Aprendi desde pequena a lutar pelos meus objetivos.
Logo me tornei secretária executiva de Felipe Carraro, mega empresário da área petrolifera. Já eu, Keyla Albuquerque, consegui o que tenho devido a paixão, principalmente aquela que causo aos outros. Ele era asqueroso, gordo, baixinho, tinha feições grosseiras. O que poderia unir dois seres tão diferentes? Somente um casamento por interesse. Nos casamos, e ele se mostrou um homem frio, insensivel, que só liga para o serviço. Um servo do dinheiro.
Ambos sabiamos que o casamento estava naufragando. Quando a noite se aproximou Carraro chegou exausto em casa. Achei que ele faria o de sempre, chegaria e se esqueceria até mesmo de me cumprimentar. Mas isto não aconteceu. Ele chegou, tirou o casaco, e quando me viu descer a escadaria, exclamou:
- Olá Keyla! – Colocou um pouco de whisky em seu copo. – Tenho que admitir que tenho sido um marido ausente.
- Você tem seus compomissos.
- Aluguei um local mágico e indescritivel. Encare isso como uma segunda lua de mel. Você poderia se gabar para suas amigas, postando fotos no facebook.
- Sua companhia já me basta. Não preciso de luxos. – Disse ironica.
- Pelo contrário querida. É um lugar rústico ao extremo na região continental da Patagonia. Uma especie de mosteiro medieval construido no seculo XVIII, onde não há formas de comunicação com o mundo exterior. Uma oportunidade unica de nos reconciliarmos. A única forma de chegar é de helicoptero. Garcia vai nos levar.
Garcia era meu amante, além de funcionário de Carraro. Ele não é um sujeito expontâneo. Será que desconfia de algo? O fato de trazer meu caso extra conjugal para a viagem apenas me deixa mais insegura. Após relutância aceitei a viagem de duas semanas para esta Casa na Colina, afinal de contas não devia ser tão mal assim. Enquanto fechava os últimos acordos para tirar uma semana de férias, Garcia me pegou de jeito atrás do helicóptero. Aquilo era excitante e perigoso, eu o empurrei, ele me puxou novamente e me largou antes da volta de Carraro.
Patagonia, Argentina
Era um verdadeiro palácio, com um formato único de seis pontas. Seis corredores que levavam a lugar algum, um a cada canto da casa que era de dois andares, e tinha uma torre, além de gárgulas no teto e parapeito. Tudo permanecia intocado há séculos. A atmosfera era mórbida, o melhor refugio contra os males da modernidade. Keyla estava perplexa.
- A maioria dos maridos levam suas esposas para viagens em Dubai ou Ibiza, e você me traz em um castelo mal assombrado na Argentina.
- Você precisa aumentar sua bagagem cultural. Pare de reclamar.
Garcia começou a descarregar a bagagem, os mantimentos e galões de água,
para duas semanas. Tentaram fazer uma ligação em um encanamento que desbocava direto no lago, mas não deu certo, a agua empedrava devido ao frio. Só era possível a entrada no local por via aérea, através de helicóptero. Carraro se certificou que o rádio de comunicação estava funcionando. Apenas a fresta da porta iluminou um pouco o terrível lugar. Lustres antigos, espadas na parede, armaduras de soldados, e quadros que pareciam nos observar, inclusive o de um senhor descabelado por uma labareda de fogo que saia de um buraco negro, ele tinha um esgar de soberba, enquanto parecia observar a todos. Toda a parede tinha frases escritas em latim, e neste quadro estava a frase. "Fiat lux" e faça se a luz! , as pinturas predominavam o local, tinham o estilo de Caravaggio. Pareciam pinturas sacras, só que com uma grande quantidade de demônios sendo combatidos por anjos, imagens de sangue entre outros. O hall era todo em piso cinza, e tinha uma parte de telhado de vidro. No rádio de comunicação um aviso adesivado:

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Contos Recônditos - ABC da Morte
TerrorO livro Contos Recônditos levou 22 anos para ser escrito por Danilo Morales. Desde 1994, até a presente data de 2018, ano que foi finalizado as revisões. São 26 contos de horror, cada qual inicia com uma letra do alfabeto. São histórias subversivas...