Coragem

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– Fujam daqui! Nós cuidaremos dele – a tola voz infantil levemente apreensiva, que tendia para o comando, falou.

– Não! É uma missão suicida! – tentaram alertar, em vão.

– Confiem em nós, vencemos ele uma vez antes... – a fala infantil, numa falha tentativa de soar masculina, tornou a dizer.

– E vamos vencê-lo novamente – uma voz feminina conhecida, mas ainda assim nostálgica completou a frase.

Esse sonho novamente…

– Quando eu puser minhas mãos em vocês, vou desmontar suas moléculas!

Vamos, acorde, é apenas um sonho. Apenas mais um sonho indesejável.

Mas sua linguagem metálica e inumana não me permitia acordar.

– Me enganaram pela última vez!

Não, não, não! Está chegando.

– Pronto! Estou com as crianças, acho que vou acabar com um deles apenas por diversão.

Mais uma vez, não...

Quase como se eu pudesse voltar a sentir suas mãos apertando meu corpo, ao mesmo tempo em que sentia meus ossos estalarem contra a minha irmã; ele pressionava-nos com tamanha força apenas para ter a certeza de que não escaparíamos, ele queria ter o total controle sobre nós e de que não seríamos capazes de usarmos alguns de nossos truques outra vez.

Mas, o pior de tudo era ser forçado a olhá-lo, aquele tom de dourado que eu não suportava vindo daquela criatura de um olho só.

– Uni... duni... tê... – os olhos da criança sendo esmagada não conseguiam deixar de focar naquele enorme olho que alternava entre um pinheiro e uma estrela cadente, o menino transbordava tamanho desespero que até o mínimo ato de piscar era impossível pra ele – Salame mingue...

Ele estava escolhendo; o monstro estava escolhendo quem iria morrer naquela tarde e o garoto obviamente não queria ser o escolhido. Dividido entre a vontade de viver e o temor de perder sua irmã; o medo por tudo era o que prevalecia.

– Por favor, Dipper! Eu não quero morrer!

– O sorvete colorê...

Não, ele não estava selecionando ninguém, ele já havia escolhido antes mesmo daquela, até então inocente, música começar.

– O escolhido foi... – o ar faltou, expelido de seus pulmões à força; a garganta fechara, impedindo que o oxigênio fosse reposto. Ele sorriu, mesmo sem boca ou alguma testemunha para provar, o menino viu, o ser sorriu para ele.

– Você!

Não!

Com puxão de ar, o monstro desapareceu e foi substituído por um cenário escuro: meu quarto. Foi a conclusão que eu havia chego após meus olhos se acostumarem com a escuridão e as formas dos móveis se tornarem visíveis.

O puxão de ar instintivo deve ter sido tão forte que além de me forçar a acordar, fez com que meu corpo fosse impulsionado para frente, fazendo-me sentar. Ofegante, passei minha mão trêmula por meu cabelo úmido de suor e limpei as outras gotas  que ousaram cair.

Perdi a conta de quantas vezes essa mesma lembrança havia voltado para me assombrar, trazendo de volta à tona aquele mesmo verão em que a morte esteve tão próxima. O dia em que eu considerei deixar minha irmã morrer à ser eu o escolhido e alguma coisa dentro de mim dizia que Bill sabia disso.

Diferente daquela tarde, no meu pesadelo, meus tivôs não interferiram em sua seleção, pelo contrário, eles não faziam parte daquilo. Eram apenas Mabel, a criatura e eu.

Orgulho [Billdip - Yaoi]Onde histórias criam vida. Descubra agora