começou a despertar e ao perceber onde estava, beijou-a singelamente enquanto Etylin mantinha o nariz entre as madeixas de sua Ômega com os braços ao seu redor. Ajudando-a a se controlar e lhe passando segurança, já que Kelly tremia levemente.

- Heda, agora que temos a localização do exército, podemos voltar à Polis e organizar o nosso. - argumentou Titus.

Mas ela não queria esperar, queria derrubar o inimigo ali mesmo, sem colocar a vida de mais ninguém em risco. Mas com a aflição emocional acusada pelo fato de Alycia e Kelly estarem feridas não a ajudava a pensar com clareza. Kelly foi a primeira a romper o silêncio:

- Acho que sei como detê-los...mas preciso que minha mãe se recupere. Vou precisar da ajuda de todos. - disse inexpressiva ou que atraiu os olhares de todos.

- Você sabe que, independentemente de qualquer coisa, eu vou sempre estar com você. - disse Etylin com a voz calma e sedosa.

- Você é minha filha, Kelly. Não posso-me colocar em uma posição diferente. - disse Eliza.

Alycia, embora ainda um pouco zonza, conseguiu dizer:

- Faço das dela as minhas palavras. - ainda estava um pouco sonolenta mas entendia com perfeição o que acontecia ao seu redor.

- Que os Espíritos te acompanhem, te guardem e que a Gina Jus ascenda-se em você. Controle os que estão rebelados. - disse Titus.

Kelly abaixou um pouco o olhar.

- Espero que não precise usá-los. - disse Alycia com um toque sombrio na voz.

- O que quer dizer com isso? - perguntou Kelly. Ela estava com medo mas sabia que precisava ser feito.

Alycia respondeu em mesmo tom sem desviar o olhar da filha:

- Que isso te custará mais do que pode imaginar.

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... E depois de um ano eu tomei vergonha na cara! (Que lindo hein, autora?!)
Enfim, espero que estejam todos bem e quero agradecer muuuito mesmo à todos vocês que vem lendo a fix até agora.
Dez mil leituras e aumentando? VOCÊS SÃO DEMAIS! Muito obrigado!
Como eu disse, a fic vai ter final sim! Um beijo e até o próximo!
P.S: desculpem a demora :( !

𝐇𝐢𝐤𝐞𝐫 𝐒𝐩𝐢𝐫𝐢𝐭 (𝐀𝐁𝐎) • 𝐂𝐥𝐞𝐱𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora