Cap.5

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Os dois dias que antecederam o baile pareciam eternos para Melinda. Seu coração oscilava entre a culpa e o desejo, carregado pela lembrança dos braços de Henry, os mesmos que ela desejava mais do que qualquer coisa. Contudo, seu orgulho era um obstáculo, lembrando-a de como se deixou envolver com Louis, irmão gêmeo de Henry, apenas para alimentar a ilusão de estar perto do verdadeiro objeto de seu amor.

Na tarde do baile, Melinda desceu as escadas após cumprir sua rotina matinal. Ao chegar ao último degrau, encontrou Alessa sentada, os olhos inchados de tanto chorar.

— Alessa, o que houve? — perguntou Melinda, alarmada.

A jovem tentou se recompor, alisando o vestido de seda.

— Não é nada, senhorita Melinda.

— Oras, como pode ser nada, se está chorando?

Melinda aproximou-se, e Alessa finalmente desabou, soluçando no ombro da amiga.

— Por que sou tão feia, senhorita Melinda?

— Quem lhe contou essa mentira, minha pequena?

Alessa fungou, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Não é mentira... Minhas irmãs sempre recebem flores, enquanto eu nunca recebi nenhuma. Além disso, Eduard Dirac vive pegando no meu pé, dizendo que sou desajeitada e que meu cartão de danças ficará vazio, como sempre. Eu não vou ao baile. Está decidido.

Melinda sentiu uma pontada de culpa e carinho pela jovem. Segurou-a pelos ombros e falou com firmeza.

— Você não resolverá nada se escondendo, Alessa.

— O que posso fazer, então? Me ajude, senhorita Melinda, por favor. Ajude-me a mentir para mamãe. Vamos dizer que estou com febre e evitar essa humilhação.

— Não, minha menina. Você vai a esse baile.

— Mas ninguém vai querer me cortejar. Quando fico empolgada, começo a falar pelos cotovelos, e nenhum rapaz gosta de mulheres assim.

Melinda sorriu, com a ternura de quem compreendia aquela luta.


— Sabe por que eles não gostam, minha pequena?

— Não, senhorita Melinda.

— Porque uma mulher inteligente está a um passo de ser livre. E liberdade assusta esses homens que preferem nos manter frágeis.

— Mas precisamos de um marido, ainda faz parte da nossa estrutura social patriarcal... E eu sou feia e tagarela. O que farei, meu Deus? 

Melinda ergueu o queixo da jovem, obrigando-a a olhar nos seus olhos.

— Você vai a esse baile, Alessa. E hoje, você será minha obra-prima. Nada de tranças infantis. Faremos cachos, e seus olhos azuis brilharão com a sombra que tenho guardada. Você agora está perto de completar 17 anos, já era o momento de acompanhar o crescimento de suas irmãs, mesmo que vocÊ não seja interessada em coisas triviais.

— Mas faltam só quatro horas!

— Não importa. Vamos começar agora mesmo.

Uma criada entrou na sala, anunciando a chegada dos vestidos. Alessa correu para vê-los, mas voltou desapontada.

— Oh, não! Morrerei solteira!

Melinda olhou o vestido. Era azul-claro, com mangas bufantes e entalhes prateados no corpete. Apesar da beleza dos detalhes, as mangas roubavam sua elegância, e o corpete fechado até o pescoço escondia o pescoço delicado de Alessa.

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