Um

137 5 0
                                    

Havia crianças a correr por todo o lado. Gostava de estar ali, era calmo e os risos dos pequenos eram vibrantes e cheios de vida. O que me fazia relembrar o facto de que já devia estar na escola. Mas só de me lembrar a minha mente retorcia-se com a ideia. "Vá tu consegues!" pensava eu tentando incentivar a mim própria a percorrer o longo caminho entre o parque e a escola.

Quando me levantei parecia que já me tinha esquecido de como era andar e a única coisa que conseguia era uma espécie de andar com um rastejar de quem estava a morrer. 

Assim que cheguei ao portão da escola tive de cair logo ali à frente com metade da escola a ver. Claro, como se eu pudesse pelo menos uma vez na vida não passar uma vergonha. Engoli a seco e abaixei-me muito apressadamente para apanhar os livros pesados que saíram da mochila mal fechada durante a queda. E foi aí que a vi. Uma rapariga elegante completamente vestida de preto, com um cabelo negro até ao fundo das costas, com um olhar profundo e claro, usava umas botas de plataforma com pelo menos sete centímetros, umas meias de renda e uma camisola com um símbolo estranho e que era tão comprida que nem dava para ver se tinha alguma coisa por baixo dela. Olhava-me tão fixamente que parecia que conseguia ver por dentro da minha alma. E o que foi alguns segundos, parecia andar em câmara lenta parecendo que tinha durado horas.

Passou alguém à minha frente que me libertou da hipnose e me relembrou que ainda estava atrasada para as aulas. Acabei de apanhar as minhas coisas e corri para sala de aula que se localizava no terceiro andar da escola. Bati e entrei pedindo desculpa ao professor. Estava com a voz ofegante e rouca com tantas escadas que pouco se ouviu das minhas palavras. Sentei-me e tirei as coisas que estavam guardadas na minha mochila preta com fatias de pizza estampadas por todo o lado. 

-Talvez te queiras apresentar? Como chegaste atrasada faltaste às apresentações. - Disse o professor Miguel (segundo dizia o horário). Foi aí que lembrei que era o meu primeiro dia de aulas.

Levantei-me e disse - O meu nome é Amy e tenho quinze anos. - o professor assentiu e continuou aula sobre história de arte. Pareceram todos surpreendidos com a minha idade mas não os culpava, não era normal alguém com a minha idade já estar no décimo segundo ano. Culpa do meu tão avançado cérebro avaliado por especialistas que nem sabia como ter uma conversa civilizada com alguém. 

Voltei a sentar e fiquei a olhar para a janela o resto da aula a pensar quem era aquela rapariga que tinha visto no portão e que fez a minha pele arrepiar.

NightmareOnde histórias criam vida. Descubra agora