Demônios e ursinhos

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Lucy Wonderland's P.O.V.

Noite de natal outra vez, todas as crianças desse maldito lugar estão dormindo e nenhum adulto pode me ouvir chorar agora. Há propósito, eu me chamo Lucy, fui abandonada nesse inferno quando ainda era bebê, tenho dez anos e essa é a décima temporada de "adoções de natal" em que eu sou jogada de lado como uma boneca maldita.
Me levanto sentindo vontade de bater em alguém até a pessoa chorar, mas simplesmente dou uma volta no orfanato e vou até a cozinha, os nãos que eu recebi ecoando na minha cabeça de uma forma terrível, eu não sou uma boneca, não sou uma boneca, não sou uma boneca...
Sento quietinha no chão da cozinha e fico parada olhando para a porta que leva até os fundos do orfanato, um brilho branco chama minha atenção então apenas sorrio, já sei quem está vindo me ver dessa vez... Uma mão cobre meus olhos, mas não sinto medo.

- Adivinha... - Sorrio ao ouvir a voz familiar. - Quem sou eu?
- Jeff? - Ele me solta e eu rio - Eu vi a sua camiseta quando você passou na porta...
- Menina malvada - Ele faz carinho em meu cabelo - Não pode me ver sua criançinha má.
- Desculpa, não foi de propósito, eu estava só andando...
- Tudo bem, qual a cor da minha camiseta?
- Branca.
- Viu mais alguma coisa?
- Não.
- Então está ótimo. Espere até amanhã e vá para a árvore de natal, tem uma coisa especial lá para você.

Faço que sim e fecho meus olhos como de costume, sinto-o me carregando e quando abro os olhos estou de volta á minha cama e me sentindo sonolenta, não há ninguém à minha volta mas posso sentir que ele ainda está me observando.
Suspiro e fecho os meus olhos tentando dormir, sinto-o fazer carinho em meu cabelo e puxar o cobertor para me cobrir com bastante cuidado, quentinho... Sorrio e aos poucos começo a cochilar de verdade, ainda sinto a presença dele por alguns minutos enquanto durmo antes que ele desapareça tão rápido quanto apareceu...
Quando abro novamente meus olhos as outras crianças ainda estão dormindo, o sol atravessando as cortinas revela a árvore de natal enorme no meio do quarto, me levanto animada com a promessa do meu amigo na minha mente.
Corro até a arvore de natal e olho por baixo dela, há um presente enorme com um bilhete nele, tinha meu nome e o de Jeff, mesmo que o presente seja meu não posso pegá-lo até que as freiras cheguem para nos entregar os presentes então espero por um tempo até as freiras chegarem para acordar as outras crianças.
Quando finalmente recebo o presente de Jeff, corro até a minha cama e o abro bem anciosa, era meu único presente como sempre e eu esperava um doce ou outro vestido branco, mas dentro da caixa havia um ursinho de pelúcia com uma expressão fofinha e uma carta escrita em letra de forma, não consegui segurar um gritinho de felicidade, foi a primeira vez que eu ganhei um brinquedo na vida.
Peguei o ursinho e o abracei apertado sentindo o cheirinho do perfume de Jeff, então deixei ele deitado ao meu lado e peguei a carta para lê-la.

"Lucy,
Normalmente eu teria te dado algo mais útil, mas você parece especialmente triste e eu estou especialmente ocupado, então decidi te dar um amigo novo, quando se sentir sozinha como na noite passada, abrace-o e imagine que sou eu ou qualquer outra pessoa da qual você gosta.
Espero que ele te faça companhia quando eu não puder estar com você, espero que ele seja tão bom quanto eu para secar suas lágrimas e espero que não se sinta chateada por eu não poder estar aqui.
Juro que nada nem ninguém vai lhe ferir mesmo quando eu estiver distante então não chore, tudo estará bem enquanto estiver com seu ursinho, e quando sentir-se só, converse com ele, eu estarei ouvindo e vou ajudar assim que puder.
Do seu melhor amigo,
Jeff."

Sinto meu coração pular de alegria e pego o ursinho, girando-o em meus braços.

- Jeff, Jeff, Jeff! Esse é o melhor presente de todos! Obrigada!

Falo para o ursinho sorrindo enquanto o giro pelo quarto alegremente, uma das freiras se aproxima de mim sorrindo e pergunta se estou feliz assim por causa do presente, digo que sim e corro até a cozinha com as outras crianças para tomar café, ponho o ursinho na mesa do lado do meu prato e, depois da oração matinal, comi o pão que me foi oferecido.
Fiquei conversando com o ursinho pelo resto do dia, fazendo questão de mostrar para ele toda a minha rotina e conversar sobre como as coisas aqui funcionavam, eu me sentia feliz em finalmente ter alguém para conversar durante o dia e comecei a cuidar do ursinho como se fosse meu bebê, eu queria que Jeff soubesse o quanto o presente "inutil" dele significava para mim...

A filha de Jeff (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora