Intransitivo: Jeongguk

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(Por que você devia estar no dicionário Jeon, então eu te coloquei nele.)

Jeon Jeongguk: 1. O intocável, inalcançável; 2. Uma pintura de Da Vinci, irreal; 3. Irresistível; 4. De uma beleza tão encantadoramente absurda quanto doce; 5. Substantivo de gentileza; 6. Bom jogador, bom desenhista, bom esportista, bom filho, bom amigo, bom em tudo que faz; 7. Garoto de ouro; 8. Intransitivo: Jeongguk.

Quando paro para buscar uma lembrança sequer em que ele não esteja nela sinto um tremendo desgosto por não obter êxito na minha procura, por que ele sempre está lá, quase como um fantasma, pairando sobre mim e me lembrando sempre que o mais perto de me queimar nele que chegarei na vida é aonde já estou, conhecida por ele apenas como Taeyeon, irmã mais nova do seu melhor amigo e automaticamente descartada de sua lista de possíveis conquistas, mas se me perguntassem se quero ser conquistada por ele, eu mentiria.

Desde que me conheço por gente ele faz parte da minha vida, sempre ao lado do meu irmão fazendo alguma coisa, por que se tem algo que aqueles dois não sabem fazer isso é ficarem parados. Absolutamente tudo que envolve a mim e algo que provavelmente minha mãe ficaria muito brava se descobrisse que fiz -lá estava Jeon, quando aprendi a andar de skate, meus primeiros palavrões, nas vezes que matei aula porque simplesmente não aguentava mais a pressão, na primeira garrafa de soju, a primeira ressaca, (exceto cigarros, ele odeia eles, tanto que fez Tae e eu prometermos a ele nunca fumar), a primeira onda e todos os esportes radicais e perigosos que viriam depois, Jeon só não estava nas duas primeiras vezes que mais queria que estivesse.

O relógio da cozinha marcavam dez da manhã e pelos meus cálculos já tinham se passado duas horas, o gelo da limonada que minha mãe me serviu, em uma tentativa de amenizar um pouco o calor daquela típica manhã quente de verão em Busan, já tinha virado água no copo de vidro sobre a mesa de canto da varanda, a minha frente, e eu nem havia dado um único gole ainda. Suspiro frustrada por não conseguir sair da mesma página do livro que estou lendo a pelo menos meia hora e coloco novamente toda minha atenção em terminar o parágrafo, mas como se meus olhos fossem magnéticos e ele fosse o polo norte lá estou eu novamente focando meus, estranhos, olhos nele. Mas é claro que Taehyung não tem esse problema, embora tenhamos os mesmos olhos, nele tudo fica bonito. Tae tem esse dom, quase como um encantamento de sereia, mas ele não é um tritão e seres mitológicos só existem nos livros que leio compulsivamente.

-Princesa Sofia! -O vejo sorrir e acenar para mim, usando o mesmo apelido que vem usando a quatro anos desde que me deu quando eu estava na sétima série e fiquei obcecada com o livro 'O mundo de Sofia', e é claro que ele ia acabar percebendo que estava olhando para ele uma hora ou outra.

Aceno de volta dando um fraco sorriso envergonhado por ter sido flagrada enquanto sinto minhas bochechas queimarem e tudo que queria ser nesse momento era um avestruz, para enfiar minha cabeça na terra e esconder minha vergonha.

Finjo voltar minha atenção ao livro em meu colo e torço mentalmente para que sua atenção tenha se voltado novamente para a parede a sua frente, não que fosse uma obrigação dele pintar as paredes da sala de estar de casa porque na última semana minha mãe havia simplesmente acordado um dia e decidido que amarelo não estava mais na moda, mas como um bom garoto que era, ele tinha se oferecido para pinta-las para ela.

Tae devia ajuda-lo nessa tarefa, mas fazia uns quarenta minutos que disse que precisava de uma pausa e desde então estava jogado no sofá ao meu lado tirando um senhor cochilo. Acho que a maratona de jogos dessa noite o derrubou totalmente, eu falo para ele que eles já não são mais dois garotinhos e que ele devia começar a não abusar tanto assim da hora, mas é claro que como irmão mais velho ele não me escuta.

Não me escuta e não me deixa ajudar "Taeyeon deixe isso para os mais velhos", "Taeyeon você é nova demais". Oppa se você pudesse se ouvir iria perceber o quão contraditório soa quando usa esses argumentos, bufo frustrada e marco a página em que parei me levantando lentamente para não acordar o ser rabugento ao meu lado.

-Essa demorou. -Jeon me olha com um sorrisinho preso nos lábios enquanto caminho para perto dele. -Sabe, fiquei apostando mentalmente comigo mesmo quando ia desobedecer o que o Hyung falou e viria me oferecer ajuda. -Sinto seu braço esquerdo passando pelo meu ombro e sua cabeça se apoiando na minha e sei que depois de dezessete anos eu já devia estar acostumada com todo carinho e atenção que ele me dava, um carinho fraternal, mas meu coração ainda batia rápido em meu peito quando ele sorria para mim de modo tão doce, e minha pele ainda se arrepiava com seu toque quente.

-Não seja convencido oppa, você sabe que não gosto de ver alguém trabalhando sem ajudar! -Digo baixo revirando os olhos tentando desviar o foco do modo como meu corpo reagia a ele mesmo que não fosse mentira o que havia lhe dito.

Escuto seu riso melodioso e me permito sorrir com ele encostando minha cabeça em seu peito de modo que ficasse confortável, sentia falta de toda a paz que Jeon me trazia e sabia que sentiria ela novamente quando as férias deles acabassem e eles voltassem para a universidade em Seoul daqui a duas semanas.

-Senti sua falta oppa... -Sussurro envergonhada por finalmente admitir o que vinha reprimindo no último ano inteiro, desde que eles saíram de casa.

A um ano estava convencida que esse era o passo que precisava para acabar de vez com todos os sentimentos e borboletas que rodopiavam pelo meu estômago e pelo meu corpo, mas depois de um mês eu percebi que precisaria muito mais do que 401 quilômetros e 4 horas para que conseguisse me esquecer dele. Mas também não queria nomear o que sentia por ele porque sabia que nomear essas borboletas no meu estômago seria o mesmo que atestar suicídio porque Jeon era assim, irresistível e inesquecível.

-Também senti sua falta princesa Sofia... -O escuto dizer depois de alguns minutos em silêncio. -Sabe o que apostei comigo mesmo? -Ele me pergunta olhando para a parede agora branca em nossa frente enquanto viro minha cabeça para cima o encarando curiosa.

-Não faço a mínima ideia, mas com certeza envolve algo perigoso oppa. -Sorrio me lembrando de todas às vezes em que ele e Tae já haviam apostado algo e nas péssimas coisas que aconteciam no cumprimento delas.

Sinto meu corpo balançar na medida em que ele ri e a visão de seus olhos quase fechando com pequenas ruguinhas compondo o canto deles, seu nariz redondo e meio grande que as pessoas insistem em dizer ser desproporcional, mas que eu amo; o sorriso grande e tranquilo quase fazendo sumir a pinta que ele tem debaixo dos lábios e seus dentes de coelho são a visão mais encantadora que já tive o prazer de vislumbrar em toda minha curta existência mundana.

-Talvez seja mesmo perigoso. -Ele finalmente diz após parar de rir e não me importaria em morrer de curiosidade, desde que pudesse ver, tão de perto, para sempre ele rindo assim desse jeito tão leve. -Isso vai depender do que me responder. -Seus olhos me olham sérios enquanto fala e sinto que teria um ataque cardíaco pela intensidade que eles possuem.

-Oppa...

-Apostei comigo mesmo que você viria me ajudar antes que desse onze horas, e em ambos os lados da aposta eu teria que fazer a mesma coisa... -Ele me interrompe se afastando minimamente de mim embora não tenha cortado o contato visual. -Eu iria tomar coragem e fazer o que quero fazer a muito tempo... Taeyeon, você quer sair comigo? 

Intransitivo: JeonggukOnde histórias criam vida. Descubra agora