Capítulo 03

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─ Pode levar. ─ Violet me entrega o seu celular. ─ Quero que entre em contato.

─ Não posso aceitar, sinto muito.

─ Solana, eu quero que aceite, eu já formatei o celular mesmo. Não tem nada! Alexandre está ciente, ele falou que vai me comprar um celular novo. ─ coloca o celular na palma da minha mão.

─ Por favor, aceite!

Observo o celular apreensiva, não quero aceitar. Mas sei o quanto Violet ficará chateada se eu recusar o gesto de carinhoso.

─ Obrigada! ─ Digo.

Nós duas olhamos para parte do meu guarda-roupa vazio. Violet, começou a chorar. Não é fácil para ela, não me ter por perto. Não sou fácil, sou uma pessoa estranha como minha mãe falou. No entanto, Violet consegue lidar com minha personalidade, consegue passar por cima dos meus defeitos e me aceitar.

─ Vou ajudá-la com as malas.

Eram apenas três, eu não tinha muita roupa. Sempre uso as preferidas, peças que me deixa confortável. Volto agradecer conseguindo sorrir com sinceridade.
Na sala a minha mãe estava sentada bebendo uma taça de um vinho barato. Ela encarou as malas e depois o meu perfil, não queria trocar palavras, não queria dizer adeus. Por que me despedir? A ideia de me exportar para uma fazenda no fim do mundo é inteiramente dela.

─ Bom, chegou a hora de ir. Meu voo está marcado para daqui uma hora. ─ abraço a minha irmã, sussurrando em seu ouvido. ─ use preservativo.

Violet sorriu entre os soluços do choro.

─ Vou acompanhá-la até o aeroporto. ─ Fala minha mãe, levantando-se do sofá.

─ Eu sei o caminho. Já chamei um táxi.

─ Solana…

─ Não. ─ interfiro sua fala. ─ Chega de atuação, você não me suporta e não precisa bancar a mãe zelosa.

Os olhos dela se inundam em lágrimas, e mais uma vez eu tentei sentir. Mas não havia nada aqui dentro. Nem uma faísca de sentimentos. Eu poderia sentir muitas emoções quando deixei o edifício familiar em que moro. No entanto, quando entrei no táxi, foi como voar livre entre as nuvens. E não olhei para trás… Violet ficará bem, ela tem uma namorado legal, nossa mãe sempre é ótima com ela. É uma garota estudiosa, com um futuro brilhante a esperando. Não tem preocupações!
Eu não sei amar ninguém, nem a mim mesma. É frustrante, eu sei quanto soa ridículo. Todos amam um dia, eu sei, porque esse coração já amou duas pessoas, com todo meu coração, amei tanto que um estalar de dedos deles eram como a oitava maravilha do mundo para mim. Amei tanto que um sorriso era como estar no paraíso, amei tanto ao ponto de perder meu coração quando eles me deixaram. Perder o dom de sentir, de viver, de ser feliz.

O vôo foi rápido e tranquilo, em uma hora e meia estava no aeroporto de Uberlândia. Consegui me virar sozinha com as malas, estou com fome, já se passara o horário do almoço e não consegui comer nada. A tensão, o nervosismo ajudaram um pouco a manter o meu estômago vazio. Na saída do aeroporto, eu procuro por alguém… O meu pai para ser mais exata, porém, encontro um rapaz, segurando um cartaz. Sim, UM CARTAZ GIGANTE, com letras horríveis que expressavam meu nome: Solana Malta.
Todas as pessoas estavam lendo o cartaz, todaaaas. O rapaz me parecia ansioso e um pouco rústico. Não passava dos 25 anos, alto e forte, os braços musculosos e cor da pele foi o que mais me chamou atenção, um bronzeado dourado.
Ele usava uma camiseta suja de tinta e uma calça jeans desbotada, um coturno masculino surrado. O rosto é marcante, com uma barba típica de lenhador. Os cabelos eram castanhos-claro, longos e desgrenhados. Acho que faz anos que esse homem não visita um barbeiro. Uma beleza rústica, única e exuberante, como se tivesse saído das telas do cinema, direto para vida real.

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