Levantei-me da cama mudada para ir buscar o computador colocado posteriormente na secretária e liguei-o quando me sentei novamente. Escrevia com dificuldade pelo medo que percorria o meu corpo e me fazia tremer naquele momento, mas de alguma forma consegui. Naquela noite talvez tenha visitado cerca de trezentos sites sobre sonhos. O que foi completamente inútil. Ou as teorias que encontrava eram sobre loucos com medo de dormir ou era sobre um idiota qualquer que julga ter visto o cão dele que morreu à anos a insulta-lo em língua de humanos.
-AMYYYYYY VAIS DEMORAR MUITO? - disse a minha mãe num tom de voz demasiado alto para mim e provavelmente para a vizinhança inteira.
-Já me levantei, tem calma!
Vesti a primeira coisa que me apareceu nas gavetas desarrumadas da minha cómoda que consistia em roupa demasiado fora do normal comparada às roupas das outras raparigas da minha idade. O que assustava um poucos as pessoas ao meu redor e daí eu ter apenas 2 amigos e meio - o meio é o Dylan que diz que não é meu amigo mas passa a vida atrás de mim. E os outros dois são a Mary e o Camelo (que como é obvio não é o nome verdadeiro dele, mas assim o chamei a vida toda e assim vai ficar).
A viagem para a escola foi calma, mesmo com a minha mãe a cantar AC/DC ao meu lado. Porquê que eu não podia ter uma mãe normal? Pensado bem, talvez fosse melhor assim porque a) podíamos falar de musica e outros assuntos que normalmente filhas não conversam com as mães b) posso dizer palavrões à beira dela que ela diz que são só reforços da ideia a transmitir e c) ela não reclama com a minha maneira de vestir porque se veste pior que eu.
Não demorou muito até conseguir chegar ao ginásio onde tinha a minha aula preferida: educação física! E isto foi com a máxima ironia possível porque vamos ser sinceros, eu pareço uma lontra a correr. Como devem saber, as lontras não correm - já perceberam a ligação?
O resto do dia passou como uma flecha, comi com o grupo do dia anterior e as aulas mesmo sendo já o terceiro dia de escola eram na sua maioria apresentações dos alunos para os professores e verse-versa. Fui novamente para casa com o Kevin que estava ainda mais de bom humor que o normal e isso é quase impossível.
- Amanhã eu o resto do pessoal vamos a uma festa, queres vir? Promento que vai valer a pena!
Pensei em recusar mas não estava num bom patamar social para recusar festas ou qualquer outro tipo de saídas. Então apenas assenti com a cabeça sem desviar o olhar da paisagem à frente.
- Fantástico! Eu venho te buscar e assim vamos todos para lá. Pode ser que consigas algum gatinho para ti. - Dito disto piscou-me o olho e desmanchou-se a rir. Ele não estava bem mesmo, notava-se. - Estou só a brincar, não precisas de me matar com o olhar.
Só lhe sorri e disse que tinha de ser muito giro o tal gatinho . Despedi-me dele assim que cheguei à porta de minha casa e saí do carro.
Não havia trabalhos de casa por ainda estar no inicio do ano letivo então decidi apenas tomar banho e fazer o jantar a seguir. Subi as escadas para ir para o quarto com imensa preguiça nos meus movimentos, o que fez levar eternidades a chegar ao meu destino. Atirei com a mochila e a roupa que se encontrava no meu corpo para cima da cama não feita e entrei na casa de banho.
Foi um alivio sentir a água numa temperatura perfeita a bater na minha pele nua. Ao passar as mãos pelo meu corpo magro e pálido ouvi um som estranho que me levou a desligar a água imediatamente. Os barulhos não pararam e assim saí do quarto com uma toalha enrolada no tronco e um taco de basebol entre as mãos erguidas. Desci as escadas com cuidado, atravessando o corredor até à cozinha que era de onde vinha o som.
- AU! MAS QUE CARALHO, QUAL É A TUA? - O rapaz que se encontrava a vasculhar o meu frigorífico, vira-se para mim com uma mão na cabeça e com num saco de batatas fritas de presunto na outra. - Hey Stefan, é esta amostra de pessoa que vamos ter de treinar? Estou lixado assim, estou. Ainda por cima é retardada e não consegue fechar a boca, boa.
Dito isto, entrou um rapaz na cozinha com ombros super largos e musculados - Olá Amy, eu sou o Stefan e este que acabaste de conhecer é o Joe. É um prazer conhecer-te.
- MAS QUEM RAIO SÃO VOCÊS E O QUE FAZEM NA MINHA CASA? - Ambos olharam surpreendidos para mim como se não esperassem aquela resposta.
- É preciso fazer um desenho? Ontem à noite não tiveste um pesadelo qualquer e não morreste quase? Calhou-nos uma com o cérebro de uma porta, merda.
