Rosas de Amor para Jack (Degustação)

Prólogo - Jack Boone

Às vezes julgamos os outros e nem nos damos conta do que fizemos. Apontamos o dedo para os erros, defeitos e escolhas dos outros, mas nos esquecemos que, estando em condições iguais a eles, nós também erramos, temos inúmeros defeitos e fazemos escolhas das quais os outros podem não aceitar ou concordar.

É muito fácil falar do outro, mas quando é sobre nós mesmos, queremos "misericórdia" por que "somos humanos e erramos"... É muito fácil apontar o dedo para o outro e rir da sua aparência, pelos seu jeito de ser ou por qualquer coisa, mas quando é conosco, nos comportamos como crianças mimadas.

Quando Jaqueline compreendeu e aceitou isso, simplesmente parou de dar atenção às piadinhas sem graça, aos murmúrios e as críticas. Afinal de contas, até que ponto podemos "dar nossa opinião sobre como o outro vive sua vida"? Se é que isso de "dar opinião na vida alheia exista"...

Não é absoluta, mas a verdade é que não, não temos o direito de interferir no livre arbítrio de ninguém, a não ser no de nós mesmos, por que o que o outro faz ou deixa de fazer com sua própria vida não cabe à você resolver ou "dar palpite". Cuide da sua grama antes de falar, cobiçar ou julgar a do vizinho.

Foi isso que Jaqueline Boone aprendeu, desde a infância, entre o bullying, a auto aceitação, as críticas, o preconceito, o amor próprio e a superação. No final das contas, ela aprendeu a se amar, mas isso é um ato constante e progressivo, cada dia é uma vitória a mais.

É preciso, afinal, passar pela tempestade para ver o sol, a dor te faz mais forte.

Não foi fácil, mas quando aprendeu a se defender e a ignorar aqueles que só queriam lhe ferir, invejando sua confiança, seus esforços e sua beleza, enfrentar e ignorar pessoas assim foi ficando cada vez mais frequente, até chegar na atual realidade.

O que vem de baixo não atinge quem está no topo.

E chegamos ao ponto: as pessoas só irão te atingir e te machucar se você deixar. Só você tem esse poder, ninguém pode chegar ao seu coração livremente sem seu consentimento, mas, é claro, isso não se consegue da noite para o dia, é um trabalho constante e progressivo em seu amor próprio. 

Se defender é o mínimo que você faz em favor de si mesma (o), então lembre disso quando alguém tentar lhe ofender ou tirar sua paz: não o revide nem saia da sua postura, ignore e não deixe que palavras falsas ditem quem você é, pode fazer ou sentir. Só você tem esse poder e controle sobre si mesmo. O que vem dos outros jamais definirá você, afinal, quem calça tuas sandálias e caminha pelo teu caminho é somente você.

Ao compreender isso, Jack foi se blindando, apesar de suas colegas em um dos empregos que trabalhou, a provocasse com fofocas e comentários preconceituosos acerca de seu peso ou como ela levava sua vida...

- Ei, Jaqueline! - Fatima lhe chamou, era final de expediente e Jack se dirigia para a saída da empresa, Clair a esperava do lado de fora como sempre e pode ouvir a conversa claramente.

Jack educadamente se virou para sua colega e sorriu.

- O que houve?

- Você desistiu de participar do grupo para emagrecer?

- Sim, na verdade, eu pensei que seria apenas um grupo para compartilhar informações sobre alimentação saudável e tudo mais, ai pensei que seria uma boa ideia já que minha amiga gosta desse tipo de coisa e eu amo receitas mais leves, afinal eu prezo pela saúde, não é? - Disse educadamente.

Fatima sorriu, sem graça.

- Entendi. Bom, que pena que desistiu...

- Como assim, que pena?

Fátima suspirou enquanto outra moça se aproximava delas.

- Bom... você poderia participar só para ver como é, nunca se sabe. além disso, exercícios físicos servem não só para emagrecer, mas também como forma de manter a saúde...

Jack franziu a testa.

- O que está querendo dizer, Fátima?

Fatima deu um sorrisinho sem graça, gaguejando ao dizer:

- É que... você... eu pensei que como você é mais "cheiinha"...

Clair, que estava do outro lado do portão, ia entrar para defender a amiga, mas Jack disse:

- Olha, Fatima, ser gorda não é sinônimo de falta de saúde não. Do jeito que você falou, até parece que acompanha minha vida como se fosse um reality.

Fátima ficou sem jeito e a outra moça entrou na conversa.

- Jack, você entendeu errado, ela não quis dizer isso.

- Eu não vou participar do grupo para emagrecer, meninas. É isso. Aceitem, nem todo mundo tem que ser magrinha e "fitness" e esse padrãozinho não vai fazer minha cabeça, aceitem!

Jack virou as costas e saiu caminhando para o portão, aliviada, e Clair veio ao seu encontro radiante, orgulhosa da amiga, mas as duas moças que ficaram para trás comentam em tom de deboche:

- Eu hein! Que seja, então, quer ser gorda, problema é dela!

Jack suspirou pesadamente e Clair olhou com nojo para as moças, que esperam uma reação de Jaqueline, mas a única coisa que receberam foi a frase:

- Ainda bem, Clair, que não preciso passar fome para me amar, nem fazer sacrifícios em meu corpo para ser linda e gostosa!

Clair caiu na gargalhada e desceu do salto pra apontar o dedo do meio para as moças, que ficaram estáticas e mudas. Jack e Clair saíram dali sorridentes, mas é claro que aquele comentário marcou Jaqueline, a diferença é que ela não deixou que aquelas palavras ruins tomassem as rédeas de sua vida, lhe ditando o que deveria ou não fazer.

Ela sabia quem era e sabia que certas palavras, mesmo que machuque, são apenas palavras, muitas vezes vindas de pessoas que não se amam e que procuram nos outros defeitos e erros "piores" que os seus próprios para tentar acalentar seu ego...

Não vale a pena deixar que essas pessoas te levem para fundo do poço com elas.

Jack aprendeu isso na prática. E é essa resistência que a tornou forte e feliz, além de ter amadurecido muito. Jack se amava como é a cada dia e seu peso não é um problema, muitas questões do passado já haviam sido superadas e ela se focava em seu futuro, em sua carreira, nos seus sonhos e objetivos. 

O seu único problema era que ela se apaixonava por caras errados e isso fazia com que sua vida se tornasse um mar de aventuras. Mas ela não esperava que se envolver com João Paulo lhe trouxesse tantas confusões!