Capítulo 5

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Ana

O trajeto para casa foi extremamente rápido, pois o Instituto ficava a apenas duas quadras do prédio em que morávamos. Andressa dirigiu em silêncio, mas hora ou outra eu sentia seu olhar sobre mim.

Naquele momento eu estava me sentindo anestesiada. Meu cérebro parecia ter estagnado e a imagem de Lucas com aquela garota não saía da minha mente. A tecla "replay" havia sido ativada e nada me fazia esquecer aquela cena.

— Ana?

Estremeci imperceptivelmente com o susto e virei o rosto na direção dela.

— Oi?

Ela recostou-se no banco e retirou as mãos do volante. Um sorriso calmo se estabeleceu nos lábios dela.

— Chegamos.

Levei os olhos para fora do carro e notei que estávamos na garagem do prédio. Eu estava tão absorta em meus pensamentos que não percebi nada além disso.

Suspirando, eu me obriguei a arrastar o meu corpo para fora do veiculo e inspirei o ar com força. Atrás de mim, Andressa bateu a porta e travou o carro. Minhas pernas pareciam moles e eu me sentia flutuar conforme caminhava.

No elevador, Andressa começou a estalar os lábios fazendo-me olhá-la. Ela aparentava ter uns vinte anos. Os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo balançavam conforme ela chacoalhava a cabeça.

— Você não devia fazer isso — ela disse com a testa vincada.

Arqueei as sobrancelhas.

— Fazer o quê?

Ela gesticulou com as mãos.

— Se enclausurar nessa bolha de autodepreciação, sabe? Por que não sai comigo, hun? Conheço um bar de karaokê bem badalado — insistiu na intenção de me animar.

As portas do elevador se abriram no andar dela. Ameacei recusar aquele convite pelo motivo obvio: Eu não estava no astral para me socializar com ninguém. Meu desejo era me aninhar entre as cobertas e chorar até adormecer.

Andressa deixou o corpo no vão das portas impedindo-as de se fecharem e insistiu um pouco mais:

— Será bom para você, eu garanto! Está com despeito? Enche a cara, oras! Mas não fique em casa chorando, por favor.

Arregalei os olhos e não segurei a risada.

— Garota, você verdadeiramente não conhece o filtro para o que fala, não? — Ela deu de ombros, mas acabou sorrindo também. Respirei fundo e concordei: — Está bem. Que horas?

— A partir das 22hs. Qual o número do seu apartamento?

— 05 — respondi. — Próximo andar.

Oferecendo-me um sorriso aberto, ela liberou a porta garantindo-me que passaria mais tarde no meu apartamento. Foi a minha vez de impedir as portas de se fecharem.

— Apenas karaokê, certo? — indaguei desconfiada. — Ou devo me preocupar que isso possa se transformar em uma noite não-me-lembrarei-nada-no-dia-seguinte?

Ela me deu um tapinha no ombro.

— Não posso confirmar nem negar nada.

— Vou de sapatilhas então.

As portas se fecharam, mas pude ouvir a risada alta dela.

No fundo, eu torcia para que pudesse melhorar o meu astral com essa saída.

Eu sou seu menino mau - Livro 5 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora