12 de julho de 2018
Aquele dia estava sendo um desastre.
Como o dia do seu aniversário pode ser tão ruim? Era o que o James Rodriguez se perguntava, escondido em uma das cabines do banheiro da casa de festas que sua família havia alugado para comemorar a data.
Tudo parecia ter conspirado contra o colombiano, para seu dia fosse inesquecível, entrando para a lista dos "piores dias que já teve".
Muitos dos seus amigos mais íntimos não puderam comparecer à festa, ou ainda estavam competindo a Copa do Mundo ou ainda estavam chorando a eliminação na sua confederação.
Ele se encaixava perfeitamente no segundo grupo, ainda não tinha se recuperado da derrota da sua seleção contra a Inglaterra, enquanto ele estava sentado no banco, se permitindo apenas chorar com toda aquela situação.
Salomé, sua linda filha, estava com a mãe em uma viagem e não poderia participar da comemoração com o pai. Nem ao menos tinha conseguido falar com ela, as tentativas foram todas falhas e as ligações caíram direito na caixa postal da ex-esposa.
Resolveu sair do confinamento e voltar a festa, não antes de parar em frente ao espelho, passar a mão levemente pelos cabelos alinhados e ensaiar seu melhor sorriso, afinal todos estavam ali para prestigia-lo.
Em meio aos convidados, tentou se enturmar e se demonstrar o mais interessados possível nos assuntos aleatórios que lhe eram direcionados, mas nada lhe parecia tão chamativo assim.
As horas passaram numa lentidão arrasadora e todas as vezes que ele decidia conferir seu relógio de pulso os ponteiros do relógio pareciam não ter a maior vontade de se mover, mas por mais que pareça a festa teve seu fim. Sua vontade era gritar em comemoração, mas se conteve em respeito a sua mãe.
Dona Maria estava radiante com o aniversário de seu primogênito e se esforçou para preparar toda aquela festa, com o intuito de tentar anima-lo, pois sabia que os acontecimentos recentes o abalaram fortemente.
A mais velha o observou de longe durante todo o evento e percebeu o esforço do filho para se mostrar contente com tudo aquilo, falhando miseravelmente.
Afinal, é da sua mãe que estamos falando.
O trajeto de volta pra casa foi silencioso e a chegada em casa nunca foi tão reconfortante.
A primeira decisão de James foi um banho morno. Precisava disso. A camisa polo branca que usava parecia o sufocar. Deixou a água corrente levar ralo abaixo suas tensões e se permitiu relaxar pela primeira vez naquele dia.
Deitou-se, já banhado e vestido, e encarou o teto do quarto, surpreendentemente não pensando nada. O barulho das notificações de seu celular o despertaram. Encarou o visor do mesmo, sentindo seus olhos arderem com a claridade excessiva, conferindo primeiramente a hora.
10:50 p.m.
Ainda era seu aniversário.
Ainda lhe restava 1 hora e 10 min daquele maravilhoso dia.
Deslizou o dedo pelo ecrã e havia diversas notificações de mensagens e interações do seu Instagram. Postou, mais cedo naquele dia, uma foto comemorativa e desde então não mexeu mais na rede social.
Curtiu e respondeu os comentários de alguns amigos, a conta oficial do Bayern, time a qual jogava atualmente, havia feito uma publicação o parabenizando, o que lhe gerou mais notificações.
Abriu seu direct e se espantou com a quantidade de mensagens. Ele já deveria ter se acostumado né?! Afinal, era o camisa 10 da seleção da sua pátria-mãe.
Mesmo assim, para ele era tudo muito estranho ainda. Pessoas que ele não conhecia ou nem imaginava que o conheciam lhe mandavam mensagens e faziam posts e comentavam sobre a sua vida.
Abriu algumas conversas, leu atentamente cada uma das mensagens, muitas desejando um simples "Feliz Cumpleaños", outras falando coisas que ele preferia não ter lido, até que ele chegou nas mensagens que esperou para ver durante o dia.
Eram dela.
Há uns meses atrás, num momento de tédio, mexendo nesta mesma rede social, uma das conversas do seu direct lhe chamou atenção, não só pela quantidade de mensagens, mas pela constante que aquele user aparecia em suas notificações. Já havia o reparado a um tempo, mas decidiu "deixar quieto" não queria nenhum grande escândalo na mídia, pois na época a Copa se aproximava e seu divórcio ainda completaria um ano. Mas naquele dia, sentado na concentração, depois do treino, deu ouvidos ao seu tédio e abriu a conversa.
Rapidamente centenas de mensagens numa língua um pouco similar a sua, português (ele identificou logo segundos depois), encheram a sua tela e ele leu atentamente cada palavra, tentando entender o que estava escrito, lembrando-se de algumas aulas de português que teve com seu amigo e ex-companheiro de time, Marcelo. Ele sorriu, a garota que lhe mandava mensagens, Sandy, lhe contava das mais diversas coisas, como por exemplo, dias atrás tinha ido ao shopping com suas amigas e comprara um vestido M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O , como ela mesma descreveu.
Porém o que mais lhe chamou atenção, foram os simples "Está tudo bem?" ou "Como você está? Espero que esteja bem" ou também "Como foi seu dia?".
Ela nem o conhecia, mas sempre perguntava como estava. Nem as pessoas que o viam todos os dias perguntavam ou ao menos se preocupavam com ele.
Então, como alguém, que ele nem sabia que existia (até agora), se preocupava com o meu bem-estar? Era o que ele não entendia, mas passou a ser acostumar e esperar o final de cada dia para ler as mensagens da menina brasileira.
E naquele dia não foi diferente, lá estavam as felicitações dela para o colombiano, o parabenizando pelo seu aniversário e o dizendo o quanto ele havia se tornado importante para ela. Permitiu-se sorrir sincero sentindo o meu peito aquecer. Queria respondê-la, agradecer pelas palavras, mas sabia que não podia. Por mais que houvesse se apegado a moça.
Levantou-se da cama, ainda em direção a sacada do seu quarto, a fim de pensar em uma forma de respondê-la ou ao menos fazê-la entender que ele estava feliz e honrado por receber suas mensagens.
Teve uma ideia, por que não? Era seu aniversário poderia fazer o que quisesse, ainda mais se fosse para compensar o dia horrível que tivera.
Posicionou-se no local mais iluminado, ainda com o Instagram aberto, antes conferiu o horário, 11:35 p.m., e respirou fundo passando a mão nos cabelos ainda úmidos.
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