Diálogo de um quase fim

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-É isso então, terminamos.

-Acho que é, não temos mais para onde ir.

-Mas eu te amo, te amo de verdade.

-Eu também, também te amo.

-Então para que, porque terminar.

-Só amor não é tudo, somos adultos, sabemos que não funciona assim.

-Para mim basta, para mim só nosso amor é tudo que preciso.

-Mas para mim não.

-Do que você precisa, poxa, eu te dou tudo que você quer, sempre estou te dando presentes e tudo mais...

-Material. Você me dá só isso, mas e amor, atenção, carinho, cuidado. É disso que preciso.

-Mas eu estou dizendo que te amo.

-Mas amor não é uma palavra, é ação.

-Como assim?

-Você sempre diz que me ama, mas não demonstra de verdade isso, e amor, ah, amor é demonstrar, é fazer, é concreto, é ação, e não só palavra.

-Mas te juro, vou mudar, vou demonstrar mais, eu prometo.

-Outra palavra que é ação, mas que você usa como só palavra, quantas promessas me fez, e quantas mentiras recebi pôr acreditar.

-Eu..., desculpa, mas não quero te perder.

-Eu sei, por isso é tão difícil.

-É só que, e tudo isso?

-Tudo isso o que?

-Tudo que passamos e fizemos, que sentimos e vivemos, eu devo simplesmente esquecer.

-Eu não vou esquecer, vou guardar para sempre, na memória e no coração.

-Então acabou mesmo?

-Creio que sim, estamos apenas prolongando, nos machucando mais e mais.

-Eu não quero terminar, não posso te perder.

-Eu não quero terminar, mas também não quero me perder, quero viver, ser feliz. Vai me dizer que está feliz assim?

-Não, não estou, brigamos demais.

-Pois é, está vendo. Não estamos nos fazendo bem, sejamos maduros, nossa relação não dá certo, por mais que eu queira, e eu quero, e por mais amor que tenha.

-Ok, eu não sei como vou viver sem você, mas se é o que quer, eu quero seu bem, ok.

-Ok.

A pessoa que não queria o término se aproximou o bastante para um sentir a respiração do outro, o hálito, o cheiro dos corpos. Tocou delicadamente o rosto da outra pessoa, essa estremeceu, passou os dedos no cabelo lenta e educadamente, esta entristeceu, e se olharam, fixamente, sem piscar, um vendo a alma do outro, como se ali, naquele olhar eles pudessem dizer tudo que língua nenhuma jamais poderia. Um beijo lento e suave aconteceu e se transformou em rápido e feroz, e cessou, e naquele silêncio, olhos nos olhos novamente, uma lágrima formou, e uma pessoa chorou, a outra a abraçou, e mais lágrimas formaram-se, e assim unidos e abraçados eles ficaram até que toda a mágoa jorrasse, e por mais alguns segundos eles se beijaram, e por mais alguns minutos eles transaram, e por mais algumas horas eles sentiram um ao outro em um sono triste e profundo, e por pelo menos mais uma noite essas duas pessoas se amaram e se tornaram uma. 

Sentimentos em discursoWhere stories live. Discover now