2.

105 9 23
                                    


A coisa em ser criado por somente uma figura familiar é que você se apega a essa pessoa, não importa quem seja. Os laços construídos com tal pessoa são ainda mais fortes e na maioria dos casos a representatividade que ela tem na sua vida é indubitável. Para Xander, o pai era seu porto seguro.

Os dois tinham uma relação extremamente apaziguante e confortável, o homem era sua inspiração. Ele faria tudo por ele e vice-e-versa. Xander não tinha irmãos, então realmente seu pai era a única pessoa com quem ele possuía um grau parentesco e estava em sua vida.

Joe era um homem trabalhador e de forte personalidade, nasceu no Reino Unido onde lá vivera até participar da Primeira Guerra Mundial. Na época, ele conheceu Cindy, a qual era uma enfermeira americana voluntária para cuidar dos feridos da guerra. Após ter cumprido seu papel com a nação no conflito, Joe casou-se com Cindy e os dois mudaram-se para Beaufort nos Estados Unidos.

Devido a uma epidemia, Cindy morreu em 1934, deixando Joe devastado e sozinho com o pequeno Xander. Joe decidiu então ficar na cidade, visto que o local parecia tranquilo para criar seu filho e moldou sua vida para dar o melhor a ele. Sua marcenaria ficava nos fundos de casa e ele trabalhava construindo móveis e objetos.

Xander ajudava o pai na marcenaria quando podia, mas se dedicava à oficina. Ele havia acabado o colegial recentemente, mas ainda não tinha perspectivas de sair da cidade e ingressar em uma faculdade. Na verdade, isso era um sonho que ele havia deixado de lado, pois se tivesse a própria oficina em Beaufort não precisaria abandonar seu pai.

Xander amava passar o tempo livre com Joe. Os dois jogavam xadrez, pescavam, saíam para caçar e contavam histórias. Mas se tinha uma atividade preferida de Xander com seu pai, era quando o homem lhe ajudava em suas poesias.

Xander nunca foi bom com números, mas literatura era seu forte. Ele, no entanto, era modesto. Apenas Joe ouvia e incentivava sua escrita, pois Xander sentia-se envergonhado de mostrar para outras pessoas o que escrevia.

Era o que eles estavam fazendo naquele momento. Xander lia mais uma de suas recentes poesias para Joe, enquanto o homem sentava na cadeira de madeira e observava o filho.

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo? "

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas"*

"Sensacional, Xander." Joe exalou. "Você fica melhor a cada dia, filho. Vai pensar melhor na ideia de aplicar para Emory?"

"Não sei, pai. O senhor sabe que não quero deixá-lo." Xander admitiu.

"Bobagem. Você precisa buscar o que é melhor para você. Eu ficarei bem. Quer mesmo ser um mecânico para a vida inteira?"

"Eu não me importaria. Não se eu ficasse ao seu lado." Xander disse e era verdade. Sim, estudar literatura seria fantástico, mas ele não queria abrir mão de Beaufort e do pai, por isso a ideia nunca pareceu uma opção plausível para ele. Além do mais, suas poesias eram como um hobby, não um futuro.

"Xander, pare com isso agora mesmo. Seu potencial é incrível. Prometa para mim que vai pelo menos tentar aplicar para a Universidade, sim?"

Xander encarou seu pai sem saber o que dizer. Ele não achava que teria chances de qualquer maneira, então mentiu "Eu prometo."

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 23, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

even if you can't rememberOnde histórias criam vida. Descubra agora